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“O encanto acabou” - famílias brasileiras contam como o tiroteio em Parkland afetou suas vidas
Um ano depois que o ex-aluno Nikolas Cruz entrou na Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland, matando 17 pessoas, muita coisa mudou, embora haja ainda uma longa lista de melhorias. Famílias obtiveram ajuda psicológica, as escolas estão com melhor infraestrutura, mais policiamento e mais atenta a alunos problemáticos. No entanto, para mães brasileiras que escolheram Parkland recentemente como um lar ideal, conhecido pela segurança e principalmente pelas boas escolas, provavelmente nada será como antes. “O encanto acabou”, disse a paulistana Daniela Lemos, mãe de Vitor de Castro, 19 anos, e Manuela, de 14. Vitor se formou em junho de 2018, meses depois do ataque do dia 14 de fevereiro. Manuela entrou na High School este ano. Por isso, Daniela consegue comparar a escola antes e depois do massacre. Para ela tudo mudou. O que antes era uma escola cheia de glamour, hoje tem outro clima. Os alunos vivem com medo e um excesso de treinamento, o que os estressa. Do ano letivo de 2018 para o de 2019, houve uma queda de apenas 19 alunos na escola, de acordo com dados do distrito escolar de Broward. O total de alunos atualmente matriculados na Stoneman Douglas High é de 3.360. No entanto, a vontade do grupo de mães brasileiras de Parkland, que têm aproximadamente 25 filhos matriculados na escola, era de tirar seus filhos da escola imediatamente. Muitas pensaram em voltar para o Brasil, mas somente duas foram embora.
Mas tanto a filha de Daniela quanto a de Flávia Soares, Júlia, de 15 anos, não quiseram sair. “Meus filhos que me fizeram ficar”, disse Daniela. Defesa de Nikolas Cruz busca evidências sobre acusação do tiroteio em Parkland Onde estavam seus filhos Quando Nikolas Cruz entrou na escola portando uma arma AR-15, disparou o alarme de incêndio para os alunos saírem das salas de aula. Uma menina que desceu a escada na frente, deu de cara com o atirador. Ela voltou correndo, pedindo para todos voltarem para as salas de aula. O professor de geografia Scott Beigel abriu a porta para que Júlia e mais 14 alunos entrassem. Quando foi fechar a porta, ele levou um tiro fatal. “A sala da Júlia foi a única que ficou aberta porque o professor caiu e travou a porta.
Eles ficaram todos escondidos atrás da mesa dele. Foi por Deus que Nikolas não entrou na sala... se não minha filha não estaria aqui e ele teria matado mais 15 pessoas”, disse sua mãe, Flávia. “Quando fiquei sabendo, demorei uma meia hora para conseguir falar com minha filha. Foi angustiante. Quando ela finalmente respondeu minha mensagem, pediu que eu rezasse porque seu professor estava morto. A polícia só a retirou de dentro da sala uma hora mais tarde”. Apesar de ser aluno do high school, Vitor, filho de Daniela, não estava no prédio no momento do tiroteio. Já Manuela, que não estudava no prédio onde ocorreu o massacre, estava no prédio ao lado. Mas como a polícia não sabia ainda se havia mais de um atirador, em vez de sair às 2:40pm, Manuela só saiu às 6pm. “Ninguém sabia de nada. Foi bem estressante”. EUA divulgam guia para prevenção de ataques e tiroteios em escolas Ajuda psicológica Júlia ainda está muito traumatizada, de acordo com sua mãe, Flávia. “Tivemos muita assistência do governo, ela ainda está em terapia. Agora, na quinta-feira (14) faz um ano e ela ainda não está bem”.
Na família de Daniela, o mais abalado foi seu filho mais novo, de 9 anos. Ele estuda em outra escola, mas ficou muito impressionado.
“Eu acho que o americano tem essa cultura de cultuar que é diferente da nossa. Por meses após o tiroteio havia um memorial em frente à escola com ursinhos, flores. As crianças sentiam-se em um cemitério. Estávamos fazendo um esforço de continuar seguindo em frente”, analisou Daniela, que ainda conta com ajuda psicológica. Treinamentos Júlia não quis mudar de escola. Ela tem um grupo de mais ou menos 20 amigos brasileiros que são muito unidos. “Ela gosta da escola, mas mesmo assim é muito ruim ir para a escola. Durante todo esse período houve muitos disparos acidentais do alarme de incêndio, muitas crianças entraram em choque. Esse é um processo bem complicado e eles são apenas crianças com idade entre 14 a 18 anos. Está sendo ainda um período bem complicado, mas vamos dar a volta por cima”. Daniela relatou aumento nos treinamentos, mas quase em overdose. “Os treinamentos para atirador ativo por um tempo foram quase diários. Nem sempre eles avisam que vai ter, então minha filha e seus colegas têm passado por muitas situações de stress e muitos começam a chorar”, disse. “Tanto as escolas quanto a cidade de Parkland têm agora um excesso de policiamento. Vemos polícia em todo o lugar. Isso é positivo, porém também negativo porque isso nos relembra o tempo todo do ocorrido”.
Daniela diz que sabe que seus filhos jamais gostariam de voltar para o Brasil, mas ela diz que tem vontade de pelo menos se mudar para Orlando. “Mães de Parkland” Flávia e Daniela fazem parte de um grupo de apoio de mães brasileiras, chamado “Mães de Parkland”. O grupo se formou dias após o tiroteio e o Consulado Brasileiro disponibilizou apoio psicológico, assim como o Centro Comunitário Brasileiro. Muitas famílias continuam recebendo ajuda. Mudanças Tanto Flávia quanto Daniela veem o aumento do policiamento e melhor monitoramento da segurança. Mas ainda há muitas falhas.
“Eu acho por exemplo que todos os carros que têm acesso à escola deveriam ter um adesivo de identificação, além de outros pontos. Mas o grande problema está no controle da posse de armas”, opinou Flávia. “Eu acho que deveria ser obrigatório todas as pessoas que possuem armas terem que fazer exames psicológicos”. Quando à falta de preparo da escola e da polícia para lidar com o massacre, Flávia diz ser inaceitável. “Infelizmente, isso (tiroteios) é uma coisa que existe aqui nos Estados Unidos. Então eles precisam estar preparados. Sabemos que não irá haver um desarmamento nos EUA, mas pelo menos precisa ter um controle maior de quem porta uma arma. Só falaremos em uma solução do problema quando a lei for mais
vigorosa em relação ao porte de armas. Se há treinamento dentro da escola para o caso de um atirador ativo, como não sabiam que isso poderia acontecer?” Leia mais sobre o ataque à escola nos links abaixo Famílias dos mortos no tiroteio da Stoneman Douglas receberão US$ 400.000 Após tiroteio, Marjory Stoneman Douglas High School retoma atividades Jogo de videogame que simula tiroteio em escola irrita pais de Parkland Doações para a NRA triplicaram após tiroteio em Parkland