Sul da Flórida é centro do surto de coronavírus no estado
Com determinação de fechamento de bares e restaurantes, além de praias e parques, pelo governo estadual, a rotina de milhares de pessoas mudou de uma hora para outra. Aulas tanto em universidades quanto em escolas de ensino fundamental e médio públicas estão temporariamente suspensas e continuando de forma online; trabalhadores foram designados a continuarem prestando serviço via 'homeoffice'; praias foram fechadas ao público; restaurantes e bares operando parcialmente ou fechados, toque de recolher nas ruas das cidades: tudo isso são medidas adotadas pelos governos locais para evitar a propagação ainda maior do coronavírus no estado. Brasileiros que são donos do próprio negócio, trabalham por conta própria ou para empresas contam sobre o impacto na rotina e na parte financeira, com alguns prejuízos já previstos e as estratégias adotadas para passarem pelo difícil período.Impacto nos negócios
Dona da The Flower Studio, uma floricultura em Altamonte Springs, Andreia Boscato Muller, conta que desde a semana passada está lidando com cancelamentos e remarcações das vendas para eventos, casamentos e pedidos para o dia a dia.Acomodação gratuita e voo de volta ao Brasil: empresas ajudam brasileiros na FL
"Estou cortando o máximo possível de gastos desnecessários, sendo flexível e tendo compaixão com todos os meus clientes que estão sendo obrigados a remarcar os eventos. São casamentos e festas que estavam sendo organizados há mais de 12 meses. Ontem mesmo tive quatro eventos que remarcaram para setembro, outubro e novembro", conta. E como trabalha com produtos perecíveis, não tem como estocar para daqui a alguns meses. Por isso, a tática encontrada por Muller é continuar atendendo os eventos da semana e adiando pedidos aos fornecedores. "Então, eventos para esta semana já estão pagos e as flores já chegam esses dias. Não tem como cancelar os pedidos com os produtores e atacados. É uma bola de neve. Estou resolvendo um problema de cada vez", salienta. A empresária explica que cada evento cancelado pode gerar um prejuízo de até US$3.000 contando todos os gastos com horas trabalhadas, pagamento dos ajudantes, motorista, etc. Por isso, a estratégia adotada por ela está sendo tentar ao máximo negociar uma remarcação ao invés do cancelamento dos eventos agendados. "O prejuízo para remarcar é menor para todos os envolvidos. Até agora tivemos sucesso, mas hoje mesmo já recebi outro email de uma noiva com evento para outubro que está muito preocupada e pode cancelar. Estamos todos juntos nesse barco. Estamos em estado de emergência e ninguém pediu para ser colocado nesta situação. Precisamos trabalhar juntos para achar uma solução", pondera.Viagem cancelada
Ficar em casa sem trabalhar ou trabalhando parcialmente, com crianças sem escola e sem poder sair para locais com grande número de pessoas como shoppings e restaurantes. As atividades extra-curriculares das crianças e adolescentes também foram canceladas. Além disso, muitas famílias que estavam com viagens marcadas para aproveitar as férias da primavera precisaram mudar os planos, como Muller, que estava com viagem marcada para Nova York com os filhos e cancelou. "Estávamos com viagem marcada para NYC mas cancelamos por causa do vírus. New York está parada. Assim como Orlando também com o fechamento dos parques. Está atingindo a todos", analisa."Se o governo determinar que temos que fechar, fecharemos"
Proprietária de dois estabelecimentos brasileiros bastante frequentados no sul da Flórida, o restaurante Picanha Brazil, em Boca Raton, e da pizzaria Dipizza, em Parkland, Ivanete Dombrowiski conta que reforçou a higiene dentro dos estabelecimentos e que por enquanto continuam funcionando normalmente. "Reforçamos a higiene nos ambientes, colocamos mais pontos de álcool gel disponíveis, são feitas limpezas extra das mesas, cadeiras, maçanetas das portas e toda superfície de contato direto das pessoas. Também colocamos as mesas mais afastadas umas das outras. Estamos fazendo a nossa parte", afirma. Segundo Dombrowiski, houve aumento dos pedidos de delivery e de pessoas que vão até o local, mas pedem para levar para casa. Prevendo um possível período de crise, a empresária conta que orientou os funcionários a evitarem gastos desnecessários, caso tenha que fechar os estabelecimentos e dispensá-los por um período. "Alguns inclusive cancelaram viagens que pretendiam fazer", afirmou."Vamos passar por mais essa porque somos brasileiros"
E acrescenta que estão bem conscientes da situação, mas otimistas. "Preparados para crise, nunca ninguém está, mas vamos passar por mais essa porque somos brasileiros e sabemos bem o que é viver com e superar crises. O vírus pode estar em qualquer lugar, estamos fazendo o possível e vamos funcionar até quando der, mas é claro, se o governo determinar que temos que fechar, fecharemos", finaliza."Medo de ser infectado ou infectar alguém"
"Meu marido é eletricista e está sem poder entrar nas casas de clientes por medo de ser infectado ou infectar alguém. Eu trabalho em um daycare e o número de horas no meu trabalho reduziu drasticamente. Todas as professoras estão trabalhando em sistema de rodízio para que ninguém fique sem pagamento algum. Temos um filho de cinco anos, que como todas as crianças, estão fora da escola por conta do vírus. Estamos fazendo o que podemos para seguir nesta crise", relata Vanessa Castilho, moradora de Deerfield Beach."Não podemos parar e ficar em casa se tem criança em perigo"
Já para Elise Marie Silva, que trabalha como investigadora de Proteção à Criança para o estado da Flórida em Sarasota, a rotina de trabalho não tinha mudado até a quarta-feira, 18. Para ela, que trabalha direto nas ruas e em contato com famílias, foi determinado que trabalhe de casa cumprindo audiências por telefone com juízes. "Ninguém pode ir ao tribunal pelos próximos dias", destaca. E explica ainda que as denúncias tendem a aumentar com crianças em casa em período integral. "Quanto mais crise, mais abuso de criança por causa do estresse pelo que passam os pais", conta a brasileira. Segundo Silva, ela também precisou cancelar uma viagem que faria para New Orleans e terá reuniões e treinamentos via Skype nas próximas semanas."Podemos ficar um mês sem trabalhar"
Fernanda Nis mora em Boca Raton e conta que já teve vários cancelamentos de serviço na companhia de limpeza em que trabalha. O marido trabalha em uma empresa de construção que também está tendo cortes nos serviços. Com menos trabalho, ela já analisa que vai precisar cortar alguns gastos e ficar em casa com a filha, que estuda em uma escola particular e ainda continua no ritmo normal de aulas. "Eu vou ter que parar de trabalhar e tirar minha filha da escola porque é particular e o dinheiro não vai dar. Meu esposo vai continuar trabalhando, mas se também for cancelado de vez, as coisas podem se complicar. Podemos ficar um mês sem trabalhar, temos comida, remédios e dinheiro para esse período. Mais que isso não sei como vamos fazer", desabafa.