Amor é algo do qual se fala muito, e se vive sonhando com ele. Todos, não há uma só criatura humana, que não busque amor. Filmes, fantasias, propaganda e histórias de todos os tipos têm no amor seu principal personagem. Entretanto, quantos podem clamar ter realizado o sonho? Ter incorporado o amor e estar vivendo-o aquele amor que idealizaram?
Amar, na verdade, é complicado. Cria problemas, tira da zona de conforto, confunde e, não último, dói. E pode doer mais do que dor de dente, muito mais do que dor de parto. O amor, quando não é um encostar-se no outro, um ter pena de si e/ou do outro, uma troca de favores e interesses em comum, dá trabalho. E muito trabalho.
Porque o amor não é uma escolha. Ele simplesmente acontece. Não se ama algúem porque a pessoa é rica, bonita, têm os mesmos interesses que a gente, tem pais semelhantes aos nossos, pertence ao nosso grupo de amigos, tem nossos hábitos, é forte, dócil, etc. Se ama por que se ama. Ponto. É conveniente? Às vezes não. É fácil? Nem sempre. Dá paz e tranquilidade de espírito? Deixo a vocês a resposta.
O amor pode ser um xeque-mate para o ego. Ego e amor têm, aliás, uma relação conturbada. É aí que entra o arregaçar as mangas. O amor quando vem é como uma luz que brilha na escuridão. É enxergar entre as névoas o potencial, a terra encantada. Chegar lá, se estabilizar lá e criar um mundo sólido e estável é por conta do ego, ou seja, de cada um de nós. É o trabalho individual, o investimento de tempo e energias que faz a diferença.
Amor não é um produto que, se for defeituoso, devolve-se para a loja. Quando o amor pega, não larga, não há acetona para tirar a mancha, não há botão de “delete”. As pessoas que buscam o amor para encontrar conforto e alguém que cuide delas serão as primeiras a se desesperar. O sonho de chegar em casa e encontrar paz, abraços que acolhem, sorrisos que se abrem e muito carinho é a promessa. Depende de você realizá-la, porém. Aliás, depende de duas pessoas. Não cai do céu. Há uma poesia belíssima que apresenta o amor nu e cru, sem véus e sem marketing. Aquele amor que é uma pedra no sapato, mas também glorioso, potente e enternecedor.
É O QUE É de Erich Fried
É absurdo diz a razão É o que é diz o amor
É infelicidade diz o cálculo É somente dor diz o medo É vão diz o juízo É o que é diz o amor
É ridículo diz o orgulho É atrevido diz a prudência É impossível diz a experiência É o que é diz o amor (tradução livre)
Dedico essa poesia a todos os que têm coragem e humildade para amar.
*Adriana Tanese Nogueira
Psicanalista, filósofa, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto
www.adrianatanesenogueira.org