A Polícia, o assassino, os pais do criminoso, os pais das vítimas, a sociedade?
Nenhuma das alternativas anteriores e todas as alternativas anteriores.
Mais um crime que abalou o Brasil, com duas adolecentes de 15 anos sendo atacadas, uma morta e outra gravemente ferida. E um jovem, Lindembergue Alves, de 22 anos, imerso num drama de loucura passional, marcado para morrer pelos que juram, dentro e fora da cadeia, que o assassinato de Eloá Pimentel não ficará impune.
O show de incompetência foi total, bizarro. Seria cômico se não fosse trágico.
Num Brasil onde já não há limites para quem tem mais de 12 anos – muitas vezes, até com menos idade – e onde o “controle familiar” parece ser uma vaga lembrança num passado remoto - as vidas desses três jovens encontrou o mais tenebroso dos destinos: morte inútil, vazia, inexplicável e mais do que tudo, inaceitável.
Para quem não acompanhou a história que paralizou o Brasil nas duas últimas semanas, um breve resumo: Lindembergue amava Eloá, que por sua vez já não queria mais nada com ele. Nayara, também com 15 anos e melhor amiga da vítima, estava com a amiga e mais dois amigos na casa de Eloá, quando, Lindembergue, possesso de ciúme e inconformado com o romance desfeito, invadiu a casa, liberou os rapazes e também Nayara. Ele queria apenas “se vingar” da amada que o rejeitara.
O drama já durava cinco dias. O desfecho quase todo mundo já sabe. Eloá, morta. Nayara com o rosto desfigurado e Lindembergue “jurado” de morte até por seus hipotéticos futuros “colegas” de cela.
O drama de amor adolescente do ABC pauliats tem ingredientes de Shakespeare misturados à realidade de “Cidade de Deus”. E que ninguém saque de pronto o argumento de que isso “só aco ntece no Brasil”. Nesse caso específico, as condições existentes em torno dos protagonistas dessa inaceitável tragédia estão vivamente presentes em qualquer lugar desse chamado “mundo moderno”.
Longe de mim ser um moralista ou pseudo-moralista barato, desses que comem feijão e arrotam camarão. Mas é inegável que grande parte da culpa nesse episódio cabe ao total desinteresse, incompet6encia e descontrole com que os pais de hoje em dia educam – será que ainda podemos usar essa bendita palavra? – seus filhos.
Onde a ignoração reina e visceja, viscejam juntos a violência, o preconceito e a insanidade. Esses três elementos estiveram fortemente atrelados ao processo do ABC.
A Polícia errou. Ao se preocupar com “o que a opinião pública iria dizer”, desperdiçou dezenas de chances de abater ou capturar o assassino e salvar a vida de Eloá. Ou seja, o cumprimento à Lei e a prioridade da vida, sucumbiram diante do “marketing da opinião pública”. Nada mais dolorosamente “moderno”, não é mesmo?
E a mídia? Que me perdoem meus caros e queridos colegas de profissão. Mas cada vez me orgulho menos de certos setores de nossa imprensa. É inaceitável assistir de braços cruzados a imprensa ter se transforma de bastião das liberdades individuais e ponto de equilíbrio e sustentação das sociedades democráticas, em um bando de empresários de circo, “caçando” com mórbida avidez o “cadáver do dia” ou “o botox da semana”.
E quanto ao Lindembergue? Que tipo de circunstâncias de vida cercam um jovem de 22 anos em nossa sociedade, onde “educação sentimental” virou “tabu” ?
Sem dúvida os elementos passionais e humanos são mais do que óbvios e não se pode aplicar apenas equações “sócio-econômico-culturais” para tentar explicar o que passa pela cabeça de “crianças” de 15 e 22 anos. Mas é revoltante que muitos aceitem os fatos como se crime passional merecesse algum tipo de “perdão por compaixão”, sem apontar os muitos “culpados” nessa evitável tragédia.