O Departament of Homeland and Security (DHS) apontou um aumento de imigrantes indocumentados que cruzaram a fronteira sul no mês de outubro e anunciou o envio de 150 agentes adicionais para patrulhar a fronteira no sul do Texas, onde a agência federal registrou crescimento principalmente no número de crianças desacompanhadas e famílias que tentavam entrar no país sem autorização, em sua maioria provenientes da América Central. Acredita-se que esse aumento se deu com a possibilidade (que foi concretizada) de vitória do candidato republicano Donald Trump, que prometeu reforçar a fronteira dos Estados Unidos com o México para barrar o tráfico de drogas e também a vinda de imigrantes de forma ilegal. Dessa forma, mais estrangeiros tentam entrar nos Estados Unidos antes que o presidente eleito assuma o cargo e cumpra com sua promessa. No entanto, a previsão é que os oficiais permaneçam em seus postos pelo menos nos próximos dois meses, período em que candidato eleito, assumirá a presidência, em 20 de janeiro de 2017.
Brasileiros arriscam a vida na travessia
Dezenove mil dólares. Este foi o valor que o mineiro Jefferson Eduardo de Oliveira, 20 anos, decidiu pagar pela travessia aos Estados Unidos pela fronteira com o México. Porém, pelo sonho de morar na América para juntar dinheiro Oliveira acabou pagando com a própria vida. O jovem morava em Sobrália, interior de Minas Gerais. Desempregado, ele estava trabalhando no sítio do pai. Recém-casado com Tainá Teixeira de Assis, de 19 anos, e mesmo sabendo dos riscos, Oliveira decidiu tentar a arriscada travessia pelo México, na esperança de melhorar as condições de vida do casal.Em entrevista ao GAZETA, Tainá relatou que a ideia era cruzar a fronteira e seguir até Boston, onde ele moraria com um tio e, depois de um tempo, traria a esposa. “Mas, já no caminho, ele me disse que não estava gostando e que eu não iria da mesma forma”, relatou. O pai do jovem, Reginaldo de Castro Oliveira, ofereceu ao filho o pagamento das taxas para tentar um visto de turista, mas ele não quis. “Ele não quis tentar porque alguns amigos tentaram e não conseguiram. Ele nem quis arriscar”, conta. No passado, Reginaldo chegou a morar nos EUA por um ano e dois meses, após também entrar pela fronteira. Pela sua experiência é que o pai não queria que o filho passasse pelo mesmo.
Via México
O corpo de Oliveira foi encontrado no dia 16 de novembro , às margens do Rio Bravo, na cidade mexicana de Novo Laredo. Ele integrava um grupo de seis brasileiros, a maioria da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Quatro deles foram presos por agentes da Imigração norte-americana e levados para o Texas, e suspeita-se que o quinto seja o 20º corpo encontrado nesta semana, às margens do mesmo rio, ainda sem identificação. A família de Oliveira suspeita que o mineiro tenha sido vítima de homicídio e que teve o corpo jogado no rio. “Ele não estava com nada de valor, porque disseram que não poderia levar nada. Até roupas ele deixou para trás. Não sabemos o motivo, mas pode ser que ele morreu em tentativa de extorsão. Pediram dinheiro e ele não tinha. Ele só estava com o celular e a roupa do corpo”, conta a esposa. A família realizou uma campanha pela internet para custear o traslado do corpo, que deve seguir para o Brasil no final desta semana. O tio de Oliveira que mora em Boston está acompanhando as investigações. Até o momento, a polícia não informou o que provocou a morte do jovem.O perigoso esquema de “coiotes”
Após uma tentativa frustada de conseguir o visto de turista para os Estados Unidos, em 2003, o mineiro Roberto Silveira*, 48 anos, enfrentou uma viagem de oito dias, desde sua saída da cidade de Açucena, no vale do Rio Doce (MG) até Marlborough, em Boston (MA). Silveira conta que pagou, na época, $9 mil dólares pela travessia. Apesar de ter chegado com vida, ele afirma que não recomenda a ninguém que faça o mesmo. “Muito arriscado. A gente fica nas mãos dos agenciadores sem saber o que farão”, relata. Segundo o mineiro, o esquema envolve gente de toda parte. Da região leste de Minas, Silveira foi de carro com um grupo de 11 pessoas para São Paulo, onde um casal hospedou o grupo até o embarque para a Bolívia, onde aguardou alguns dias e seguiu para Cidade do México, de avião. “Fomos orientados a entregar o passaporte na imigração mexicana, com uma nota de $100 dólares dentro”, relata. O grupo seguiu deitado numa van até Ciudad Juarez, onde ficou num hotel por quatro dias. “Eles só diziam pra gente não colocar a cabeça pra fora do quarto, porque poderíamos ser vistos. Estavam aguardando o dia propício para atravessarmos”, disse. Silveira conta que o grupo foi orientado a atravessar a fronteira caminhando sempre junto até chegarem a outro “coiote” brasileiro, que os pegaria em El Paso, no Novo México. Apertados numa van, o grupo seguiu até Nova York e de lá para o destino final em Marlborough. “Tivemos que correr uma parte, atravessar um rio raso e passar por uma cerca. Tudo foi de madrugada e não havia sinal de polícia, mas eles ficam tensos e dizem o tempo todo para não darmos bobeira e não demorarmos”, conclui. “O medo de ser morto é constante, pois estamos nas mãos de desconhecidos”, conclui.ViaBahamas
Atualmente, um outro grupo de brasileiros está desaparecido nas Bahamas desde o início deste mês, conforme informações de autoridades de Imigração. A suspeita é de que os brasileiros tentariam chegar até Miami de barco. Os últimos contatos dos integrantes com familiares aconteceram no início do mês e ainda não se tem notícias do que aconteceu. No início deste mês, outros 23 brasileiros que desembarcariam de férias em Nassau, nas Bahamas, foram impedidos de entrar no país e deportados após denúncia anônima ter apontado suspeita de que passageiros do voo 196 da Copa Airlines tentariam emigrar das Bahamas ilegalmente para os EUA.Rejeição na concessão de vistos pode triplicar
A forte crise econômica no Brasil, com dois estados já tendo decretado Calamidade Pública (Rio de Janeiro e Rio da Grande do Sul) e a consequente ‘fuga’ de insatisfeitos para outros países, sobretudo Europa e EUA, são apontados como os principais motivos para um cenário que não se via há algum tempo: muitos brasileiros tendo o pedido de visto americano negado. De acordo com levantamento da Folha de São Paulo, o índice de rejeição de vistos dos EUA para brasileiros, em 2016, deve registrar o triplo do ano passado e o quíntuplo de 2014. Segundo o jornal, cerca de 15% dos turistas brasileiros este ano terão suas entradas nos EUA, contra 5,36% em 2015 e 3,2% do ano anterior. Este percentual pode não ser exato, uma vez que os índices oficiais serão apresentados no dia 28. *O nome do entrevistado foi alterado a pedido do mesmo. **Colaboração de Daniel Galvão