A presença, na semana passada, de Sérgio Xavier (Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura) , Adolpho Ribeiro Schindler Netto (Chefe de Gabinete do Ministério da Cultura) e de Regiane Miciano Oliveira (Assessora de Programas e Projetos) com o objetivo de assinar o protocolo de intenções com o Broward Center for The Performing Arts teve um significado de histórica importância para as relações culturais não só da Flórida, mas dos Estados Unidos, com o Brasil.
O protocolo antecede a vinda, em novembro, do Ministro Gilberto Gil, que assinará o convênio que transforma o BCPA num agente de disseminação da cultura brasileira nos Estados Unidos, a partir do Sul da Flórida, proporcionando recursos de marketing, administração e suporte logístico a todos os núcleos dos Pontos de Cultura Brasileira apoiados pelo Ministério nos Estados Unidos.
Não é uma conquista pequena.
Há seis anos o Broward Center for the Performing Arts, sob o comando de Mark Nerenhausen e com irrestrito entusiasmo de Teri Gorman iniciaram um processo de apoio à cultura brasileira que gerou a vitoriosa série “Brazil Night” e o apoio já há 4 anos, do Brazilian International Press Award.
Este ano, a realização do Forum State to State – Focus on Brazil, uma parceria do Broward Center com a Nova University, abriu os olhos das autoridades culturais brasileiras para o enorme potencial representado pelo BCPA.
É muito difícil, no complexo e burocratizado universo das instituições, sejam brasileiras ou norte-americanas, se vivenciar um “alinhamento de idéias e inspirações” que motivem um plano que seja, ao mesmo tempo, ambicioso e com alto potencial de efetividade.
O projeto “Pontos de Cultura”, uma das prioridades da gestão do Ministro Gilberto Gil, é baseado num dos mais simples e ao mesmo tempo mais revolucionários, conceitos de suporte e incentivo a atividades culturais brasileiras.
A idéia é fazer com que atividades ou núcleos culturais já existentes, iniciativas da própria comunidade, sejam apoiados de forma financeira, material ou intelectual (planejamentos, estratégias, networking) pelo projeto “Pontos de Cultura”.
Ou seja: um grupo de dança, uma central de artesanato, um centro cultural, uma academia de capoeira, uma associação comunitária, enfim, podem se tornar “Pontos de Cultura” em qualquer parte do Brasil. Já são centenas em funcionamento dentro do projeto em 2005 e o número poderá superar 1.000 até o final da gestão do atual ministro.
O avanço desse projeto para o âmbito internacional é mais uma prova da visão aberta de Gil e sua equipe. Já estão encaminhados ou em fase inicial de operação, pontos na Europa, Japão e aqui nos Estados Unidos as articulações iniciais apontam para seis desses Pontos de Cultura – Boston, New York, San Francisco, Chicago, Washington e Miami.
O potencial, devido ao tamanho da comunidade brasileira nos Estados Unidos ser a maior entre as existentes no mundo, é que esse número duplique para 12 Pontos de Cultura, devido a interesse já demonstrado em Danbury (Connecticut), Atlanta, Seattle, Las Vegas, Newark (New Jersey) e Cape Cod (Massachusetts).
Ou seja: em meio a uma crise política, o governo Lula revela que, pelo menos no âmbito da Cultura, o Brasil finalmente tem políticas que podem, de fato, quebrar uma longa tradição de imobilidade, cartelismo e clientelismo. O Projeto Pontos de Cultura é desenhado da forma mais abrangente e democrática, sem entretanto abusar do “intervencionismo” governista e muito menos utilizar essa estratégia para disseminar “clientelismo político”.
Assistí, pessoalmente, em New York, à apresentação do projeto feita pelo Ministro Gilberto Gil na Universidade de Columbia e fiquei impressionado com a sincera paixão do Ministro pelo potencial desse projeto. Tive a chance até de, durante esse evento, que teve uma platéia lotada em sua maioria – vale a pena ressaltar – de jornalistas e agentes culturais norte-americanos, ressaltar a Gil o ineditismo de um projeto cultural brasileiro que levasse em conta este outro “Brazil” que vive fora da pátria mas que dela jamais se desliga ou desligará.
Acho que é muito importante fazer chegar às pessoas que porventura estejam lendo este editorial, o quanto apaixonado pela cultura brasileira é também o CEO do Broward Center for The Performing Arts e sua parceira nesses projetos, Teri Gorman.
Estes dois intelectuais e agentes culturais norte-americanos, entre os mais respeitados e decisivos na impressionante malha dos Performing Arts norte-americanos, “compraram” a briga da Cultura Brasileira, em seus formatos mais sérios e conseqüentes, de uma forma que gerou até controvérsias e protestos de outras comunidades.
A estas comunidades que não têm a visibilidade cultural que desejariam ter, o BCPA tem sempre respondido com um desafio: sejam competentes e trabalhadores como os brasileiros, proponham idéias sérias e de qualidade, que aí o espaço surgirá.
A parceria Ministério da Cultura-BCPA vai ser celebrada em altíssimo estilo, no final de semana em que se realizará a 6a. Brazilian Night, com ninguém menos que Milton Nascimento, um dos mais respeitados nomes da música popular em todo o mundo e um dos dez mais importantes compositores/cantores da história da música brasileira.
Milton é um daqueles nomes sobre quem não se precisa falar muito. É uma legenda.
Gol de placa para a cultura brasileira. Gol de ouro para a comunidade brasileira nos Estados Unidos.