
Já não é novidade que muitas brasileiras, assim como várias mulheres de outros países, viajam a Miami para ter o bebê em solo americano. A maioria o faz por um motivo principal: a dupla cidadania, que abrirá as portas no futuro tanto para o filho quanto para os pais. No entanto, esse tipo de negócio tem chamado a atenção das autoridades americanas.
Empresas especialistas nesse serviço estão se expandindo pelo país e a clientela vem aumentando. Embora o chamado "turismo de maternidade" não seja ilegal, ele está sob a mira de investigações. Não há lei proibindo a viagem de grávidas e as companhias aéreas costumam pedir apenas um atestado de passageiras em estado avançado de gravidez, o que facilita viajar como turista comum.
Embora ainda não se tenha um número exato de estrangeiras que vieram aos Estados Unidos somente para dar à luz e depois retornaram ao país de origem, os recentes problemas políticos, econômicos e sociais no Brasil estimularam o aumento do número de pessoas de melhor condição financeira que buscam ter filhos americanos.
As agências organizam tudo, desde orientação à documentação, acompanhamento pré e pós-parto e algumas, inclusive, auxiliam com os documentos da criança, que já recebe o passaporte americano assim que nasce. Os valores cobrados das estrangeiras geralmente costumam ser os mesmos oferecidos às americanas na rede privada e variam dependendo do tipo de parto e do hospital.
Miami Mama

O serviço se tornou um “negócio lucrativo” para algumas empresas, que chegam a obter quase $100 mil dólares por parto. No dia 21 de junho, a Miami Mama LLC, em Hallandale Beach, virou alvo de investigação pelo Federal Bureau of Investigation (FBI).
Agentes apreenderam material da agência especializada em fazer partos de grávidas estrangeiras, especialmente de origem russa e chinesa, que optam por ter seus bebês na América com a intenção de obter cidadania. Os agentes percorreram os escritórios e apreenderam várias caixas de arquivos e papéis.
A empresa, que atua na Flórida desde 2009, está legalmente registrada e oferece pacotes que vão de $7 mil dólares ao VIP, estimado em mais de $49 mil dólares, incluindo todos os medicamentos e procedimentos que acompanham o parto. Além dos serviços médicos, dependendo do pacote escolhido e pagamento extra, a agência também ajuda os pais a encontrarem moradia, abrir contas bancárias e tirar documentos como o Social Security, certidão de nascimento e outros documentos necessários para a criança, segundo consta no site.
Durante a operação do FBI na semana passada, o gerente de logística da Miami Mama, Evgeny Kovtunenko, foi preso acusado de fraudar documentação entre março de 2013 e agosto de 2015, período em que emitiu declarações falsas para obter passaportes para crianças, alegando ter testemunhado “non-applying parentes” na assinatura da declaração de consentimento. Kovtunenko também é acusado de cometer crimes nos condados de Broward e Miami-Dade, segundo o site NBC Miami.
Segundo autoridades, a lei de cidadania de nascimento – embora legal – está sendo usada de forma abusiva por essas empresas. De acordo com o advogado de imigração, Kyle Barella, o alvo da investigação do FBI não são as imigrantes grávidas e pobres que atravessam a fronteira sul para ter bebês nos EUA, mas sim as empresas direcionadas a estrangeiros ricos de países como a China e a Rússia, que chegam a lucrar $99 mil dólares por “parto”.
Os “bebês âncoras”
Conforme a Constituição americana, todas as crianças nascidas no país, inclusive se forem filhas de turistas ou imigrantes indocumentados, conseguem a cidadania do país automaticamente, e de acordo com as leis de imigração, filhos cidadãos americanos podem pedir a residência dos pais depois que completarem 21 anos, o que os torna uma "âncora" para que a família permaneça no país. Contrários à prática, inclusive o presidente Donald Trump, defendem eliminar a cidadania automática às crianças. Trump alega que o uso do sistema do país, como benefícios em saúde e educação por essas famílias através das crianças, precisa ser revisto.