Troca de comando inicia nova era na Disney
Michael Eisner deixou sexta-feira, após 21 anos, o cargo de executivo-chefe da Disney, companhia que tirou da crise, mas depois, segundo os críticos, quase a afundou. Eisner, de 63 anos, abandona seu cargo na companhia discretamente. Comentando as duas últimas décadas de sua vida, apenas disse que o deixaram "mais careca".
O sucessor de Eisner, Robert Iger, receberá um conglomerado midiático avaliado em US$ 30 bilhões que reúne onze parques de atrações, produções para televisão, uma sólida presença no teatro da Broadway e uma linha de cruzeiros, além dos estúdios de cinema. É uma imagem de prosperidade que esconde um futuro incerto.
O comando de Eisner foi marcado por suas disputas com Jeffrey Katzenberg. Essas desavenças são responsáveis pelo surgimento de um dos maiores rivais da Disney, a divisão de animação da DreamWorks, que tomou a liderança dos estúdios de Mickey Mouse num segmento em que este tinha supremacia.
Durante a presidência de Eisner, os estúdios Disney despediram mais de 3 mil animadores. Mas a transformação da empresa em um estúdio competitivo no ramo da animação digital ainda está para ser demonstrada. Inclusive na área da animação tradicional, os sucessos da primeira década do diretor, como "A bela e a fera" e "O rei leão", se transformaram nos últimos anos em estréias de pouco sucesso como "Nem que a vaca tussa" e "O Planeta do Tesouro", que marcam o triste fim de uma época.
Outro desafeto de Eisner podem provocar novas dores de cabeça para a Disney, a menos que Iger consiga reduzir o dano. Trata-se da disputa de Eisner e Steve Jobs, diretor-executivo dos estúdios Pixar, companhia que deu à Disney seus únicos sucessos em animação digital, num contrato que termina com a estréia de "Cars", em 2006. Iger retomou conversas abandonadas entre Eisner e Jobs para manter a associação com a empresa líder em animação digital, em vez de ganhar um novo rival.
Surpreendentemente, uma das atitudes mais criticadas de Eisner durante sua gestão, a compra da rede de televisão ABC, adoçou sua despedida. "Uma semana mais tarde eu não poderia ter marcado esse ponto", brincou, ao receber a notícia de que a ABC se tornou, pela primeira vez em dez anos, a rede mais popular nos Estados Unidos na faixa etária entre os 18 e os 49 anos, a mais visada pelos anunciantes.
Eisner também deixa seu cargo no melhor momento do ramo dos parques de diversões, após a inauguração do novo em Hong Kong, considerado a porta de entrada ao mercado oriental. No entanto, esse ramo também apresenta problemas: os pesados investimentos na Eurodisney permanecem no vermelho e a crise turística castiga as operações nesse setor.
No campo cinematográfico, o prejuízo atinge US$ 300 milhões no último trimestre. No entanto, os estúdios esperam se recuperar com a continuação de "Piratas do Caribe" e a saga "Crônicas de Narnia", que pretendem tornar um novo Harry Potter.
Iger assume o comando de uma companhia cheia de incógnitas. A maior delas é o futuro de seu antecessor. Eisner ainda é um dos maiores acionistas da empresa, controlando 14 milhões de ações avaliadas em US$ 327 milhões. O ex-diretor executivo está analisando a possibilidade manter um escritório nos estúdios Disney. Ironicamente, pode ser o escritório deixado vazio por Roy Disney, sobrinho de Walt Disney e homem que liderou a revolta contra Eisner.