Torção gástrica, uma emergência que pode levar à morte - Saúde Animal
A cadeia de eventos acontece tão rapidamente que muitas vezes não dá tempo de salvar o cachorrinho, portanto, aos primeiros sintomas, o dono deve imediatamente procurar um hospital veterinário com centro cirúrgico apropriado.
A medicina veterinária atual consegue salvar cerca de 80% dos casos de torção gástrica. Ainda que uma mortalidade de 20% seja alta, é uma grande evolução desde a taxa de sobrevivência de apenas 25% de décadas atrás. Antigamente, um diagnóstico de torção gástrica significava quase sempre uma sentença de morte. Esse aumento na taxa de sobrevivência se deu, em parte, ao fato de que os donos e criadores de cachorros são muito mais bem informados hoje em dia, e não perdem mais tempo com remédios e manobras caseiras - elas não funcionam e só causam a perda do precioso tempo nessa emergência, quando os minutos são valiosos.
A intervenção cirúrgica, junto com medidas médicas de emergência, é necessária em quase 100% dos casos de torção gástrica. Infelizmente, mesmo com todos os tratamentos possíveis, nem sempre se chega a um final feliz. Além disso, muitas vezes, os donos escolhem sacrificar o animal simplesmente pelo fato de não poder arcar com a despesa de uma cirurgia não planejada.
Muito se especula a respeito da prevenção da torção gástrica. Anos atrás, acreditava-se que dar comida em uma superfície elevada ajudava a evitar a torção; hoje em dia, sabemos que isso pode até aumentar o risco, pois o animal engole tudo muito mais rápido, sem ter que abaixar e levantar a cabeça e o pescoço para mastigar. Esse movimento de baixo para cima faz com que o cachorro demore mais para terminar a refeição, e as pesquisas demonstram que comer mais devagar ajuda a evitar a torção. Recomenda-se, também, dar pequenas refeições com mais frequência, e não somente uma refeição grande por dia. Alguns donos usam vasilhas de comida que dificultam a apreensão do alimento pelo cão, fazendo com que ele coma mais devagar.
Existe também uma cirurgia que previne a torção gástrica. Esta cirurgia pode ser feita junto com a cirurgia de castração ou separada. A operação se chama gastropexia, e consiste em pregar o estômago do cachorro à superfície interna dos músculos da parede abdominal; assim o estômago fica estabilizado e não pode realizar a rotação.
Cães de qualquer tamanho podem sofrer torção gástrica, mas as raças grandes e gigantes e que possuem o tórax profundo são as que mais risco correm. O dogue alemão, o pastor alemão, o boxer, o akita e o weimaraner são exemplos de raças de cães com alta incidência de torção gástrica. Também já foi observado que os animais mais estressados correm mais risco de sofrer torção gástrica. Isso provavelmente se deve ao fato de que esses animais constantemente engolem ar durante o processo de arfar.
Como reconhecer os sintomas da torção gástrica? Os sintomas aparecem de uma forma superaguda, ou seja, o animal está normal e, momentos depois, está em estado de choque. Os sintomas da doença são: salivação intensa, tentativas não-produtivas de vomitar ou o vômito consiste somente de saliva ou espuma, ansiedade extrema, agitação, letargia, dor intensa, depressão profunda e choque.
O dono deve imediatamente procurar o veterinário. Nunca tente liberar o gás do estômago do cachorro por aplicação de pressão e nunca dê nada pela boca, isso só faz piorar o estado de saúde do paciente. De preferência, quando a caminho do hospital, telefone para informar sobre o estado do animal, assim o time veterinário já estará preparado quando ele chegar.
Ao chegar no veterinário, a equipe precisa tomar várias medidas, e muitas delas tem que ser feitas ao mesmo tempo, como por exemplo:
Descompressão do estômago - o gás preso dentro do estômago impede o fluxo de retorno de sangue para o coração, e é o que manda o paciente direto ao estado de choque. Ao mesmo tempo, por falta de sangue e por excesso de estiramento, o tecido do estômago começa a morrer. O veterinário e sua equipe tem que iniciar o processo de descompressão por meio de tubo gástrico e uma bomba de aspiração. Também, ao mesmo tempo, soro intravenoso em altas doses tem que ser iniciados para reverter o choque circulatório. Muitas vezes um cateter intravenoso é colocado nas duas patas dianteiras, pois o volume de soro necessário é grande - e o paciente também!
Medicação para aliviar a dor e sedativos também é administrada por via intravenosa. A dor que o cachorro sente é tão forte que faz o coração bater muito rápido, causando falência cardíaca. O ritmo cardíaco alterado também tem que ser corrigido com medicamentos, e o paciente tem que ser monitorado por eletrocardiograma o tempo todo até que seja considerado estável.
Os eletrólitos do paciente também se alteram muito durante o processo de torção gástrica, e estes eletrólitos são adicionados ao soro intravenoso.
Assim que o cachorro for considerado estável, ele é levado para a sala de cirurgia, onde o estômago será colocado em posição normal. Sem a cirurgia, mesmo que o estômago volte à posição normal, existe um alto risco de que a torção aconteça de novo a qualquer momento da vida do animal. Animais que sofreram torção devem receber uma gastropexia para evitar nova torção. Sem a gastropexia, o risco de que o animal sofra nova torção é de aproximadamente 75%.
Durante a cirurgia, o veterinário avalia os danos internos e a viabilidade da parede do estômago. Existem casos em que, mesmo depois de todos os primeiro socorros, o animal tem que ser sacrificado devido à extensa necrose do tecido estomacal. O baço também pode sofrer rotação junto com o estômago, e muitas vezes tem que ser completamente removido.
Após a cirurgia, o paciente permanece no hospital com monitoramento intensivo, pois muitas vezes ele sofre arritmias que podem causar a sua morte. Somente depois de considerado estável, o cachorro poderá voltar para casa. Após a gastropexia, a incidência de torção gástrica é de 6%.
Por ser uma doença tão devastadora e com tanto a aprender sobre ela, muitos estudos ainda estão em andamento para que se entenda melhor a patofisiologia e a prevenção. A universidade TUFTS, junto com pesquisadores da Harvard e cientistas de outras instituições, está atualmente estudando fatores genéticos que podem ser causadores da torção gástrica. Se o(s) gene(s) que predispõe à torção gástrica forem identificados, será possível definir quais animais apresentam mais risco e quais devem ser submetidos à gastropexia. Estes animais também devem ser esterilizados para impedir a disseminação dos genes às futuras gerações.