Por anos e anos, as histórias de cura do médium brasileiro João de Deus atraíram visitantes do mundo inteiro para a pequena cidade de Abadiânia, em Goiás. Brasileiros de diferentes partes do Brasil, estrangeiros e mesmo brasileiros residentes no exterior em busca de cura, realizaram longas viagens na esperança da cura.
As graves denúncias desta semana de que o médium teria abusado sexualmente de mais de 200 vítimas de todo o mundo chocaram pessoas que depositaram nele e esperança de cura. Entre as pessoas que o acusam está a própria filha do médium, que move um processo contra ele em sigilo na justiça.
A fama global de João de Deus, cujo nome real é João Teixeira de Faria, explodiu quando a apresentadora Oprah Winfrey exibiu uma entrevista com ele em Abadiânia em 2012. Depois das denúncias, a apresentadora retirou o vídeo do ar.
“Eu tenho empatia com as mulheres que estão se manifestando e espero que a justiça seja feita”, disse Oprah em um comunicado.
“Eu tenho certeza que ele é um médium com muito potencial, mas não desenvolveu seu lado moral. Eu vi muitas pessoas sendo curadas lá. Eu não fui curada e acabei passando por uma cirurgia convencional para a retirada do intestino. Mas tenho certeza que fui muito ajudada, pois tive uma ótima recuperação”.
“Aquela casa não é um centro espírita. Eles são ecumênicos”, disse Rosana, que é espírita. “Eu acredito que assim como há padres pedófilos, médicos que abusam, ele é um médium sem moral. Acho uma pena”.
Longa viagem em busca de cura
Adriana Moreira, que vive em Sarasota, na Flórida, enfrentava problemas de saúde desde 2007. Em 2015, ela resolveu ir até João de Deus se consultar. “Depois de ter ouvido muitos relatos positivos até de conhecidos meus que foram e conseguiram se curar, resolvi fazer a viagem”, relata. “Fui com minha irmã, o namorado dela e meus dois filhos pequenos. Fizemos uma viagem de ônibus uma noite inteira de São Paulo até Goiânia e de lá, conseguimos um motorista que nos levou até Abadiânia”. Adriana relata que ficou chocada com as acusações. “Depois de ouvir tudo isso me senti traída. Quando estamos doentes, depositamos esperança em qualquer coisa. Fico enojada. Não me arrependo, porque foi uma viagem linda e o lugar já parece ter um poder de cura muito forte”. Adriana relata que não viu nenhum sinal de abuso quando visitou a Casa Dom Inácio de Loyola, local onde o médium atende desde 1976. Mas disse que ele pediu que sua irmã voltasse três vezes. “Ele só pegou na minha mão e disse que eu ficaria bem. Quando saímos, ficamos um tempão esperando minha irmã do lado de fora. Ela disse que ele a puxou de canto, a chamou para a corrente e depois disse para ela que voltasse. Ficamos achando que o ‘espírito divino’ a havia escolhido. Mas depois de ouvir as denúncias, acho que ela poderia ter sido uma das vítimas”, relata Adriana. Rosana Faria (que pediu para mudar seu nome), que vive no sul da Flórida, foi várias vezes a Abadiânia para se consultar com o médium.“Eu tenho certeza que ele é um médium com muito potencial, mas não desenvolveu seu lado moral. Eu vi muitas pessoas sendo curadas lá. Eu não fui curada e acabei passando por uma cirurgia convencional para a retirada do intestino. Mas tenho certeza que fui muito ajudada, pois tive uma ótima recuperação”.
“Aquela casa não é um centro espírita. Eles são ecumênicos”, disse Rosana, que é espírita. “Eu acredito que assim como há padres pedófilos, médicos que abusam, ele é um médium sem moral. Acho uma pena”.
Prisão preventiva
Embora o médium e sua assessoria neguem a acusação, o Ministério Público Estadual de Goiás pediu a prisão preventiva de João de Deus no final da tarde de quarta-feira, dia 12. Naquela manhã, João de Deus havia comparecido pela primeira vez à Casa Dom Inácio desde que as acusações vieram à tona. Ele foi embora depois de 10 minutos, pois não estava se sentindo bem.