Toda mãe sabe o quanto gerar, criar e educar um filho é uma tarefa desafiadora, por isso o termo “supermãe” serve para todas. Mas há momentos e circunstâncias da vida em que é preciso fazer ainda mais malabarismos para manter o equilíbrio. Conheça a história de algumas “supermães” da comunidade brasileira que, mesmo diante das dificuldades, conseguem equilibrar a maternidade com a vida profissional, saúde e mesmo a mudança de país.
Recomeçando a vida do zero para o tratamento do filho
Ter um filho cadeirante e viver no Rio de Janeiro nunca foi uma tarefa fácil para a fotógrafa, Mariana Hart Dore. Em uma simples ida até a padaria a pé e empurrando a cadeira de rodas, tinha que enfrentar a quantidade de carros estacionados na calçada. Se fosse de carro, as vagas para deficientes já estavam tomadas, geralmente, por não deficientes. Por isso, cada saída de casa era como se ela fosse para a guerra. Por motivos como este, Mariana, seu marido Ciro e os três filhos, Stella, de 17 anos e os gêmeos de 10 anos, Pedro e Leo, que tem paralisia cerebral, escolheram o sul da Flórida para recomeçar a vida do zero.
O nascimento dos gêmeos não foi fácil. Eles nasceram prematuros no Rio de Janeiro. Leo teve uma hemorragia intracraniana, infecção generalizada, anemia da prematuridade, icterícia, ficou internado um mês no hospital. Pedro também foi internado, mas somente para ganhar peso.
Mariana parou de trabalhar para se dedicar inteiramente aos filhos e acabou mergulhando tanto nisso que, hoje, sua profissão gira praticamente em torno da maternidade. “Descobri que não havia somente dois caminhos: do parto normal violento que eu passei com Stella ou da cesariana que passei com os gêmeos. Há um terceiro caminho, do parto humanizado”, disse Mariana, que hoje é doula, fotógrafa especializada em parto natural, blogueira e formou um grupo no Facebook sobre paralisia cerebral, que atualmente conta com mais de 16 mil membros.
“Cada parto natural que eu acompanhava era como se fosse uma cura para mim. Esse meu caminho como fotógrafa de parto foi muito importante para esse meu processo de luto, porque quando temos um filho com deficiência, enterramos aquela ideia do filho idealizado para viver algo que nunca esperamos. Nenhuma menina tem uma boneca cadeirante ou com síndrome de down”.
Embora a família tenha que lidar com a situação médica de Leo em uma língua diferente e tenha passado por um período de adaptação, Mariana já pode sentir grandes mudanças na vida dos filhos.
Leo se qualificou para tratamento no Shriners Hospital for Children, em Tampa, que vive de doações de grandes empresários. Na escola, ele tem toda uma estrutura que seus pais nunca viram no Brasil. “Ele tem todas as terapias, desde fisioterapia até terapia ocupacional, hidroterapia, computação, artes, etc. Ele vai e volta tão feliz da escola, que faz tudo valer a pena. Tudo que deixamos para trás, nossa vida, nossos amigos, família, carreira, começando tudo do zero aqui acaba valendo a pena em momentos como esse”, conta. “Hoje me sinto privilegiada por ter três filhos completamente diferentes. Uma adolescente, um menino com deficiência e o Pedro, que eu sempre falo ser o meu maior desafio, pois ele é um menino, branco, classe média, e tento mostrar a ele todos os privilégios que ele tem só por ter nascido assim. Meu desafio é criar um homem de bem que não seja um adulto que vai reproduzir discursos machistas, racistas ou preconceituosos”.
Companheiras nos melhores e piores momentos
A fisiculturista Mariane Tomita, de 36 anos, que vive em Deerfield Beach, sempre foi o maior exemplo para sua filha, Isadora Novaes, de 9 anos. Desde que se separou do pai dela, quando ela tinha 3 anos e ele voltou para o Brasil, Mariane cria a filha sozinha, assumindo o papel de pai e mãe.
Isadora sempre acompanhou a mãe para as viagens de competição de fisiculturismo, ficava motivada com seus troféus e imitava as poses quando a mãe treinava para subir no palco. Quando, em julho de 2016, Mariane precisou parar tudo para o tratamento contra um câncer cervical, não foi diferente e Isadora ficou ao seu lado.
“Ela fazia meu café da manhã e sempre perguntava se eu estava me curando”, relata Mariane, que não tem nenhum familiar vivendo nos EUA.
Em seis anos dedicada ao fisiculturismo, a brasileira já ganhou várias competições locais, nacionais, chegou a ser uma das tops dos EUA, ficou em segundo lugar na internacional - representando os EUA - e tornou-se a juíza mulher mais jovem da liga. Ela também trabalha no Casino de Coconut Creek há 7 anos e com a promoção de eventos e shows dentro da liga do International Federation of Body Builders (IFBB).
Quando, depois de sentir muitas dores e receber o diagnóstico de câncer cervical, Mariane precisou parar tudo para iniciar as sessões de quimioterapia. Em dezembro, ela passou por uma histerctomia completa, cirurgia de retirada do útero.
“Foi bem difícil. Minha filha sentiu muito e começou a ir mal na escola”, diz. “Me apoiei na ajuda dos amigos, da babá de Isadora e de minha mãe, que eu pedi para vir do Brasil pela primeira vez para ajudar, depois da cirurgia”, lembra. “Eu sofri muito. A cirurgia foi muito delicada e minha filha via tudo e ficava preocupada. Uma vez ela chegou a me perguntar se ela seria adotada caso eu morresse”, relata Mariane, que há um mês descobriu que está curada.
Cuidando das pessoas como cuida da filha
Esse ano faz três anos que a pernambucana Daisy Batista da Silva abriu um salão de beleza em Pompano Beach. O nome, Jana’s Studio USA, foi dado em homenagem à sua filha, Janaína, de 34 anos, que sofre de degeneração cerebral desde os 3. “Coloquei o nome dela porque a Jana é uma guerreira. Ela está sempre feliz”.
Em 2010, Jana passou por um transplante de células-tronco na Alemanha, chegou a se alimentar normalmente, mas seu caso voltou a regredir alguns anos mais tarde e a jovem voltou a comer purê e continua totalmente dependente dos cuidados da mãe.
“Só saio para trabalhar depois que ela comeu, nadou, etc. Quando dá 7:30pm, eu tenho que estar em casa para colocar a Jana para dormir”, disse. “Mato dois leões por dia, senão amanhã terei quatro”, brinca.
No salão, Daisy se especializou em tratamento para queda de cabelo e tem muitos pacientes com câncer. “Atendo pessoas que estão ali naquele momento querendo ser cuidadas. Quando você tem um problema e é cuidado, você esquece um pouco de tudo que está acontecendo”, avalia. E isso é o mesmo que faz com Jana: “Essa segurança é o que a faz feliz e alegre: a Jana sabe que será bem cuidada todos os dias”.
Diploma na mão em meio ao desafio da maternidade
Depois de 13 anos fora do High School, Bruna Brandão, mãe de Jade, de 6 anos, conseguiu realizar o sonho de receber o diploma de bacharel em Music Education, na Florida Atlantic University. “Sei que é difícil com trabalho e filho, mas é possível! E vale o esforço! Não me arrependo de nada!”, diz Bruna, que precisou sacrificar a vida social e muitas noites de sono ao longo dos últimos quatro anos.
Desde 2005, Bruna fazia algumas aulas, mas estava pagando muito caro. Em 2013 ela começou a estudar na FAU em tempo integral, além de dar aula particular de piano, trabalhar na Fundação Vamos Falar Português aos sábados e com edição de fotos. Ela finalmente se formou este mês.
Bruna tem familiares nos EUA, mas, como todos trabalham o dia todo, nem sempre pode contar com ajuda. “Meu esposo e eu nos revezávamos para buscá-la na escola e minha mãe ajudava uma ou duas vezes por semana. Quando nenhum de nós podíamos, recorríamos a amigos mais chegados ou baby-sitters”.