Se você faz parte do número alarmante da estatística dos pais de 1,5 milhões de adolescentes que fogem de casa por ano, vamos fazer uma introspecção momentânea para entender o porquê, como, e o que fazer com isso.
A adolescência, todos nos sabemos, é uma fase difícil, muitas vezes conflitante e delicada na vida de todos. Como adultos que somos, parece até que esquecemos disso. Mas vamos combinar, todos nós já tivemos os nossos momentos de melodrama, de choros, de fases depressivas, ou rebeldes, de momentos onde “odiamos” os nossos pais, e queríamos ser tudo, menos iguais a eles. Quando demos o primeiro beijo, perdemos a nossa virgindade, provamos álcool e/ou droga pela primeira vez, “roubamos” o carro do pai, chegamos tarde em casa e desobedecemos descaradamente a mãe. E isso tudo porque tínhamos um lar estável, pais mais ou menos ajustados, onde a mesmice das nossas vidas era “insuportável” aos nossos olhos, mas onde estávamos relativamente seguros para vivermos essa fase de identificação com nós mesmos. Imagine agora que, para muitos adolescentes, essa vida que acabamos de descrever não existe. Suas realidades consistem em abusos de toda sorte, uso de drogas, amizades de péssima influência, crise entre os pais, ou pais completamente escravos de trabalho, contas para pagar, pressão por toda parte, além de dificuldades na escola, bullying, ou até mesmo por problemas físicos e mentais. Onde não existe diálogo, onde ninguém se inteira do que acontece a sua volta, onde não existe apoio de nenhuma natureza. Onde o adolescente é forçado a lidar com crises sem nenhum preparo, sem nenhuma experiência.
Adolescentes fogem de casa por uma série de razões. Muitas vezes porque eles acham que não têm saída e têm que escapar de algo que está acontecendo, ou pode vir a acontecer. Por tentar evitar as regras impostas por quem lhes cuida. Por estarem fugindo das consequências dos seus atos. Para evitarem estar no meio de uma relação disfuncional entre seus pais, onde não querem se envolver. Ou presenciar as crises conjugais. Até mesmo por pensarem que seus pais não o vão perdoar por algo que fizeram ou deixaram de fazer. Ou até mesmo por se sentirem responsáveis por algo que aconteceu, e que terá um impacto em sua vida. No entanto, é importante lembrar que um adolescente que fugiu de casa não é necessariamente um mau filho, ou filha, tampouco uma má pessoa. Ele simplesmente fez uma má escolha! Escolheram fugir ao invés de encarar qualquer que fosse o problema que estavam atravessando. A esse adolescente faltou a capacidade de resolver problemas, de gerenciar conflitos, e de se comunicar efetivamente.
A que devo prestar atenção?
Toda e qualquer mudança brusca de comportamento é significativa. Mudanças no sono, nos hábitos alimentares, no humor, roubo, ou mudanças na forma de falar e responder aos pais, uso de álcool ou drogas, brigas, baixa nas notas da escola, ou até mesmo o desaparecimento de objetos pessoais, tais como roupas, sapatos, mochilas também são indicações de uma possível e iminente fuga. Um outro indicador são as ameaças que o filho dá aos pais de que vão fugir de casa. Se você perceber isso, chame o seu adolescente pra uma conversa franca, verdadeira e real. Gritar, berrar, bater, usar ameaças ou até mesmo castigar não só não terá efeito, mas fará com que o adolescente se convença que o melhor a fazer é realmente fugir. Ofereça empatia, solidarize-se com o seu filho, ofereça escolhas, fale das suas expectativas e das regras da sua família, e como todos os envolvidos na dinâmica familiar merecem e contam com a ajuda mútua entre eles. Ajude-os a assumir responsabilidade, e como lidar com conflito, afinal, cabe a nós – pais - ensinar, educar, apoiar e modelar para os nossos filhos aquilo que eles precisam nas suas vidas.
Explique a eles também o que pode acontecer se eles decidirem fugir. Não somente as duras consequências e os riscos pra eles, mas a dor, o desespero e o desapontamento dos pais. A vida nas ruas, ou na casa de um amigo que deu abrigo temporário pode até parecer glamourosa, como mostram alguns filmes de Hollywood, mas a realidade é outra. O adolescente, no entanto, não tem maturidade pra enxergar isso. Em muito pouco tempo, eles estarão nas ruas, sem comida, sem ter onde dormir, onde tomar banho, com quem contar, e daí serão alvos fáceis a todo tipo de predadores, de ladrões, estupradores, drogados, ou aliciadores de menores, com promessas falsas de fama, sucesso ou dinheiro.
O que fazer
Se mesmo assim o seu adolescente fugir, notifique a polícia imediatamente. Mantenha-se em contato com as autoridades até seu filho ser encontrado e voltar para casa. Avise a pessoas conhecidas e amigas que o seu filho está desaparecido. Peça ajuda. Chame todos os amigos dele(a) e mantenha-os envolvidos. Procure alguma informação que, porventura, seu adolescente deixou em casa. Cheque contas de telefone, bilhetes ou anotações, contas bancárias, de cartão de crédito ou débito. Revire o seu quarto até encontrar alguma pista. Vá a sua escola e converse com professores, diretores, conselheiros, chefes de segurança. Busque a ajuda deles também. Se o seu filho trabalha, vá até o seu empregador e peça informação sobre a sua rotina. Contate organizações locais que oferecem ajuda não só aos pais, mas aos adolescentes.E quando o seu filho voltar pra casa, fique atento ao turbilhão de emoções que isso vai gerar, desde o alívio até a raiva. De desapontamento à alegria. De medo à fúria e vontade de castigar. No entanto, esse momento crucial requer que os pais escutem, conversem, ofereçam apoio e ajuda, e se certifiquem que esse comportamento não voltará a se repetir. Escute mais do que fale, pelo menos nesse primeiro momento. Enderece o problema que levou o adolescente a fugir. Trabalhe para reconstruir a confiança. Mostre que você está feliz por ele ter voltado pra casa. Tarefa dificílima, às vezes, mas superimportante para a reconstrução da relação entre pais e filhos. De tempo para que todos os envolvidos se situem, e recuperem-se. Se necessário, busque ajuda médica para se certificar que o seu filho (a) está bem fisicamente. Telefone pra quem você pediu ajuda, e avise que seu filho (a) voltou, e assim que a poeira sentar busque ajuda psicológica para seu adolescente e para você.
Para os adolescentes
E para você, que está pensando em fugir porque sua situação ou circunstâncias estão difíceis, muito embora a possibilidade da fuga pareça tentadora, fugir nunca é a solução. Busque ajuda de alguém que você confia, e se faça as seguintes perguntas:
1- Como posso melhorar a atual situação que eu me encontro?
2- O que precisa acontecer para eu continuar em casa?
3- O que me faria desistir de fugir?
4- Em quem posso confiar pra me ajudar?
5- Quais são as minhas reais opções?
6- Será que eu pensei realisticamente sobre isso?
7- Se eu entrar em problemas, com quem eu posso contar?
8- Quando eu voltar pra casa o que vai acontecer?
De qualquer maneira, e em qualquer situação, seja ela dura e cruel, ou até mesmo onde não há nenhum senso de esperança, há sempre ajuda. Promova o que você quer para a sua vida, e para a vida daqueles que você ama. Fugir seja de casa, dos pais, de problemas, ou até mesmo de você mesmo, não é a única, nem a melhor escolha. Acredite que há sempre uma luz no fim do túnel, você só precisa chegar lá.