Quem são os novos imigrantes que têm trocado o Brasil pelo sul da Flórida?

Por Simone Raguzo

Jerônimo e Tassiane: “Nos EUA, se você quer trabalhar, você vai ter espaço, vai ter as oportunidades e reconhecimento. Só depende de você”.

Eles não largaram tudo para simplesmente mudar de país, onde pudessem ganhar mais, exercendo qualquer profissão, mesmo sem status legal, para futuramente retornar ao Brasil e ter uma vida melhor.

Um novo perfil tem sido traçado por jovens imigrantes brasileiros que chegaram recentemente aos Estados Unidos. Eles têm formação superior com perspectiva de crescimento, vêm com um visto de trabalho e estão realizando um antigo sonho, sem a pretensão de retornar à terra natal.

Os casais Jerônimo e Tassiane, Caroline e Glauber, e Daiana e Igor são de diferentes partes do Brasil, mas se encontram na mesma cidade atualmente: Miami.

Nos três casos, foram os homens que tiveram a oportunidade de transferência ou de uma oferta de trabalho no sul da Flórida. As mulheres, também com formação superior e um futuro pela frente, abriram mão de suas carreiras para acompanhá-los e apostar em sua vida profissional no exterior.

Todos eles estão na faixa dos 30 anos, chegaram sem filhos aos Estados Unidos, mas têm planos de formar uma família por aqui – com exceção de Caroline e Glauber que já deram início com a pequena Nicole, de três meses.

Oportunidades O mestre em mecatrônica Jerônimo Bezerra, 31, e a geóloga Tassiane Sampaio, 30, saíram de Campinas (SP) e desembarcam no sul da Flórida em janeiro deste ano. “No meu antigo emprego, no Brasil, já tinha envolvimento com um projeto de conectividade de internet internacional de responsabilidade da Florida International University. Quando eles abriram uma vaga para trabalhar na sede, em Miami, eu me candidatei e acabei selecionado”, conta o engenheiro de redes sobre como surgiu a oportunidade de mudança que lhe proporcionou realizar um sonho. “Sempre estudei inglês sozinho pensando em uma oportunidade futura, e na faculdade vivia atento às oportunidades de interação com povos de outros países”, completa.

Da mesma forma aconteceu com os paulistanos Daiana, 31, e Igor Villas Boas, 32, – ela formada em farmácia e ele em administração de empresas.

Trabalhando em um freight forwarder no Brasil, que tinha um cliente sediado em Miami, Igor vinha com frequência aos Estados Unidos para ajudar na coordenação de alguns processos de importação. Apesar de morar fora do Brasil não estar nos planos do casal naquele momento, as diferenças entre os dois países chamaram a atenção. “Em uma dessas vezes, soube que estavam buscando um profissional para trabalhar no escritório em Miami, então houve a possibilidade de transferência. Foi uma oportunidade que apareceu e decidimos arriscar, ao invés de viver com a dúvida do ‘Será que daria certo?’”, conta o assistente de logística, que está na Flórida há quase três anos.

E assim também ocorreu com a arquiteta Caroline, 30, e o responsável por segurança de redes, Glauber Ribeiro, 34, do Rio de Janeiro (RJ), que chegaram em Miami em outubro de 2012. A oportunidade de Glauber ser transferido para os Estados Unidos foi a chance de realizar os sonho de ambos.

Por que deixar o Brasil?

Os três casais entram em consenso quando o assunto é problemas do Brasil. “O país, hoje,

está pior do que quando nos mudamos pra cá. Pior na área básica para qualquer cidadão viver: segurança, educação, saúde, custo de vida”, destaca Caroline.

Igor também acredita numa decadência do país em função da falta de investimento nesses setores fundamentais, com destaque para o descaso dos governantes com o crescimento do país e sua população. “É muito triste saber que um país como o Brasil, com o potencial que tem, abençoado pelos diversos recursos naturais que possui, está em uma situação tão difícil como vemos diariamente nos jornais e escutamos de nossos familiares e amigos que vivem lá”.

Embora o Brasil viva um momento financeiro interessante, que extrapola o eixo Rio-São Paulo, para Jerônimo um dos maiores problemas está na corrupção. “A impunidade é uma realidade cruel e, a cada dia que passa, observamos que os criminosos têm menos escrúpulos e preocupação em serem punidos, desde o ladrão de supermercado ao político e grande administrador de empresa”, diz. “Além disso, o oportunismo é uma característica muito forte no povo brasileiro. Tem muita gente boa, capaz, honesta e trabalhadora, porém estes são minoria e tem cada vez menos espaço no contexto nacional, o que indica que a situação ainda vai, infelizmente, piorar”, acrescenta.

Por que os Estados Unidos?

A forte crise econômica que assolou os Estados Unidos em 2008, pela qual o país ainda luta para se reerguer, não foi motivo suficiente para fazer com que esses novos imigrantes desacreditassem do potencial da nação ainda mais poderosa do mundo. Eles têm a convicção de que a mesma pode lhes oferecer um futuro promissor.

“Apesar de não ter estado aqui em 2008, a impressão que eu tenho é que os Estados Unidos estão se levantando de forma consistente, não focando em políticas assistencialistas. Mesmo no auge da crise, a minha área de atuação (information technology) se manteve forte. Aliado a isto está o fato da maioria dos grandes provedores de internet mundial, além das maiores empresas de tecnologia, estarem aqui, o que oferece muitas possibilidades de trabalho e crescimento profissional”, destaca Jerônimo. “Mas, acima de tudo, o que mais gosto nos Estados Unidos é que se você quer trabalhar, você vai ter espaço, vai ter as oportunidades e reconhecimento, e vai crescer na sua área. Só depende de você”, conclui.

É essa possibilidade de crescimento que estimula Igor a seguir fazendo planos nos Estados Unidos. “Não podemos dizer que nunca mais iremos voltar, pois não sabemos o dia de amanhã, mas hoje temos vontade de ir ao Brasil somente para visitar. Definitivamente, as oportunidades por aqui são inúmeras. As coisas funcionam com maior facilidade, flexibilidade, pois o governo estimula você a investir e a crescer. Acredito que a maior diferença entre os dois países seja essa mentalidade”, completa o assistente de logística. Para Caroline, o diferencial dos EUA está no respeito.

“Todo lugar tem defeitos, mas aqui ao menos há o respeito em primeiro lugar. Respeito no imposto que você paga, respeito no trânsito, no atendimento ao cliente, no preço gasto com alimentação, na educação. Enfim, em comparação ao Brasil, os defeitos dos EUA se tornam insignificantes porque existe o respeito dentro da sociedade”, conclui.