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Por que a proliferação de algas na Flórida pode ser considerada uma crise?
A Flórida tem lutado por quase duas décadas para controlar as algas que periodicamente atingem a costa, ameaçando o turismo e também o lazer de seus moradores. Nos últimos anos, lagos, rios e riachos foram infestados por proliferações de crescimento rápido dessas algas tóxicas. No início de maio de 2016, uma proliferação de algas do tipo "blue-green" cresceu e cobriu 85 quilômetros quadrados (33 milhas quadradas) do Lago Okeechobee. As condições que deram origem à proliferação foram responsabilizadas por afetar a qualidade da água da nascente até o Oceano Atlântico. O Indian River Lagoon no leste da Flórida Central é um dos estuários com maior biodiversidade da América do Norte - lar de mais de 4.300 espécies de plantas e animais, incluindo peixes-boi, golfinhos, colhereiros, tarpões e a espécie de peixe red drum, informa a organização Pew. A lagoa de 256 quilômetros de extensão cobre 40% da costa leste do estado e atrai turistas de todo o mundo, muitos dos quais vêm para pescar. Mas, nos últimos anos, a proliferação de algas nocivas alimentadas pela poluição de nitrogênio afetou este ecossistema e sua vida selvagem residente. Uma das piores florações, em 2011, eliminou 32.000 acres de ervas marinhas. Em alguns lugares, as populações de peixes predadores e presas diminuíram desde o declínio do habitat das ervas marinhas em 2011. Em outros pontos do estado, como na região sul, em Biscayne Bay, por exemplo, a situação não é diferente. Por ser um grande problema ambiental, diferentes autoridades responsáveis, como do Departamento de Proteção Ambiental da Flórida, distritos de gerenciamento de água, do Departamento de Saúde , da Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida e do Departamento de Agricultura e Serviços ao Consumidor da Flórida dizem que estão trabalhando juntos para acabar com a proliferação dessas algas e pedem que a população em geral ajude relatando novos pontos de proliferação de algas de água doce diretamente na página do Departamento de Proteção Ambiental, na seção de Monitoramento e Resposta de Floração de Algas. O que causa o florescimento de algas verdes? O Departamento de Proteção Ambiental da Flórida e o Departamento de Saúde da Flórida explicam que, embora as algas verde-azuladas possam ocorrer naturalmente, aumentos nos nutrientes podem exacerbar a extensão, a duração e a intensidade das florações. Outros fatos que contribuem para o florescimento incluem temperaturas quentes, redução do fluxo e circulação de água e falta de animais que comem algas. Embora possam ocorrer a qualquer momento, as algas verde-azuladas são mais comuns na Flórida no verão e no início do outono, com suas altas temperaturas e luz solar abundante. O verão também traz tempestades que têm o potencial de levar nutrientes para os cursos d'água por meio do escoamento das águas pluviais. Conforme as algas morrem em uma proliferação de cianobactérias, a água pode cheirar mal. Alertas O Departamento de Saúde da Flórida em Lee County emitiu um alerta de saúde nesta semana para o Canal Makai em Cape Coral com base em relatórios de toxinas de algas encontradas na água desde julho. De acordo com o departamento, quando as algas verde-azuladas são visíveis, eles recomendam que as pessoas evitem o contato com a água. "As algas verde-azuladas podem causar efeitos gastrointestinais se ingeridas. Crianças e animais de estimação são especialmente vulneráveis, portanto, mantê-los longe da água durante uma floração é especialmente importante", alerta. Afinal, qual o perigo? Os riscos à saúde associados às cianobactérias ocorrem quando pessoas ou animais são expostos a toxinas que às vezes são produzidas por esses organismos. A exposição pode acontecer por meio da ingestão não intencional da água do lago ou do rio, respirando o spray de água ou pelo contato direto com as algas. Em níveis elevados, podem afetar o trato gastrointestinal, o fígado, o sistema nervoso e a pele. Não é possível dizer se uma floração é tóxica olhando ou cheirando a água. Portanto, é recomendável que as pessoas evitem o contato com todas as proliferações de algas. Crianças e animais de estimação são especialmente vulneráveis, portanto, mantê-los longe da água durante uma floração é especialmente importante. Cientistas de todo o estado estão agora estudando os riscos potenciais de longo prazo para a saúde das toxinas das algas verde-azuladas inaladas para os pulmões, onde podem entrar na corrente sanguínea. Algumas descobertas iniciais sugerem que o impacto pode se estender muito além da orla. A pesquisa está em seus estágios iniciais e ainda não há respostas, mas até agora os cientistas descobriram que muitos floridianos já podem estar bem equipados para se proteger se as toxinas transportadas pelo ar forem perigosas. O uso de máscaras N95 e as máscaras cirúrgicas descartáveis usadas pela pandemia de COVID-19 em curso, podem filtrar a maioria das toxinas de algas do ar. Morte da vida marinha A mortandade de peixes e outras vidas marinhas também está ligada à maior presença das algas porque acabam se alimentando delas, porque as águas não estão com nível de oxigênio normais, que acontece por causa do excesso de nutrientes nas águas causada em parte pela poluição. "Está tudo interconectado", explica a brasileira Camila Quaresma-Sharp, diretora da Sharp Dentistry que trabalha com programas de educação ambiental e faz parte do grupo de diretores e de comitês de algumas ONG's ambientais no sul da Flórida. Envolvimento da população Diretamente envolvida com essa questão e no último ano do curso de Sustentabilidade e Meio Ambiente, Camila explicou ao Gazeta News sobre o fenômeno ambiental que é um problema e que envolve as autoridades competentes mas também toda a população. "Há anos cientistas e ambientalistas estão avisando que isso poderia acontecer. É algo complexo, mas muito simplesmente pode ser explicado por uma falta de infraestrutura pra lidar com o desenvolvimento desenfreado do sul da Flórida. As causas incluem: um sistema de esgoto velho, muitas fossas sépticas que estão criando mais problemas de contaminação das águas por causa do aumento do nível do mar, poluição (como pesticidas e fertilizantes que acabam nos nossos canais), o nosso sistema de drenagem de águas pluviais que carrega toda a poluição tanto dos fertilizantes como sujeira das ruas", aponta. E esclarece que tudo isso causa um excesso de nutrientes nas águas e cria condições ideais para a proliferação das algas, "somada ainda às águas mais quentes - acaba virando um ciclo vicioso. Há também menos fotossíntese das plantas aquáticas (pois a luz do sol é bloqueada pelas algas) e ao morrerem, a decomposição dos animais e plantas também contribuem para a adição de mais nutrientes nas águas", explica. Força-Tarefa e conscientização Segundo Camila, a região norte do Biscayne Bay está a ponto de ver um desastre ambiental, e, dentre as soluções que devem ser buscadas urgentemente, estão legislações, implementação e cumprimento dessas leis, além de maior participação da população para pressionar as autoridades. “Depois do Biscayne Bay Marine Health Summit de 2017 e 2019, conseguimos formar uma Forc?a-Tarefa para o Biscayne Bay e acabou de sair as recomendac?o?es que precisamos que sejam implementadas pelo MIami Dade County. Estamos agora precisando de ac?o?es urgentes e de ajuda para conscientizar a populac?a?o da necessidade de termos essas recomendac?o?es adicionadas e aprovadas na pro?xima reunia?o deles dia 31 de Agosto", destaca. Pesquisas Pesquisadores da University of Florida descobriram uma maneira de controlar o crescimento dessas algas verdes tóxicas, conforme divulgado pelo canal ABC. O Dr. Yousong Ding da Faculdade de Farmácia da UF e sua equipe de pesquisa identificaram uma enzima capaz de impedir o crescimento de algas. A enzima não afeta humanos e animais e pode ser usada com segurança em vias navegáveis. Essa pesquisa também pode ser usada para combater bactérias resistentes a antibióticos. “Nós encontramos uma maneira de essencialmente privar as cianobactérias de um nutriente importante e essencial para o seu crescimento”, disse Ding. “Se pudermos controlar o desenvolvimento da proliferação de cianobactérias, poderemos recuperar nossa capacidade de manter essas algas prejudiciais longe dos lagos e rios de água doce da Flórida.”