Brasileiros relatam bullying sofrido pelos filhos em escolas da Flórida
Após o acontecido, o xerife da polícia de Tampa, Chad Chronister, fez um aviso sobre o perigo do consumo desse tipo de substância. " Este caso deve ser um aviso para qualquer pessoa que experimente o THC vaping. Muitas pessoas acreditam erroneamente que é uma alternativa mais segura ao consumo de maconha e isso é tudo, menos a verdade", disse. "Você simplesmente não sabe o que pode ser misturado e pode acabar tendo algumas consequências graves para a saúde que podem ser fatais. Dessa vez, tivemos muita sorte de o resultado não ter sido tão severo quanto poderia ter sido." Em 2018, houve um aumento de quase 80% no uso atual de cigarros eletrônicos por adolescentes do ensino médio em relação ao ano anterior e de quase 50% para crianças do ensino fundamental, segundo FYSAS.“É todo dia”
Aluna da Monarch High School, em Coconut Creek, a mineira Anna Ramos, 17 anos, confirmou que muitos jovens, tanto americanos como brasileiros, usam o cigarro eletrônico todos os dias na escola. "Já me ofereceram. Isso é constante. Todos os dias eles fumam e cheiram no banheiro. Não se preocupam. Alguns colegas que chegaram do Brasil, se envolveram com drogas e acabaram sendo expulsos da escola", relata. Para a estudante, a influência para usar é grande, muitos alunos usam para 'aparecer', mas acabam se viciando e falta mais rigor nas escolas. "Eu tenho 'cabeça' e não quero me envolver com isso. Mas, mesmo com os seguranças vigiando e avisos que alunos pegos com cigarros eletrônicos e drogas serão expulsos, todo dia tem alunos usando e oferecendo. É ridículo porque você estraga a sua vida. Tive exemplos dentro de casa com um tio que perdeu tudo para as drogas e não quero isso pra mim", desabafa. Outro caso na mesma escola foi relatado por Joana Cruz, cujo filho de 15 anos estuda na instituição. Há cerca de um mês, ela descobriu que o filho estava usando cigarro eletrônico com maconha e denunciou ao Gazeta News como funciona o "esquema" para compra de drogas na escola. "Um dia cheguei em casa e meu filho estava dormindo com um cigarro eletrônico ao lado dele. Fiquei doida, acordei ele, pedi explicações. Peguei um drug test que eu tinha em casa (por causa do meu enteado que usa desde os 12 anos a gente sempre mantinha um em casa), e fiz. Em dois minutos, o resultado: positivo para marijuana. Fiquei doida, peguei o celular dele e comecei a vasculhar. Ele também se abriu e começou a me contar tudo. Como acontecia, como é vendido", detalhou Cruz.Snapchat
Segundo a mãe, os que vendem também são menores de idade, usam redes sociais para vender e até cobrar pagamento e alguns chegam a fumar dentro da sala de aula. "O que vendia para o meu filho tem um perfil 'fake' no Snapchat com uma lista de pessoas que querem adicioná-lo. Mas ele só adiciona quem chega para ele pessoalmente e se apresenta porque ele tem medo da polícia. Segundo a brasileira, ela não pode dar 'print' na tela "nem filmar com outro celular para denunciar porque essa rede social (Snapchat) avisa a pessoa que publicou quem fez print ou filmou a tela dele. A gente não sabe com que tipo de pessoa está lidando", menciona.Broward lidera casos de armas em escolas no sul da Flórida
Com a descoberta, Cruz então entrou em contato com a escola para denunciar e ouviu do diretor que é um problema geral em todas as 'high schools', mas que diariamente a escola não tem medido esforços para controlar o problema. O Gazeta News entrou em contato com a Monarch High School, mas não obteve retorno até o momento.Hábito do "vaping"
Em 2017, cerca de um em cada 13 alunos do ensino fundamental e médio da Flórida relataram o hábito de "vaping" (uso de cigarros eletrônicos ou dispositivos similares), de acordo com um mapeamento sobre o uso de substâncias feito em 2018 pela Florida Alcohol and Drugs Abuse Association com o apoio do Departamento de Crianças e Famílias. Em outro caso, a terapeuta brasileira Gabriela Sousa atua na área de Tampa e descreve que já atendeu adolescentes e jovens envolvidos que chegaram a vender drogas e remédios prescritos. "Tive jovens que vendiam spice, pills, weed, até sudafed"(uma droga das classes químicas de fenetilamina e anfetamina que pode ser utilizada como descongestionante nasal / sinusal)."Não há o malvado tentando corromper o bonzinho"
Segundo a brasileira Luciana Sales mora no sul da Flórida, a venda nas escolas acontece, em sua maioria, "nem é por oferta tendo um 'approach' especial. No que diz respeito à maconha, não há o malvado tentando corromper o bonzinho. Uma vez um policial me disse que existem os espertinhos e os potheads, ou seja, uma legião toda de adolescentes comprando de um ou dois na escola porque sabem que vendem e eles compram porque querem", opina. Com um caso de envolvimento próximo e vendo a importância de falar sobre o assunto, "pois a maioria ainda associa drogas a comunidades carentes e sabemos que a realidade é bem diferente", e conta que o envolvimento de jovens com drogas, especialmente maconha, é mais comum do que se pensa. "Todas as festas e reuniões deles têm pelo menos maconha, mesmo nas melhores áreas. O consumo está ligado à saúde mental. As duas coisas costumam andar de mãos dadas. Ou 'automedicação' com problemas mentais como causa primária, ou esquizofrenia, resultado do abuso da droga", finaliza. Em outro caso, a terapeuta brasileira Gabriela atua na área de Tampa e descreve que já atendeu adolescentes e jovens envolvidos que chegaram a vender drogas e remédios prescritos. "Tive jovens que vendiam spice, pills, weed, até sudafed"(uma droga das classes químicas de fenetilamina e anfetamina que pode ser utilizada como descongestionante nasal / sinusal). Segundo a terapeuta, muitos desses jovens já estavam em escolas alternativas para alunos que são expulsos ou tiveram problema de comportamento.Sistema escolar repressor
A psicoterapeuta, Adriana Tanese, explica que o uso de drogas pelos adolescentes tem muito a ver com a saúde mental e física e o ambiente familiar. "Para o jovem, é uma forma de aliviar as tensões, incrementar as condições para se divertir, se soltar mais", diz. Para a especialista, o sistema escolar colabora para que os jovens entrem no mundo das drogas. "Os alunos em geral são muito reprimidos, as escolas são muito repressoras, pela forma como o sistema escolar está estruturado, aqui mais ainda do que no Brasil. Há uma repressão física também porque ficam muito tempo parados e precisam se controlar. Biologicamente falando, o fato de ficarem várias horas sentados e parados vai contra o biológico de crianças e adolescentes que precisam se mexer mais", destaca. Outro ponto destacado é que os jovens estão sem muitas perspectivas de futuro. "São pessoas novas que estão entrando no mundo agora e têm que cavar seu espaço nesse mundo. E esse mundo está em crise, não está oferecendo oportunidades, possibilidades e caminhos. Por isso tem havido também muito suicídio entre os jovens", aponta Tanese.Escolas da Flórida voltam a fazer parte das 10 melhores do país
Ou seja, a especialista explica que as drogas são uma forma de os jovens "dar um tempo nesse peso todo. E como eles não têm maturidade para compreender o que estão fazendo, apenas seguem a onda. Também não temos muitos pais que consigam segurar e direcionar esses filhos. Os próprios pais estão também perdidos, então os filhos muitas vezes não têm um lar onde possam desenvolver sua individualidade e suas habilidades", finaliza.Relatos nas redes sociais
Em um questionamento sobre o assunto nas redes sociais, não faltaram relatos de pais e mães brasileiros cujos filhos disseram que já presenciaram venda, consumo ou lhes foi oferecido algum tipo dentro da escola. Dentre os principais, estão: "Já ofereceram para minha filha quando ela estava na Boca Raton Middle School. Ela me disse que já foi oferecido para vários amigos", cita um comentário. "Conheço estudantes que me disseram que esse tipo de realidade é constante nas escolas. São oferecidas livremente e usadas até nos banheiros... tanto na 'middle' quanto na 'high school'. Nem no Brasil em escolas públicas as drogas são tão frequentemente usadas, vendidas ou transportadas, segundo eles", relata outra leitora. "Minha filha falou que na escola dela é só escolher, que tem de tudo que é tipo. Ela tá se graduando na high school esse mês", escreveu uma terceira. "Eu tenho 2 filhos ainda na escola, um está na middle school e outro na high school e ambos relataram que viram alunos usando maconha dentro da escola e dentro do transporte escolar. E também o uso livre de cigarros eletrônicos na High School", conta outra mãe. O Gazeta News entrou em contato com os órgãos responsáveis pelas escolas públicas de Broward, Miami-Dade e Palm Beach, mas não obteve resposta até a publicação. O Orange County Public Schools respondeu ao questionamento do Gazeta News dizendo que o uso, posse ou solicitação de drogas ilegais ou ilícitas viola o Código de Conduta do Estudante. "O uso ou posse de drogas cai sob uma infração de Nível IV, página 26 do Código de Conduta do Estudante". Ainda, o órgão que coordena as escolas públicas do condado informou que mantém parceria com agências de aplicação da lei, com o programa Magic, que é oferecido no nível primário como um programa preventivo. Outro exemplo é um programa restaurativo chamado “Back on Track”, que é em parceria com a Aspire Health. *Nomes ocultados por segurança e respeito à privacidade dos entrevistados. **O THC líquido é um concentrado ou tintura de cannabis que é um fluido consumível com níveis de tetrahidrocanabinol de até 90% e que pode ser consumido aplicado sob a língua com um conta-gotas, inalado por vaping ou absorvido por via oral por pulverização na boca.