Ao olhar ao redor, percebemos que o presente não está bem; olhando para frente, é o futuro que não parece bem. A sensação é de caminharmos sem coesão nem rumo para uma desagregação social e para o atraso econômico, científico e tecnológico. Mesmo assim, tudo indica que no próximo ano os brasileiros elegerão um novo presidente da República sem eleger um novo Brasil.
Estamos paralisados pela vergonha da corrupção, da concentração de renda, da baixa produtividade e consequente pobreza, da violência sob tantas formas. Estamos em dívida com os pobres, idosos e jovens, crianças e mulheres, com os índios e os negros.
Junte a isso um país sem instituições sólidas; um sistema judiciário bipolar; um Estado sem eficiência e privatizado política e sindicalmente; ciência e tecnologia deficientes; um sistema educacional precário e desigual; e, sobretudo, imenso descrédito nos políticos devido à corrupção generalizada. Reafirmo: o Brasil precisa eleger não apenas um novo presidente, mas também um novo Brasil.
Mas o eleitor não parece preocupado com o país de todos, apenas com o seu próprio presente ou de seu grupo social. Votará com raiva dos atuais políticos e não com esperança nos que virão. Preocupado apenas com a vitória nas urnas, e não com o país. Em consequência, o candidato mira cada corporação e diz o que o eleitor quer ouvir, não o que ele precisa ouvir.
Uma prova de que os brasileiros não votam pelo Brasil é como as classes médias e ricas preferem gastar cerca de R$ 80 bilhões por ano - R$ 20 mil por família - com a educação de seus filhos, do que votar por uma escola pública gratuita com qualidade para todos. Talvez porque não queiram seus filhos misturados com o restante do país, talvez porque não acreditem que isso seja possível aqui, ou talvez porque, para ele, o Brasil não interessa. Por isso, o eleitor prefere pagar serviços especiais só para si e sua família do que receber gratuitamente o mesmo direito de todos.
O eleitor prefere manter a previdência insustentável no futuro, desde que pagando sua aposentadoria pessoal esperada para breve, do que defender uma reforma que traga sustentabilidade garantida para todos. A previdência é vista como um direito de cada aposentado, não como uma instituição do Brasil para os idosos de hoje e também aqueles das gerações futuras. Por não votar pelo Brasil, candidatos e eleitores preferem ilusões do “faz de conta” do que a realidade de “fazer as contas”.
Para eleger o Brasil, cada candidato deveria transformar a eleição em um plebiscito sobre qual país queremos, como fazê-lo, quanto custará, quem vai pagar e como atrair o eleitor para votar pelo bem comum. Mas isso dificilmente vai acontecer, porque o Brasil não vota!
Felizmente, o país não perde a esperança, porque transcende o presente e suas corporações, e tem vocação para se fazer nação, através dos séculos de história, com novas gerações de eleitores e com políticos diferentes.