O Brasil nas negociações da COP 28
A ideia é criar o Fundo Floresta Tropical para Sempre com o objetivo de gerar recursos para serem aplicados em projetos para preservação das matas...
Realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência do Clima tem uma intensa movimentação dos líderes mundiais - incluindo o chefe do Estado Brasileiro, Lula, e o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, avalia a participação do Brasil na COP 28.
"A apresentação do programa de proteção às florestas tropicais, construído com a participação da área científica do MapBiomas", é o que o especialista indica como o maior acerto da delegação brasileira até agora.
A proposta foi apresentada pelo governo brasileiro na última sexta, 1º, e prevê que países com fundos soberanos, como Noruega, Emirados Árabes Unidos, China, Kuwait e Catar, entre outros investidores, coloquem seus recursos em um fundo criado para manter as florestas tropicais em pé e conservadas. O programa defende que seja urgente avançar na ideia de um instrumento global inovador para remunerar a manutenção e restauração das florestas tropicais.
A ideia é criar o Fundo Floresta Tropical para Sempre (FFTS) com o objetivo de gerar recursos para serem aplicados em projetos para preservação das matas e desenvolvimento econômico dos povos que nela vivem ou dela dependem. A proposta sugere um aporte inicial de U$S 250 bilhões para que o fundo comece a funcionar.
O Brasil recebeu elogios em alguns pontos na COP 28, mas ainda precisa avançar sob muitos aspectos. Para Carlos Bocuhy ainda não é possível crer que o Brasil tenha condições de liderar pelo exemplo.
"No momento atual não (pode liderar pelo exemplo), foi 'premiado' com o "Fóssil do Dia", instituído pelo Climate Action Network, que reúne 1.300 organizações não-governamentais, na categoria "lógica distorcida" por ter aderido à OPEP ", explicou.
O 'antiprêmio' foi apresentado pela primeira vez nas discussões climáticas em Bonn, na Alemanha, no ano de 1999, lno Fórum Alemão de ONG's. Desde então, durante as negociações climáticas das Nações Unidas, os membros da Climate Action Network (CAN), votam nos países que consideram responsáveis por atrasar o progresso nas negociações.
O Brasil recebeu o antiprêmio nesta segunda, 4, como uma crítica à decisão do país em participar da Organização dos Países Produtores de Petróleo Plus (Opep ). Criada em 1960, a Opep atualmente tem 13 membros, entre eles, Arábia Saudita, Venezuela e Angola. Já a Opep reúne outros dez países aliados dos membros permanentes, entre eles estão Rússia, México, Malásia e Sudão.
Questionado sobre o teor do discurso do presidente Lula nas críticas aos países mais ricos, o presidente do Proam, Carlos Bocuhy afirma que "com relação à proporcionalidade das emissões o Brasil pode, seguramente, cobrar os maiores poluidores, Estados Unidos e China"
No entanto, o ambientalista destaca que o Brasil tem "problemas sérios a resolver e não está confortável no cenário climático para fazer essa cobrança".
"(O Brasil) É o 9º país mais rico do planeta, o 8º em produção de petróleo e o 6º em emissões de gases efeito estufa. Diminuiu o desmatamento na Amazônia, mas este cresceu no cerrado, houve um crescimento das emissões de metano com o aumento do rebanho bovino e o Brasil continua insistindo em aumentar sua produção de petróleo, alinhando-se ao cartel da OPEP", criticou.
Com a maior delegação da história, o Brasil vê em Dubai a oportunidade de trilhar caminhos que contribuam na realização da COP 30, que acontece no ano de 2025 em Belém. Bocuhy avaliou a realização da Conferência do Clima no Brasil.
Texto: "Especialista avalia participação do Brasil na COP 28", por IZABELA MARTINS via portal Sagres.