'O Show de Truman' previu o futuro

Lançado em 1998, O Show de Truman - O Show da Vida é um filme único produzido por Hollywood - uma comédia dramática psicológica satírica de ficção científica.

Por POR | ARLAINE CASTRO

"Bom dia! E, se por acaso não nos virmos... bom dia, boa tarde e boa noite!"

É assim que Truman Burbank, interpretado por Jim Carrey, cumprimenta alegremente o seu vizinho. A saudação é tão previsível quanto o nascer e o pôr do sol - uma parte da rotina diária e imutável de Truman.

Mal sabe ele que toda a sua vida é uma mentira acompanhada por milhões de pessoas.

Lançado em 1998, O Show de Truman - O Show da Vida é um filme único produzido por Hollywood - uma comédia dramática psicológica satírica de ficção científica.

Ele conta a história de um homem que vive em uma realidade artificial, inventada por produtores de TV.

O filme causou impacto no seu lançamento, mas ninguém sabia ao certo o quanto ele seria profético.

Nos anos que se seguiram, O Show de Truman se tornaria a incorporação de inúmeras ansiedades culturais, como a vigilância onipresente, o voyeurismo em massa e a moda dos reality shows na TV, que varreu o planeta, mostrando todos os dilemas existenciais da vida para a audiência global.

Com roteiro de Andrew Niccol e direção de Peter Weir, a receita bruta do filme atingiu mais de US$ 125 milhões (cerca de R$ 605 milhões) nos Estados Unidos e cerca de R$ 264 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) em todo o mundo.

Foram três indicações para o Oscar: melhor ator coadjuvante, roteiro original e diretor. Mas os números não representam a extensão do seu impacto.

O filme é profético. Ele apresenta em detalhes o dia a dia de Truman, um pacato vendedor de seguros que desconhece totalmente o fato de que sua vida é o tema de um programa de TV eticamente questionável, transmitido para o mundo inteiro - que sua família e seus amigos são atores e o mundo à sua volta é um cenário produzido por alguém.]

Escolhido para aparecer na TV desde o nascimento, a vida de Truman é documentada por cinco mil câmeras espalhadas por toda a sua "cidade-natal" na ilha de Seahaven e transmitida 24 horas por dia para uma audiência fiel de 1,5 bilhão de pessoas.

Até que, um dia, as mentiras da sua existência começaram a ruir, depois de uma série de anomalias acidentais, como um equipamento de iluminação que caiu do "céu" e a cena em que Truman encontra seu "falecido" pai vivo. Estas falhas levaram à revelação da realidade.

Mas, enquanto Truman decide bravamente fugir da sua "realidade" construída e sair daquela manipulação, parece que nós, enquanto sociedade, tomamos coletivamente a direção contrária. As linhas de advertência do filme foram solenemente ignoradas e o voyeurismo nos meios de comunicação ganhou raízes cada vez mais profundas nas nossas vidas.

Peter Weir afirmou à BBC que, apesar da notável e oportuna relevância do filme, ele não tinha ideia de que O Show de Truman fosse tão preciso. "Eu não tinha noção do tsunami de reality shows que havia pouco além do horizonte", ele conta.

Na época da produção do filme, os reality shows na TV estavam apenas começando. A série norte-americana Na Real (lançada em 1992) foi pioneira, mas o modelo holandês de Big Brother, com pessoas comuns morando por semanas em uma mesma casa, transformaria o gênero em um fenômeno mundial.

Weir relembra um comentário do criador de Big Brother, "[que estava] na fase de planejamento na época do lançamento do filme. Ele disse algo como: 'quando vi Truman, achei que era melhor nos apressarmos.' Big Brother foi lançado cerca de um ano depois." Mas a visão incisiva de O Show de Truman sobre a vida em vigilância constante foi um prenúncio não só da era dos reality shows na TV, mas de toda a cultura das redes sociais.