Quantos habitantes o planeta Terra aguenta?

As estimativas variam, mas espera-se que cheguemos o "pico populacional" por volta de 2070 ou 2080, quando haverá entre 9,4 bilhões e 10,4 bilhões de pessoas no planeta.

Por POR | ARLAINE CASTRO

Na obra-prima de Platão, A República, escrita por volta de 375 a.C., ele descreve duas cidades-estado imaginárias — regiões administrativas governadas quase como pequenos países. Uma é saudável e a outra é "luxuosa" e "febril".

Nesta última, a população gasta e devora excessivamente, entregando-se ao consumismo até "ultrapassar o limite de suas necessidades".

Infelizmente, esta cidade-estado moralmente decrépita eventualmente recorre à tomada de terras vizinhas, o que naturalmente se transforma numa guerra — o local simplesmente não consegue sustentar a grande e gananciosa população sem obter recursos extras.

Platão se deparou com um debate que ainda hoje é intenso: a população humana é o problema? Ou a questão está nos recursos que ela consome?

Demorou mais de cinco séculos depois de Platão para que a escala global de nossa explosão populacional se tornasse clara.

O autor Tertuliano, que viveu na cidade romana de Cártago, antecipou-se às observações modernas sobre nossas multidões destrutivas.

Em 200 d.C., quando a população humana total atingiu entre 190 e 256 milhões — algo próximo do número de indivíduos que atualmente habita a Nigéria ou a Indonésia — ele acreditava que o mundo inteiro já havia sido explorado e as pessoas se tornaram um fardo para o planeta.

"A natureza não pode mais nos sustentar", escreveu.

Nos próximos 1.500 anos, a população humana global mais que triplicou. Eventualmente, essa preocupação isolada de alguns se transformou em pânico generalizado.

É justamente aí que entra Thomas Malthus, um clérigo inglês com tendência ao pessimismo. Em seu famoso trabalho, Um Ensaio sobre o Princípio da População, publicado em 1798, ele começou com duas observações importantes: todas as pessoas precisam comer e gostam de fazer sexo.

Quando levados à sua conclusão lógica, explicou, as demandas da humanidade levariam à superação dos suprimentos do planeta.

"A população, quando não controlada, aumenta em uma proporção geométrica. A subsistência aumenta apenas em uma proporção aritmética. Um leve conhecimento dos números mostrará a imensidão da primeira potência em comparação com a segunda", escreveu Malthus.

Em outras palavras, um grande número de pessoas leva a um número ainda maior de descendentes, em uma espécie de ciclo de feedback positivo — mas nossa capacidade de produzir alimentos não necessariamente se acelera da mesma maneira.

Essas palavras simples tiveram um efeito imediato, acendendo um medo apaixonado em alguns e raiva em outros, que continuariam a reverberar esses conceitos na sociedade por décadas.

O primeiro grupo achava que algo precisava ser feito para impedir que nossos números saíssem do controle. O segundo, por sua vez, defendia que limitar o número de pessoas era absurdo ou antiético, e todos os esforços deveriam ser feitos para aumentar a oferta de alimentos.

Reduzir nossas demandas individuais no planeta poderia diminuir a "pegada" da humanidade sem sufocar o crescimento nos países mais pobres.

As estimativas variam, mas espera-se que cheguemos o "pico populacional" por volta de 2070 ou 2080, quando haverá entre 9,4 bilhões e 10,4 bilhões de pessoas no planeta. Pode ser um processo lento — se chegarmos a 10,4 bilhões, a Organização das Nações Unidas (ONU) espera que a população permaneça nesse nível por duas décadas — mas, eventualmente, depois disso, a previsão é de que esse número comece a diminuir.

Texto: BBC Brasil.