Alguns brasileiros, assim como imigrantes indocumentados vindos de outros países, estão deixando a Flórida e se mudando para outro estado americano com receio da nova lei de imigração que entrou em vigor em 1º de julho.
Quando a Flórida aprovou a lei SB 1718, com o apoio do governador republicano Ron DeSantis, os imigrantes indocumentados sabiam que seus empregos estavam em risco. Não somente os empregos, mas outros aspectos da vida, como o dia a dia de suas famílias. A nova regulamentação, também chamada de "lei anti-imigração", restringe o acesso dos indocumentados a empregos, carteiras de identidade, serviços de saúde e transporte.
A nova legislação está entre as leis estaduais mais duras do país e torna a vida mais difícil para os cerca de 775.000 imigrantes indocumentados que vivem na Flórida, estima o Migration Police Institute.
"Medo de perder o emprego"Com medo de perder o emprego e de uma possível deportação, Marcos Felicio contou ao Gazeta News que se mudou com a família no final de junho de Fort Myers para a Carolina do Sul. Segundo ele, a escolha se deu por ter um casal de amigos que vive lá e ajudou com tudo para eles irem.
Fora do 'status' imigratório e com um filho de oito meses que nasceu na Flórida e outra filha mais velha, ele achou melhor buscar refúgio em outro estado por conta da nova lei. Segundo o brasileiro, outras pessoas conhecidas também fizeram o mesmo.
"Eu quis me mudar por conta da nova lei. Eu estou fora de 'status', fiquei com receio de acontecer uma deportação. Fiquei com medo de perder o emprego e também porque a minha 'drive license' é de Las Vegas", diz Felicio, que trabalhava com instalação de granito na Flórida e conseguiu um novo trabalho.
Também pelo receio com as mudanças que a nova lei trouxe, uma outra brasileira que pediu para não ser identificada, contou ao Gazeta News que se mudou com a família para Massachusetts em junho e que é uma situação triste para trabalhadores e famílias inteiras que estão deixando a Flórida.
Para ela, que trabalhava com salão na Flórida, "eles teriam que ver quem entrou com visto e que não tem crime, que trabalha, tem boa conduta e paga imposto e dar uma oportunidade de trabalho pelo menos, o direito de dirigir também, já que pagamos seguro e podemos comprar carro", opina.
Morando em Orlando há quase dois anos, uma outra brasileira (nome não citado a pedido) disse que se mudou no dia 10 de junho para New Jersey com a família. Segundo ela, há várias outras famílias chegando.
"Muitas famílias chegando por aqui da Flórida. A lei contra imigrantes nunca é boa né!? A única coisa que vai poder acontecer é acabar com o estado da Flórida porque os que realmente trabalham igual burro são os imigrantes. Minha família não pretende ficar com tempo com isso tudo que está acontecendo", afirmou.
Perda de funcionáriosCom uma empresa de limpeza em Orlando há 20 anos, Tereza Carvalho perdeu uma funcionária brasileira indocumentada que se mudou com receio da nova lei.
"Eu perdi uma funcionária que foi para New Jersey porque ficou com medo da lei aqui. Ouvi falar de famílias inteiras que foram embora. Nos grupos brasileiros das redes sociais a gente vê pessoas passando o apartamento ou a casa onde moram o tempo todo. Ouvi falar que foi bastante gente embora com medo dessa lei", afirma.
Também dona de um negócio na Flórida, a empresária Daniele Paiva conta que não perdeu nenhum funcionário, mas mesmo assim acha a lei rigorosa demais para indocumentados que vivem de forma honesta e não cometeram crime.
"Acho que da forma que está sendo imposta é um tanto agressiva. Acho sim, que deveria ter um controle em relação aos imigrantes indocumentados, mas firme com aqueles com algum tipo de crimes. Aqueles que estão aqui procurando só uma vida melhor para a família, poderia ser criada uma lei ou anistia. Eles pagariam uma taxa de impostos e começariam um processo podendo se legalizar depois de um certo tempo", declara.
O Florida Policy Institute estima que quase 10% dos trabalhadores nas indústrias de trabalho intensivo da Flórida não têm documentos.
Transporte, saúde, identidade e trabalhoCom a lei, qualquer pessoa que apresentar uma carteira de motorista de outro estado inválida durante uma parada de trânsito estará sujeita a uma multa por dirigir sem uma carteira válida. No dia 5 de julho, o Departamento de Segurança Rodoviária e Veículos Motorizados da Flórida divulgou uma lista de cinco estados e os tipos específicos de licenças inválidas. Os estados listados são Connecticut, Delaware, Havaí, Rhode Island e Vermont.
No setor trabalhista, empresas com 25 funcionários ou mais deverão usar o sistema para verificar a situação migratória dos trabalhadores (chamado E-Verify). A lei impõe às empresas multas diárias de US$ 1 mil (cerca de R$ 4,8 mil) se empregarem um imigrante sem documentos e ameaça os empresários com a suspensão dos seus alvarás de funcionamento em caso de reincidência frequente.
A lei também proíbe que as autoridades locais da Flórida emitam documentos de identificação a estrangeiros que se encontrem nos Estados Unidos de forma irregular e invalida os cartões de identidade outorgados na mesma situação por outros Estados.
Os hospitais também são obrigados a coletar os dados migratórios dos pacientes e os apresentem às autoridades, para cálculo dos custos da assistência médica prestada às pessoas indocumentadas. E a lei também considera um delito grave o transporte de pessoas sem documentos para que ingressem no território da Flórida, mesmo no próprio carro.
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