O presidente Joe Biden fez seu último discurso como presidente dos Estados Unidos na quarta-feira (15), refletindo sobre sua carreira política de décadas e emitindo um forte alerta sobre os perigos do poder concentrado nas mãos de uma pequena elite extremamente rica.
Falando do Escritório Oval, atrás da Mesa Resoluta, Biden expressou orgulho pelas conquistas de seu governo, como a recuperação da pandemia de coronavírus e os investimentos feitos nas áreas de economia, infraestrutura, segurança armamentista, mudanças climáticas, entre outros.
"Nos últimos quatro anos, nossa democracia se manteve forte e todos os dias cumpri meu compromisso de ser presidente de todos os americanos durante um dos períodos mais difíceis da nossa história", disse Biden.
Ele também elogiou a vice-presidente Kamala Harris como uma "grande parceira", e mencionou várias vitórias legislativas, como a redução do custo dos medicamentos, ampliação dos benefícios para veteranos de guerra e investimentos na fabricação de chips semicondutores. "O impacto dessas políticas pode não ser totalmente visível por anos", observou.
Biden mencionou brevemente a trégua e o acordo de liberação de reféns entre Israel e Hamas, alcançados no dia de seu discurso, uma meta de sua política externa que se concretizou poucos dias antes de sua saída.
No entanto, a maior parte de seu discurso foi dedicada a um tema que o preocupava profundamente: a crescente concentração de poder nas mãos de uma minoria extremamente rica. "Hoje, está se formando uma oligarquia na América, de riqueza, poder e influência extremos, que literalmente ameaça nossa democracia, nossos direitos e liberdades fundamentais, e uma chance justa para todos avançarem", alertou.
Ele falou sobre o impacto negativo que os ultra-ricos podem ter no combate às mudanças climáticas, afirmando que forças poderosas tentam usar seu poder irrestrito para desmantelar os avanços feitos na luta contra a crise climática, em favor de seus próprios interesses de lucro e poder. "Não podemos ser intimidados a sacrificar o futuro de nossos filhos e netos", disse Biden. "Precisamos seguir em frente e acelerar nossas ações. Não temos tempo a perder."
Biden também expressou preocupações sobre o avanço da inteligência artificial, os perigos das tecnologias emergentes e o crescimento da desinformação online, que, segundo ele, contribuem para um enfraquecimento da imprensa livre e permitem abusos de poder. "No discurso de despedida, o presidente Eisenhower falou sobre os perigos do complexo militar-industrial", recordou Biden. "Ele nos alertou sobre o 'potencial para o aumento desastroso de um poder mal direcionado'... Seis décadas depois, tenho a mesma preocupação com o possível surgimento de um complexo tecnológico-industrial que pode representar sérios perigos para nosso país."
O presidente também defendeu uma reforma no sistema tributário, para que os bilionários paguem sua "parte justa", e a emenda da Constituição para garantir que nenhum presidente seja imune a responsabilidades criminais — um recado claro a Donald Trump, que enfrenta acusações federais relacionadas ao comportamento após as eleições de 2020 e está prestes a assumir o cargo novamente.
"Biden concluiu afirmando que o poder presidencial não é ilimitado nem absoluto, e que a concentração de poder e riqueza em uma democracia erode a unidade e a confiança da população, gerando desconfiança e divisão. "A participação na democracia se torna exaustiva e desiludida", refletiu. "As pessoas sentem que não têm uma chance justa."
No final, Biden refletiu sobre sua própria jornada, de um menino de Scranton com gagueira a chegar à presidência, cargo que buscou por cinco décadas e deixou de forma relutante, após retirar sua candidatura para 2024, em meio a dúvidas internas no Partido Democrata.
"A América é uma luta constante", disse Biden. "É um curto caminho entre o perigo e a possibilidade, mas acredito que a América dos nossos sonhos está sempre mais próxima do que pensamos. E cabe a nós torná-la realidade."
Biden concluiu seu discurso pedindo que todos os americanos "sejam os guardiões da chama" da democracia, reafirmando seu amor pelo país e pedindo que os cidadãos sigam defendendo os valores fundamentais que sustentam a nação.
Fonte: ABC