Morte de morcegos nos EUA aumenta uso de pesticidas e causa mortes de bebês

Vacinas estão sendo criadas contra doença que vem matando mamífero, mas eles também são ameaçados por perda de habitat, mudanças climáticas e criação de parques eólicos

Por Lara Barth

Morcego frugívoro Artibeus lituratus se alimentando da fruta de uma figueira

Um colapso na população de morcegos na América do Norte levou a um aumento no uso de pesticidas por agricultores como forma alternativa de proteger suas plantações — mas isso desencadeou um aumento na mortalidade infantil, sugere um estudo divulgado no início de setembro.

O artigo, publicado na revista Science, fornece evidências que apoiam previsões de que o declínio da biodiversidade global terá consequências graves para os humanos.

O autor Eyal Frank, da Universidade de Chicago, monitorou a disseminação de uma doença mortal entre os morcegos - a WNS (do inglês White-nose syndrome), no leste dos EUA e comparou o uso de inseticidas em condados afetados com os não afetados. Ele descobriu um aumento impressionante de 31% no uso de pesticidas onde as populações de morcegos haviam diminuído.

Com mais pesticidas, a taxa de mortalidade infantil aumentou em quase oito por cento, resultando em 1.334 mortes infantis adicionais — com água e ar contaminados provavelmente servindo como caminhos para os produtos químicos entrarem nos seres humanos.

Frank enfatizou que a propagação escalonada da doença na vida selvagem corrobora o argumento de que a mortandade de morcegos causou o aumento na mortalidade infantil, e não foi uma coincidência. Qualquer outra explicação teria que se alinhar ao mesmo caminho de expansão e tempo.

Vacinas estão sendo desenvolvidas contra a WNS, mas os morcegos também estão ameaçados por perda de habitat, mudanças climáticas e instalação de parques eólicos. O trabalho de Frank contribui para o conjunto de evidências que mostram os impactos em cascata da perda de vida selvagem nos ecossistemas.

Um estudo recente descobriu que a reintrodução de lobos no estado americano de Wisconsin reduziu as colisões de veículos com veados, pois os lobos estabeleceram suas patrulhas ao longo das rodovias. Na América Central, o declínio de anfíbios e cobras levou a picos de casos de malária humana.

"Conter a crise da biodiversidade é crucial para manter os muitos benefícios que os ecossistemas fornecem e que os substitutos tecnológicos não podem substituir prontamente, ou talvez nunca consigam", escreveram cientistas das universidades da Califórnia, Santa Bárbara e da Colúmbia Britânica.

Fonte: O Globo