Brasileiras desaparecem nos EUA; famílias suspeitam de tráfico humano

Por Arlaine Castro

Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de idade desconhecida, deixaram o Brasil e vieram morar nos Estados Unidos após promessas de trabalho da guru Katiuscia Torres, conhecida como Kate A Luz.

O suposto desaparecimento de duas brasileiras, identificadas como Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de idade desconhecida, tem ganhado repercussão nas redes sociais. Relatos publicados em páginas criadas por familiares e amigos especulam que as jovens podem ter sido vítimas de seita, rede de prostituição ou tráfico humano.

Desirré e Letícia deixaram o Brasil e foram morar nos Estados Unidos após promessas de trabalho da guru Katiuscia Torres, conhecida como Kate A Luz, e não fazem contato com a família há meses. Fotos delas também foram encontradas em sites de prostituição americanos.

As jovens se mudaram para fazer au pair – programa de intercâmbio onde a pessoa faz parte de uma família anfitriã norte-americana, por um ano, cuidando de seus filhos, e recebe em troca acomodação, refeições, remuneração semanal e a oportunidade de viagens e estudos.

Após pressão de pessoas próximas às brasileiras, Kate se pronunciou na sexta-feira, 14, afirmando que Desirré e Letícia estão bem, mas não querem falar com suas famílias, que seriam abusivas. As duas garotas gravaram vídeos confirmando o que Katiuscia disse. Letícia também apareceu em uma live com a guru, mas não foi suficiente para convencer as pessoas envolvidas nas buscas.

Também na última sexta-feira, o pai de Letícia, Cleider Castro Alvarenga, que mora em Perdões, no Sul de Minas Gerais, publicou um relato no Instagram afirmando que ela está desaparecida deste abril deste ano.

Segundo ele, a filha estava na cidade de Leander, no Texas. “Estamos desesperados. Se alguém tiver alguma notícia, nos avise. Peço também que compartilhem com outros grupos e pessoas que possam nos ajudar”, escreveu.

Em outra publicação nas redes sociais, Cleider suspeita que Letícia tenha sido vítima de tráfico humano. Nos comentários, internautas afirmaram ter visto a foto da jovem em sites de prostituição. Nesse sentido, a reportagem localizou imagens de Letícia em um site de prostituição que oferece o serviço de acompanhante da jovem em Austin, capital do Texas.

Comportamento anormal

Mesmo com as publicações onde as jovens dizem que suas famílias eram abusivas e vieram para os EUA por causa disso, elas não convenceram a maioria dos internautas. Nos comentários, muitas pessoas acreditam que Letícia foi coagida, de alguma forma, a gravar os vídeos. Em relação às postagens em texto, foi levantada a suspeita de que as mensagens tenham sido escritas por Kate.

Em nota publicada neste domingo (16) na página Searching Desirré, criada para reunir informações sobre o paradeiro da jovem, familiares e amigos dizem que estão preocupados com a integridade física das jovens e que o comportamento delas nos vídeos é anormal. Um dos motivos para a desconfiança é o fato de as brasileiras afirmarem que estão na Alemanha, quando, segundo a família, não há registro de saída delas dos Estados Unidos.

“Muita gente está acompanhando as lives que estão surgindo, todas com narrativas deturpadas – o padrão da falsa guru para desviar o foco dela. Quem conhece as meninas não compactua com as inverdades levantadas. Nos vídeos é possível ver nitidamente que existe uma prisão para além da física, que é a prisão emocional: manipulação, ameaças, culpabilização da vítima e falsas promessas”, diz um trecho.

“Independente se estão fazendo algo em sã consciência ou não, usar a vulnerabilidade de mulheres brasileiras com a falsa promessa de riqueza, e induzi-las a prostituição na ilegalidade é crime. Letícia tem uma família preocupada que vem sofrendo ataques e sendo julgada por um vídeo em que ela está claramente perturbada. Em sua aparição de hoje (16), com a feição inchada e aérea, só reforça o quanto ela se distanciou de quem era. Outra técnica muito comum usadas em culto é a despersonalização da vítima”, continua o texto.

A nota ainda afirma que Desirré não aparece em público desde setembro e pede para seguidores americanos denunciarem o caso para as autoridades americanas. “A falsa guru nem se deu ao trabalho de tentar provar que ela está bem. Desirrê nunca teve desejo de viver ilegalmente, era totalmente contra isso, cheia de sonhos e com uma carreira linda pra construir. Quem a conhece na intimidade, conhece a verdadeira essência dela, uma pessoa doce, alegre e extremamente boa”.

As páginas de Kate, Desirré e Letícia no Instagram foram desativadas.
Em nota à reportagem do Estado de Minas, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que “há registro de desaparecimento de Letícia, de 21 anos, cujos fatos relatados na ocorrência estão sendo apurados pela Delegacia de Polícia Civil em Perdões”.

 
 
 
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