O incentivo ao empreendedorismo e o uso de novas tecnologias podem ser o caminho para melhorar a gestão na área esportiva. O assunto foi discutido nesta quinta-feira (9) no seminário Inovações na Governança de Entidades Esportivas, que reuniu especialistas da área no auditório da reitoria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no campus do Maracanã, na zona norte do Rio.
O objetivo do encontro foi criar uma agenda para envolver alunos e docentes da Uerj no tema da gestão de grandes projetos, em particular, do ambiente olímpico. Organizado pelas professoras Bianca Gama, do Departamento de Inovação, e Marinilza Bruno de Carvalho, da Diretoria de Inovação, a atividade resulta de trabalho conjunto entre o Grupo de Pesquisas em Estudos Olímpicos da universidade, reconhecido pelo Comitê Olímpico Brasileiro, o Olympic Studies Center do Comitê Olímpico Internacional e o eMuseu do Esporte, que é uma iniciativa da Uerj.
Segundo o reitor Mário Carneiro, a Uerj abrange várias áreas do conhecimento, tem mais de 40 mil alunos, foi pioneira no sistema de cotas no Brasil e no ensino noturno, o que permitiu a trabalhadores fazer cursos superiores à noite.
Carneiro lembrou que a Uerj tem atualmente tem um dos maiores programas de inclusão social. “O esporte e a inovação são muito importantes na vida de todos nós”, destacou o reitor na abertura do encontro. “A união dos esforços, com certeza, vai trazer algo inovador. A gestão é importantíssima para que as coisas aconteçam de maneira benfeita. Não tenho dúvida de que podemos contribuir”, disse Carneiro à
.
O professor da Universidade de Lausanne, na Suíça, Jean-Loup Chappelet, um conhecido especialista em governança de entidades olímpicas, ressaltou que existem duas palavras importantes em projetos de gestão esportiva: steakholders, que são parceiros interessados que atuam de acordo com as práticas de governança corporativa de um projeto, uma empresa, um evento ou um empreendimento; e sistema.
De acordo com Chappelet, no começo do sistema olímpico, havia apenas dois steakholders, mas o número avançou. “[Hoje] steakholders de tipos novos geram inovação na governança. Os steakholders formam um sistema, e não só eles são importantes, mas a relação entre eles. Compreende o todo do sistema olímpico”, afirmou o professor suíço. Chappelet acrescentou que eles também produzem o financiamento do sistema.
Bianca Gama destacou que o debate no seminário pode provocar um avanço na medida em que se consiga agregar o desempenho de cada entidade esportiva, mesmo com as suas limitações, oportunidades, forças e fraquezas. “Se a gente, enquanto entidades esportivas, consegue identificar as fraquezas de cada uma e fazer daquilo como uma grande oportunidade, integrando todas elas, isso faz a diferença”, afirmou, em entrevista à
Agência Brasil.
Para a professora, o eMuseu do Esporte é um case de como a sociedade tem voz ativa em qualquer projeto esportivo, sendo amador, atleta, fãs, confederação, entidade esportiva ou comitê. “A gente consegue fazer com que o projeto, agregando vários outros stakeholders, entregue uma informação de qualidade, que é a memória esportiva de uma nação, criada por várias mãos e disponível para todos. E todos também podendo compartilhar dessa história.”
Entre os desafios para juntar tantos parceiros e levar adiante a governança de um projeto esportivo, Bianca citou a dificuldade legal de recursos financeiros, de entender como se protegem as partes e de entender a melhor parte de cada um, além das limitações burocráticas e administrativas. “Este é o desafio: botar na mesa diversos players, da iniciativa privada e da iniciativa pública, para extrair o melhor de cada um. Mas existem barreiras e limitações, e o empreendedorismo e a inovação vêm para quebrar essas barreiras.”
O professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte e ex-membro do Conselho de Pesquisas do Comitê Olímpico Internacional, Lamartine DaCosta, destacou a necessidade de transição para uma cultura globalizada, que é digital, o que cria muitos desafios para o esporte. “Os nossos desafios no esporte são generalizados, [assim como os] da humanidade em geral. A nossa experiência não é isolada, mas de trocas internacionais”, afirmou.
A professora Leila Andrade, que dirige a Rede Sirius, composta por 26 bibliotecas na Uerj, destacou a participação da entidade no projeto do eMuseu, que foi na montagem da memória esportiva. Uma das ações foi a digitalização das fotos e das fichas cadastrais dos atletas da Confederação Brasileira de Basquete.
Foram digitalizadas 382 fichas cadastrais, cerca de 115 fotos de campeonatos mundiais masculino e feminino, 108 de jogos olímpicos. “E tivemos uma grata surpresa ao manusear documentos referentes às Olimpíadas de Londres, em 1948; de Roma, em 1960; e de Atlanta, em 1996, e também dos Jogos Pan-Americanos de Chicago, em1959; da Colômbia, em 1971; de Havana, em 1991; e de Indianápolis, em 1987. Com esses documentos deu-se início ao eMuseu do Esporte”, lembrou a professora.
Leila Andrade enfatizou que esta foi uma contribuição muito importante da Rede Sirius para o eMuseu do Esporte.