Desde o assassinato de sua avó, a líder quilombola baiana Maria Bernadete Pacífico, Wellington Gabriel de Jesus dos Santos tem a vida fora dos trilhos. Aos 24 anos, fase em que se começa a pavimentar mais solidamente os caminhos que se deseja percorrer, ele anda escoltado 24 horas por dia por policiais militares e permanece desempregado, depois de ter tido que abandonar "o melhor emprego que já teve".
Em entrevista à
Agência Brasil, o jovem contou que, além de ter se sentido obrigado a deixar o trabalho na indústria petroquímica, parou de fazer música. Tudo para evitar estar exposto "e que se repita esse derramamento de sangue". Mãe Bernadete foi assassinada em agosto de 2023, no Quilombo Pitanga dos Palmares, situado na cidade de Simões Filho, região metropolitana de Salvador.
A yalorixá de candomblé era presidente da Associação Etnodesenvolvimento Muzanzu, uma das entidades atuantes no local. Ela foi executada com pelo menos 25 tiros, diante dos três netos. As autoridades que investigam e acompanham o caso, como o Ministério Público da Bahia, entendem que se tratou de um recado de violência deixado por uma facção que pretendia se expandir pela região e quis silenciar Mãe Bernadete quando ela questionou a abertura de um ponto de drogas na comunidade quilombola.
"Eu tentei trabalhar e acabou que, com a agenda da comunidade somada ao processo criminal de minha avó, que estava em fase de audiências de instrução, tive que sair daquele emprego novamente. Então, enfrento o desemprego praticamente desde que perdi minha avó. Nesse tempo, tive que viver com apoio de terceiros, com uma dependência financeira absurda", lamenta Wellington.
A ocupação profissional teve grande importância para o jovem, que também lida com o luto pelo pai, o também líder Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como "Binho do Quilombo", no mesmo contexto de violência que mais tarde viria a recair novamente sobre a comunidade, com a execução de sua avó. Por isso, quando a perdeu, ampliou-se a sensação de desamparo. Jurandy Wellington Pacífico dos Santos, irmão de Binho e tio de Wellington, também vive sob escolta da Polícia Militar (PM).
Integridade mental
Apesar de valorizar a disponibilidade da PM em fazer sua segurança, a integridade mental de Wellington não tem estado tão preservada quanto a física, segundo afirma. Até hoje, apesar de o quadro tornar cada vez maior a propensão de os integrantes da comunidade desenvolverem transtornos psicológicos, como a depressão e a ansiedade, o Poder Público nunca ofereceu atendimento especializado, nem mesmo às vítimas mais diretas, como os familiares da yalorixá.