Amoedo adiantou que o boi irá “brigar muito forte por esse título”. “Ele é muito importante para todos nós e nos dedicamos muito para que pudéssemos corrigir alguns erros passados, amadurecer esse processo e poder fazer uma doação na sua totalidade na construção desse povo que lutou durante meses para fazer este grande espetáculo”, disse.
No mesmo ano de 1913, nos terreiros úmidos do Reduto do Esconde, no Umbuzal, nasceu o Caprichoso criado por Seu Roque Cid. Com o irmão Antônio, saíram do Crato no Ceará e seguiram para Manaus. Aportaram em Parintins, onde resolveram ficar. Os outros irmãos Beatriz e Pedro também foram para a cidade e em outubro participaram da criação do Caprichoso.
Torcidas
Em volta do Bumbódromo, a movimentação das torcidas é grande desde o início da semana, para assegurar um bom lugar na Arena e assistir de perto o boi favorito. De um lado, os fãs do Caprichoso e do outro, do Garantido. É a rivalidade histórica presente no público.
Na cidade, as duas cores se espalham pelas casas e ruas. O comércio aproveita para expor produtos relacionados aos bois para atrair os torcedores.
No Caprichoso, a cor principal é o azul, mas a torcida também veste como tons claros de azul, verde escuro, verde mar, violeta, roxo e lilás. No Curral Zeca Xibelão, casa do boi, não são permitidas as cores do concorrente.
O vermelho é a cor principal do Garantido, mas nas cores complementares também utiliza tons avermelhados claros, laranja, rosa claro e escuro, rosé e terracota. No Curral Lindolfo Monteverde, não são permitidas as cores do rival.
Quem não escolheu um boi o melhor é usar cores neutras, como preto, branco, cinza e amarelo.
A rivalidade é tão evidente que até grandes marcas costumam homenagear os dois. Um exemplo são os refrigerantes e cervejas. Mesmo que o produto tenha uma cor predominante coincidente a de um dos bois, as empresas produzem unidades com a cor do outro.
Isso também ocorre com as companhias aéreas, que neste período aumentam o número de voos para região por causa do festival.
Parintins para todo o Brasil
As apresentações dos bois são ricas em beleza, criatividade e tecnologia.
Para trazer algo novo nas apresentações e ao público, os bois investem há anos para tornar os movimentos das alegorias, um dos quesitos analisados pelos jurados, cada vez mais realista.
Kennedy Prata, um dos artistas responsáveis pelas alegorias do Caprichoso, conta que, ao longo dos anos, foram desenvolvidos diversos experimentos até chegar na robótica, para dar cada vez mais movimento às alegorias.
Ainda criança, Kennedy começou na escolinha de arte do boi e se dedicou à parte de desenho. Passou pelas áreas de pintura e esculturas, sendo chamado para trabalhar em escolas de samba do Rio e atualmente está na Beija-Flor de Nilópolis, escola do Grupo Especial do carnaval carioca.
“A gente é remunerado por isso, mas ali existe mesmo a paixão pela nossa cidade e nossa cultura. Ela é mais distante do Brasil todo. Aqui é muito difícil chegar o material, que precisa ser trazido por embarcações. É tudo muito longe, mas é um orgulho ser parintinense e levar a nossa cultura para fora”, completou.
As toadas também são um item de destaque dos bois. Ronaldo Barbosa, um dos autores do Caprichoso, explica que o boi traçou uma estratégia um ano antes do festival para dividir nas genéricas, que são as destinadas a animar as galeras, as de trabalho, que são as técnicas orientadas de acordo com o projeto do ano.
Fazendo uma relação com as escolas de samba, Adriano Aguiar, disse que seria como ter um samba-enredo para cada ala. Uma música da comissão de frente, da primeira ala, das baianas, abre alas e do último carro.
No caso do boi, para explicar a temática toda é como se fossem pequenos sambas-enredos.
“Tem também as que não são presas a nenhuma temática, que são as que chamamos de toadas de galera. É mais para a torcida, cantar, pular, extravasar. As toadas de lendas do item Amazônia, de ritual e a tema são totalmente com direcionamento. Por noite vai contar a história de determinada etnia, de conto amazônico e ritual indígena”, disse, acrescentando que as toadas direcionadas são obrigatoriamente diferentes em cada dia.
Cada boi tem que levar para a Arena 21 itens coletivos e individuais, que são avaliados por nove jurados, que observam se o tema foi bem explicado.
A divulgação das notas e o resultado oficial é no próprio Bumbódromo. O resultado da competição é conhecido no primeiro dia seguinte ao encerramento das apresentações.
Investimento
O investimento para a realização do festival é alto. Segundo o secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, o governo do estado destinou R$ 3 milhões para cada boi. Já a prefeitura reservou R$ 5 milhões para cada um. Além disso, os bois recebem investimentos com base na Lei Rouanet que alcançam R$ 20 milhões. Os recursos são empregados na realização dos temas defendidos pelos bois.