“São plantações que se agregam uma à outra. Planto aipim, mas do lado planto milho que vai jogar nitrogênio para a planta do aipim. É consorciado. É toda uma dinâmica diferente. Não é a grande quantidade de produtos, mas é consciência de que a terra está sana e recebe aquilo que precisa para produzir da forma correta”, disse à Agência Brasil.
Para Mateus André, que divide a barraca com Francisco, o grande gargalo do pequeno produtor continua sendo o transporte. “Infelizmente não temos no Brasil uma forma de escoamento democrática. É distância, frete sempre tem esse empecilho todo. Eu faço entrega a domicílio e participo também de feiras patrocinadas pela Abio [Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro] do Circuito Carioca de Feiras, onde tenho uns pontos e escoo um pouco desses produtos”, conta
Segundo o agricultor, participar da Feira é uma forma de dar mais visibilidade aos produtos de pequenos produtores.
“É importante que a sociedade de uma maneira geral reconheça o trabalho do pequeno agricultor porque somos nós, na verdade, que produzimos o alimento são e sem agrotóxicos, sem importações, utilizando aquilo que temos aqui. Não é só orgânico, mas a característica principal que é a sustentabilidade e o respeito pela terra”.
Marcos André, que produz mel a partir de abelhas nativas sem ferrão, está satisfeito de poder apresentar o seu produto na Feira que considera muito qualificado. De acordo com ele, essas abelhas têm origem no Brasil e ao longo dos anos ajudaram a polinizar florestas do país. Ele destacou ainda a importância desta abelha em áreas reflorestadas.
“As árvores não são grandes o suficiente e não têm oco para as abelhas nativas, então o meliponicultor, quando cultiva a abelha nativa ele está oferecendo um espaço para que exista esta abelha em áreas recém florestadas”, explica.
Marcos André conta que a produção na Fazenda São Marcos ainda é pequena, mas tem avançado, e espera em breve chegar a uma quantidade maior de mel produzido no local. “Estou trabalhando com três espécies e à medida que a gente for expandindo vai aumentando o número de espécies”, comentou, completando que o valor agregado no mel dessas abelhas é maior do que de a do tipo apis .
“A abelha jataí [um tipo de nativa], por exemplo, produz de meio a um litro de mel por ano, então elas têm um valor agregado maior e também para a saúde. Elas desenvolveram vários antibactericidas. O mel e o própolis delas são antibióticos naturais. Ela tem uma produção bem menor, mas a gente cobra um valor maior por todo benefício que traz para as pessoas e para o meio ambiente”, disse.
O produtor explicou que é chamado de apicultor quem produz a partir da abelha apis, que tem origem na Europa e n África.
Isabela Santos Gonçalves Costa, da Firmeza Hub, empresa que organizou a feira, disse que o papel do evento é trazer a diversidade dos produtores para se encontrar com os consumidores de uma forma mais próxima. “Além da feira voltada à venda de produtos populares e de alimentos a gente tem os barracões dos saberes, que são espaços acadêmicos, de fala e de compartilhamento”, completou, destacando a presença de alunos de escolas públicas que visitam a feira no Parque do Passeio
Além disso, a escolha do Parque do Passeio Público, no centro do Rio, local que já teve muita representação no passado e atualmente é pouco aproveitado por moradores e visitantes da cidade, foi intencional. “Estamos fazendo um processo de revitalização de espaços públicos por meio da agroecologia e de incidência cultural. Estamos ocupando o Parque do Passeio com pessoas do Brasil inteiro, de comunidades tradicionais, quilombolas e com uma produção negra, disse.