Manuscritos e primeiras edições recontam história de Machado de Assis
A Ocupação Machado de Assis, aberta à visitação neste sábado (18), não tem uma ordem cronológica ou caminho prévio a ser percorrido. A ideia de que cada pessoa navegue livremente pelos manuscritos originais, primeiras edições, fotos e vídeos foi pensada a partir dos próprios livros do escritor.
“A gente quis resgatar o espírito do Machado, daquele sentimento que ele provoca nos leitores, que as pessoas, dentro da sua obra acabam fazendo as escolhas também, as compreensões que elas mesmas têm da narrativa”, explica a coordenadora de Curadorias e Programação Artística do Itau Cultural, Andreia Schinasi. O espaço, localizado na Avenida Paulista, região central da capital, recebe a mostra em homenagem ao escritor.
Nas vitrines, muitas das primeiras edições de vários livros de um dos mais importantes escritores brasileiros e de língua portuguesa, como Quincas Borba, de 1891 e Desencantos: fantasia dramática, de 1861. Ao lado, em muitos casos, os contratos com os editores em que vendia os direitos sobre sua obra. Nesses originais é possível descobrir, entre outros detalhes, que o romance Esaú e Jacó se chamaria, inicialmente, Último, entre outras rasuras que nunca foram publicadas.
Há ainda documentos menos esperados, como um parecer de 1862, a respeito da tradução da comédia Os Nossos Íntimos, do francês Victorien Sardou, do período em que trabalhou como censor teatral.
Vozes negras
O espaço se inspira na decoração do século 19, a partir da mobília que Machado usava em sua casa, no número 18 da Rua Cosme Velho, no Rio de Janeiro. É possível sentar em cadeiras com o estilo da época para assistir os vídeos em que atrizes negras interpretam trechos das poesias, peças e romances do escritor. “A gente está diante também de um Machado que foi embranquecido. Então, por isso também que a gente, a partir dos documentos, a partir de várias análises críticas que estão distribuídas aqui também no audiovisual, e essa coisa das leituras, também faz um paralelo com a contemporaneidade”, explica Andreia sobre a opção de marcar a negritude de Machado, que muitas vezes, foi retratado como um homem branco.