Refúgio
“Eu, jovem da diáspora em Lisboa, me reencontrei nesses lugares. Eram pequenos santuários, onde a gente ia não só matar saudade, mas também, de certa forma, ganhar de volta a nossa dignidade, enquanto seres pensantes que ocupam o espaço europeu, mas que por vicissitudes da vida estamos em um lugar da pirâmide social onde nos sentimos carne de canhão para o sistema capitalista. Estamos ali como operários de fato. E, às vezes, é negada a nossa subjetividade. Eu sempre senti que a kizomba devolvia a nossa subjetividade, o nosso sentido de pertencimento. Era a verdadeira cultura comunitária”, reflete.
Como uma cultura diaspórica, a kizomba tem influências e semelhanças com ritmos de diversas partes do mundo. Epalanga detalha que o ritmo surge a partir do semba, “que é um dos ritmos tradicionais em Angola, muito em voga nos anos 1950 e 1960”. Além de beber de movimentos musicais do Congo e do Caribe, especialmente do zouk das Antilhas. Assim como no ritmo caribenho, na kizomba os pares também dançam “agarradinhos”.
“É um lugar que você sente o calor humano da sua comunidade. E quando eu falo comunidade, não falo só de pessoas negras ou racializadas, é o sentido mesmo dessa massa periférica que está na camada mais baixa da pirâmide social que tem na kizomba a fonte da alegria extrema e absoluta”, define Epalanga.
Encontro de povos
Sobre o nascimento dessa cultura, o artista aponta como fundador o encontro de dois povos africanos em Portugal. “Quando um grupo de jovens angolanos, notadamente Eduardo Paim e Ruca Van-Dunem, se mudam para Lisboa, levando esses ritmos, essas músicas, essa inspiração, quando chegam em Lisboa, encontrando a comunidade caboverdiana que estava muito presente, aí passa surgimento da kizomba de fato”, diz o escritor, que em seu livro, Também os Brancos Sabem Dançar, reconstrói as origens do kuduro. Outro ritmo diaspórico que ganhou repercussão mundial. Como influências determinantes para esse surgimento, Epalanga destaca não só a própria kizomba, como ritmos tradicionais portugueses e a música eletrônica.
Apesar da importância social, o artista acredita que falta reflexão estruturada sobre a cultura da kizomba. “Queremos, acima de tudo, criar memória. Aí, essa proposta de usar o termo museu e não só festival da kizomba. O termo museu está colocado ali estrategicamente. Nós queremos produzir pensamento a partir da memória da kizomba”, explica.
Comida, estilo e música
O Design Museum, que conta também com a curadoria do multiartista Nástio Mosquito, acontece no Copan, edifício icônico do centro paulistano. A programação passa pela Galeria Pivô, pela Livraria Megafauna e pelo Cuia Café.
As atrações começam com um matabicho – café da manhã angolano – servido pela chef Bel Coelho. O espaço da galeria vai receber ainda um mercado de beleza e estilo. Além dos debates, acontecem oficinas para quem quiser aprender alguns passos de kizomba.
A programação completa pode ser vista na página www.kizombadesignmuseum.com