Iphan recebe até sexta-feira contribuições sobre samba de bumbo
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebe, até sexta-feira (7), contribuições sobre o samba de bumbo paulista, expressão cultural negra que está no centro de uma proposta de registro que tramita na autarquia e que pode se consolidar, com isso, como patrimônio cultural do país.
O Iphan está recebendo as sugestões sobre o samba de bumbo paulista por meio de formulário digital. Há também a alternativa de se enviar as contribuições pelo e-mail do Iphan.
Coube ao Fórum de Culturas Populares e Tradicionais, que tem sede em São Paulo, a iniciativa para início do processo de consulta pública. O samba de bumbo paulista mescla elementos de dança, poesia e religião e tem origem nas fazendas de café do interior do estado, no século 19. Com a migração de uma parcela da população do campo para a capital, na virada para o século 20, a manifestação se difundiu. Os municípios de Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba contam atualmente com dois grupos tradicionais importantes, o Samba do Cururuquara e o Grito da Noite, além de outros contemporâneos.
Santana de Parnaíba foi o destino de uma parcela significativa de negros escravizados no contexto da mineração de ouro no país, e a região Cururuqura tornou-se referência no campo do samba de bumbo. O que se narra é que, para marcar a abolição da escravatura, em 1888, os ex-escravizados foram à Capela de São Benedito, conhecida como Capela das Palmeiras, e lá permaneceram por quatro dias, tocando samba de bumbo.
Conta-se que plantaram quatro coqueiros em frente à capela e que seus descendentes realizam, todos os anos, durante a Festa de Cururuquara, um encontro no local, para lembrar o 13 de maio, data de assinatura da Lei Áurea.
No samba de bumbo, predominam instrumentos de percussão, como a caixa, sem nenhum de corda ou sopro, conforme explica o coordenador da Casa do Samba Parnaibano, João Mário Machado. Segundo ele, a manifestação assimila um traço muito próprio da música africana, que consiste em fazer sobressair as tonalidades mais graves, o que, neste caso, aparece no bumbo, associado ao umbigo do corpo humano e que recebe um nome, quando é feito. Os instrumentos que produzem notas mais agudas fazem apenas a marcação da melodia. Tal peculiaridade é encontrada em qualquer grupo de samba de bumbo, independentemente do "sotaque", que é o conjunto de particularidades de cada um, como acontece em outras manifestações de cultura popular, como o maracatu.
"O improviso nos versos também é uma característica. A gente, muitas vezes, canta verso que existe há muitos anos, que os mais velhos passaram para a gente, mas tenta sempre improvisar, utilizando metáforas. Assim como a capoeira, em que se tinha que fingir que se estava dançando, quando, na verdade, se estava aprendendo a lutar, no samba, ao cantar, era um meio de se comunicar", esclarece Machado.