Às 5h da manhã, Maria de Lourdes de Souza Nascimento, 59 anos, já está de pé cuidando da plantação e da pequena criação de galinhas, porcos e gado. Os afazeres diários, no entanto, não se resumem ao trabalho com a terra e os animais. Ela também é coordenadora da Rede Cerrado e, atualmente, está na Secretaria de Agricultura e Cooperativismo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha, em Minas Gerais.
Na secretaria do sindicato, Maria ajuda a coordenar ações em mais de 30 municípios. Entre as atividades estão: formação, geração de renda e organização das marchas para denunciar e reivindicar condições melhores para a comunidade.
“O trabalho que fazemos na Rede Cerrado visa a proteção dos biomas, fauna e flora e dos povos e populações tradicionais”, conta Maria de Lourdes. “Nosso trabalho é focado na agroecologia, garantindo o bem estar das mulheres e homens do campo”.
Mesmo com foco na agricultura sustentável, ela aproveita todas as oportunidades para conscientizar as mulheres da comunidade no sentido de não aceitarem qualquer tipo de violência. "Os desafios são enormes, mas não podemos esmorecer. A mulherada precisa se amar mais e fugir dos ambientes violentos. E parar de morrer em nome do amor".
Ela conta que no seu trabalho, enfrenta o machismo patriarcal. "Não me deixo abater. Defendo as mulheres, a agricultura familiar e o meio ambiente. Não tenho dúvidas de que sem esses três elementos não existiria vida no planeta", completa.
Por isso, ela entende que ajudar a conservar o Cerrado é tão importante. "O Cerrado é nossa caixa d'água e não é à toa que é tão cobiçado pelas mineradoras. Mas as catástrofes do planeta nos mostram que estamos no rumo certo, que é preservar para continuar vivendo".
Para Maria de Lourdes, as ações vêm para mudar as adversidades ambientais. “Somos poucos e poucas nessa luta, mas estamos fazendo a diferença no planeta, nas mudanças climáticas. Somos como o beija-flor do incêndio: estamos fazendo nossa parte!”, disse referindo-se à fábula do beija-flor que, diante de um grande incêndio na floresta, colabora levando gotas de água em seu pequeno bico na tentativa de combater as chamas.
Cerrado Resiliente
Estes exemplos são apenas dois de diversos movimentos que envolvem centenas de mulheres no resgate de suas tradições e de seus ancestrais e fazem o trabalho de conservar a biodiversidade, em iniciativas promovidas pelo Projeto Ceres - Cerrado Resiliente.
“O projeto Ceres começou em julho de 2020, para promover a sustentabilidade de paisagens resilientes no Cerrado, visando a inclusão socioeconômica, a proteção da sociobiodiversidade e a mitigação e adaptação das mudanças climáticas”, explica Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), uma das organizações que faz parte do Projeto Ceres.
Segundo ela, um dos componentes do Ceres é o apoio a projetos socioambientais por meio do programa Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS).
“Nesse contexto lançamos dois editais e apoiamos 31 projetos de organizações de base comunitária espalhadas por todo Cerrado que contribuem com o alcance dos objetivos do Projeto Ceres”, completa Isabel.
Os projetos são focados em gestão territorial, em conservação e produção de produtos da sociobiodiversidade, produção sustentável de agricultores familiares.
O Ceres é realizado pelo WWF-Brasil, WWF-Paraguai e ISPN, com coordenação do WWF-Holanda e apoio financeiro da União Europeia. O projeto tem duração de quatro anos.