Se a arte serve para extravasar a criatividade e provocar reflexões, ela também tem um papel muito importante como testemunha da história. E é pensando na arte não só como uma imagem, mas também como um documento para a memória de um país, que o Centro MariAntonia da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, inaugurou esta semana nova exposição: Imagem Testemunho – Experiências Artísticas de Presos Políticos na Ditadura Civil-Militar. A mostra fica em cartaz até o dia 10 de dezembro.
A exposição apresenta 41 trabalhos que foram produzidos entre as décadas de 60 e 70 por presos políticos da ditadura militar brasileira. Esses trabalhos foram realizados em diferentes presídios do estado de São Paulo, incluindo alguns dos lugares mais violentos desse período como o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Entre as obras há desenhos, colagens, xilogravuras, bilhetes trocados entre os encarcerados, anotações e serigrafias que foram reunidas pelo jornalista e ex-preso político Alípio Freire e que agora integram o acervo do Memorial da Resistência.
“O Alípio ficou cinco anos preso. Ele foi preso em 1969. Já antes, o Alípio tinha uma atividade de artista plástico. No presídio, se juntaram outras pessoas também, como o Sérgio Ferro. Lá, eles passaram a discutir arte e a trabalhar com isso. Todas as tendências modernas, como a pop art, tudo isso era motivo de discussão dessas pessoas. E eles não ficavam em um núcleo fechado: eles ampliavam essa discussão para todos da cela. Eu digo até que a cela do Alípio era um ateliê”, contou Rita Maria de Miranda Sipahi, advogada, ex-presa política e integrante da Comissão da Anistia. Rita foi esposa de Alípio Freire (1945-2021), um dos artistas que são apresentados na mostra.