Em seu título anterior no Grupo Especial, o carnavalesco Leandro Vieira havia cruzado a Sapucaí com uma Mangueira que empunhou a bandeira brasileira em verde e rosa, com a frase Índios, Negros e Pobres no lugar do Ordem e Progresso. O ano era 2019, um governo de extrema direita estava recém-empossado e o assassinato da vereadora Marielle Franco não havia completado um ano. O rosto da vereadora estampou bandeiras no desfile, e seu nome estava no samba-enredo que se tornou um grito de resistência. Ao levantar a taça na Sapucaí novamente este ano, pela Imperatriz Leopoldinense, Leandro Vieira fez carnaval em um Brasil que empossou um governo progressista e que nomeou Anielle Franco, irmã de Marielle, ministra da Igualdade Racial, para reduzir a exclusão dos índios, negros e pobres.
“O carnaval de 2023 da Imperatriz também é uma marca de seu tempo. É uma marca de orgulho da brasilidade, é uma marca de retomada de um Brasil que nos interessa visualmente, conceitualmente, um Brasil regional, e do quanto o regionalismo e a pluralidade artística são fundamentais nesse aspecto de brasilidade”, disse Leandro Vieira.
Em entrevista exclusiva à
Agência Brasil, por telefone, durante suas férias, o carnavalesco, que soma cinco títulos em oito anos, disse que sentido tentou dar ao seu carnaval nesses dois momentos, e como busca em seu estilo de trabalho aproveitar o que cada escola de samba tem como essência.
Carioca do Jardim América, na zona norte do Rio de Janeiro, Leandro Vieira tem 39 anos de idade e é formado em Belas Artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu primeiro desfile como carnavalesco foi com a Caprichosos de Pilares, em 2015. No ano seguinte, ele estreou com título no grupo especial, com a Mangueira, e um enredo sobre a cantora Maria Bethânia.
O carnavalesco continuou à frente da Verde e Rosa, conquistando também o título de 2019, com o carnaval Histórias de ninar gente grande. Em 2020, veio seu primeiro título com a Imperatriz, na Série A, garantindo a volta da escola da Leopoldina ao Grupo Especial.
No carnaval do ano passado, fez seu último desfile com a Mangueira, quando terminou em sétimo lugar e ficou de fora do Desfile das Campeãs pela primeira vez. Apesar disso, na Série Ouro, antiga Série A, veio outro título, garantindo a volta da Império Serrano para o Grupo Especial de 2023, de onde foi novamente rebaixada após o último desfile.
Neste ano, o carnaval da Imperatriz Leopoldinense contou uma criativa versão de como seria a vida após a morte de Lampião, recusado pelo inferno e pelo céu. O enredo se conecta com a forte presença da cultura nordestina nos complexos de favelas da região da Leopoldina, incluindo os complexos do Alemão e da Penha, e a Imperatriz fez um desfile quente e cheio de autoestima.