Agência Brasil: Você teve algumas composições que foram bem-sucedidas. Como foi sua experiência como compositor?
Rubem Confete: Eu fiz algumas composições, mas nunca me interessei muito, por causa de sociedade arrecadadora, de editores. Pro sambista, era muito difícil. O Silas de Oliveira, do Império Serrano, autor de Aquarela Brasileira e outros sucessos, saiu pelas ruas da cidade, percorrendo editoras, gravadoras, para buscar 500 cruzeiros pra comprar os cadernos de escola dos filhos. Todos disseram não. Quando o Silas faleceu, uma editora musical mandou uma coroa de flores bonita, no valor de 700 cruzeiros. Então, era muito difícil.
Assisti a muita humilhação de compositores. Isso me afastou muito desse negócio de compor. Eu tinha muito receio das gravadoras. Eu tinha uma coluna de música popular no [jornal] A Tribuna da Imprensa. Eu vivia dentro de gravadoras. Eu ouvia o que eles falavam de sambistas. Era um preconceito tremendo. Pensei: “não vou ficar nisso, não”.
Agência Brasil: Como foi que o senhor chegou ao João Donato e compôs Xangô é de Baê?
Rubem Confete: O Adelzon [Alves] ia produzir um disco com letras minhas e música do João Donato. Mas o Adelzon abandonou o disco. Então só ficou aquela mostra [uma música]. Mas as 12 letras [do disco do João Donato] seriam minhas e eu estaria em outro patamar agora [risos].
Agência Brasil: Teve também o Pagode do Exorcista, que foi regravada pelo Wilson Simonal...
Rubem Confete: O Pagode do Exorcista foi uma brincadeira minha com o Nei Lopes do tempo do filme do Exorcista. Eu até ganhei uma graninha. Eu tava com um sapato furado e deu pra comprar um tênis [risos]. Você ganhava um advance [dinheiro oferecido na hora do contrato] e depois não via mais nada. Tem execução, vendagem de disco, mas você não participava de nada.
A Xangô é de Baê [gravada por Caetano Veloso] a Joyce também gravou lá pro Japão. De vez em quando pinga um dinheirinho. Rende pouco, mas ainda rende. O compositor tinha que viver de produção. Tinha que produzir muito.
Agência Brasil: O que o carnaval representa hoje pra você?
Rubem Confete: O carnaval hoje pra mim é apenas uma grande saudade, um encontro com os amigos. Aliás, a maioria se foi. Quase que todos [os amigos] se foram. [No último carnaval, de 2022], o Império da Tijuca, que desfilou no grupo de Ouro [o grupo de acesso] prestou uma homenagem ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Quilombo, do Candeia. O Candeia me colocou como presidente da ala dos compositores e eu era mestre-sala. Então eu desfilei no Império da Tijuca por causa dessa homenagem. E desfilei no Salgueiro, lá no último carro, lá em cima, em um carnaval que falava sobre “resistência”.
Agora só desfilo quando sou convidado. Este ano, não fui convidado, mas no carnaval de 2024, vou estar na Intendente Magalhães. Porque sou presidente de honra de uma escola que está surgindo, América Samba e Paixão. Eu vou ser o presidente de honra e o [tema do] enredo.