Rio: escolas fecham desfile da Série Ouro de olho no Grupo Especial
No segundo dia de desfiles da Série Ouro, a segunda divisão do carnaval carioca, oito escolas passaram pela avenida Marquês de Sapucaí, em busca de uma vaga no Grupo Especial, a elite do samba, em 2023. Diferentemente do primeiro dia, nenhuma escola ultrapassou o tempo limite de 55 minutos.
O início dos desfiles não atrasou tanto quanto no primeiro dia, nem houve qualquer acidente que interrompesse o cronograma. Por isso, apesar de ter mais escolas do que no primeiro dia, o segundo dia da Série Ouro terminou mais cedo, por volta das 6h de hoje (22). No dia anterior, os desfiles só haviam acabado depois das 7h.
Antes da primeira escola entrar na passarela do samba, o locutor oficial leu uma nota da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liga RJ), responsável pelos desfiles da Série Ouro, em que lamentou o acidente ocorrido na noite anterior, envolvendo um carro alegórico e a menina Raquel Antunes, de 11 anos, que teve uma perna amputada.
Mussum é homenageado
Quem abriu a passarela foi a escola Lins Imperial, que não pisava no Sambódromo há dez anos e que entrou na avenida pouco depois das 21h. A escola do bairro do Lins, na zona norte do Rio, que teve rápidas passagens pelo Grupo Especial nas décadas de 70 e 90, levou 1.900 componentes em 25 alas, para contar a história de Mussum, sambista e humorista que conquistou o Brasil com o grupo Os Trapalhões.
Um dos destaques foi o sósia de Mussum, que se apresentou na comissão de frente, com os trejeitos do comediante.
A Inocentes de Belford Roxo, que teve sua única participação no Grupo Especial em 2013, entrou logo em seguida, com um enredo sobre a Noite dos Tambores Silenciosos, tradição do carnaval pernambucano, e 2.200 componentes em 17 alas. A musa da escola, Lorrany Cristine, desfilou grávida de oito meses.
O abre-alas, Tambores para os Ancestrais, trazia um enorme búfalo que soltava fumaça pelas narinas.
Flamengo na avenida
A terceira escola que desfilou foi a tradicional Estácio de Sá, grande campeã do carnaval carioca em 1992, mas que, nos últimos 25 anos, só participou do Grupo Especial três vezes, todas elas tendo sido rebaixada.
Neste ano, a agremiação do centro da cidade apostou numa reedição de seu enredo de 1995 sobre o Flamengo, quando conseguiu uma sétima posição, e apresentou 22 alas e 2.100 integrantes.
A comissão de frente simulou um vestiário. Os dançarinos simularam uma troca de roupa, em que colocaram uma camisa rubro-negra, e jogaram bolas para a torcida. O manto rubro-negro flutuou na avenida com a ajuda de drones.
Ator é lembrado
Já Acadêmicos de Santa Cruz, da zona oeste carioca, levou para o Sambódromo o maior contingente de componentes (2.500 pessoas) e 22 alas, com um enredo sobre o ator Milton Gonçalves. A escola está afastada do Grupo Especial há quase duas décadas.
A última alegoria trazia uma enorme escultura do ator, que movimentava os braços. O carro representava a participação de Milton na novela O Bem-Amado, em que interpretou o personagem Zelão das Asas.
A quinta escola a desfilar foi a Unidos de Padre Miguel, também da zona oeste da cidade, que frequentou o Grupo Especial nas décadas de 60 e 70, mas que não figura na divisão de elite do carnaval carioca há 50 anos. Com 2.200 integrantes e 22 alas, a agremiação falou do orixá Iroko.
Na comissão de frente, o tripé tinha uma imensa árvore que se movimentava. Já no abre-alas, a cabeça do boi vermelho, símbolo da Padre Miguel, soltava fumaça pelo nariz, assim como o da Inocentes, e também se movia.
Acadêmicos de Vigário Geral
A Acadêmicos de Vigário Geral, escola da zona sul carioca que nunca desfilou no Grupo Especial, se apresentou com o menor contingente: 1.100 componentes em 20 alas. A aposta para o acesso inédito à divisão de elite foi um enredo sobre a Pequena África, região da zona portuária carioca onde chegavam navios negreiros.
A comissão de frente fez uma homenagem às vítimas negras da violência, levando cartazes com nomes e fotos daqueles que perderam suas vidas. Um deles apresentava a frase “vidas negras importam”.
Império da Tijuca
A Império da Tijuca entrou na avenida com um enredo sobre a escola de samba Quilombo, agremiação do subúrbio carioca criada na década de 70 por Candeia e outros sambistas.
Com 1.600 integrantes e 19 alas, a agremiação da Tijuca, na zona norte, buscou levar a atmosfera do carnaval dos anos 70 para a avenida e representou, em sua comissão de frente, a evolução de baianas e de um casal de mestre-sala/porta-bandeira, com o pavilhão da Quilombo.
Os desfiles da Série Ouro foram encerrados com a Império Serrano, uma das escolas mais tradicionais do Rio, com nove títulos do Grupo Especial, sendo o último há 40 anos. A agremiação apostou numa homenagem ao capoeirista Besouro Mangangá. Na comissão de frente, houve movimentos de capoeira e até a simulação de uma luta.
Com dois mil integrantes e 18 alas, entrou na avenida com o dia ainda escuro e terminou seu desfile já depois do amanhecer.
A escola campeã da Série Ouro desfilará no Grupo Especial em 2023. As duas últimas colocadas serão rebaixadas para a Série Prata, a terceira divisão que se apresenta na avenida Intendente Magalhães, na zona norte da cidade do Rio.