Entretanto, num país onde 19% da população ainda não têm acesso à internet, torna-se difícil colocar todas as crianças de uma geração em alguns estereótipos. Sem políticas públicas de acesso à tecnologia, a exclusão pode ser ainda maior. A falta de acesso a equipamentos e internet faz com que os excluídos dessa geração também não tenham as mesmas oportunidades que outros para alcançar um mercado de trabalho que já se projeta em cima do mundo virtual.
Na escola pública Comunidade de Aprendizagem do Paranoá (CAP), em Brasília, grande parte das crianças não têm acesso integral às tecnologias. Para amenizar esse distanciamento da realidade digital, a escola conseguiu arrecadar 16 tablets durante a pandemia. “Precisamos muito que isso chegue o quanto antes e que isso potencialize o processo de comunicação social e de relação com o mundo e construção de conhecimento para todas as crianças, de todas as camadas”, avalia o professor Matheus Fernandes de Oliveira.
Mas a escola, por adotar um modelo que rompe com o padrão de educação tradicional, oferece aos alunos o desenvolvimento de outros tipos de habilidades, também essenciais para a independência e convívio social das crianças. A diretora da escola, Renata Resende, lembra que o modelo usado na educação tradicional remete ao século 19. “Há uma necessidade de readaptação do formato da escola a esses novos tempos, que é algo não apenas da geração Alpha, mas que a gente já sente há muito tempo”, avalia.
Para José Moran, especialista em educação e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), é essencial que se reveja esse modelo educacional. E é possível ter uma realidade híbrida, com jogos manuais e jogos digitais, por exemplo, o que for conveniente a cada momento. “O digital envolvido e um pouco de afeto é um caminho indispensável para essa geração”, afirma.
O assunto é o tema do próximo episódio do Caminhos da Reportagem, “Geração Alpha: crianças além de tecnologia”, que vai ao ar neste domingo (13), às 20h, na TV Brasil.