A Nasa anunciou nesta quinta-feira o adiamento para março do ônibus espacial Atlantis, a fim de corrigir erros apontados por um grupo de especialistas. "Praticamente desprezamos as possibilidades de lançamento em setembro, novembro e janeiro", que eram os existentes antes de março, disse o subdiretor de operações da agência espacial, Bill Gerstenmaier, em entrevista coletiva.
O diretor da Nasa, Michael Griffin, garantiu que os "Estados Unidos cumprirão os compromissos que têm consigo mesmo e com outras nações para a construção da Estação Espacial Internacional", o que requer mais vôos de naves.
Um relatório de um grupo de especialistas divulgado ontem afirmou que alguns dos problemas que causaram o desastre do Columbia não foram resolvidos antes da retomada das missões das naves.
O Columbia se desintegrou em 1º de fevereiro de 2003 ao retornar de uma missão científica em uma tragédia que causou a morte de seus sete tripulantes e forçou a suspensão dos vôos de todas as naves.
A tragédia aconteceu porque no lançamento, um fragmento de isolante do tanque de combustível principal se desprendeu e bateu na asa esquerda da nave, o que criou uma brecha na camada de proteção térmica e permitiu a entrada de gases muito quentes durante a reentrada na atmosfera.
Esses problemas ocorreram novamente em 26 de julho durante o lançamento do Discovery, embora sem resultados trágicos, segundo o relatório de uma comissão de supervisão da Nasa.
Em um anexo ao relatório da comissão de especialistas, preparado antes do vôo do Discovery, sete dos 26 membros do grupo assinalaram que "parece que as lições não foram aprendidas". "Esperávamos que os responsáveis da Nasa tivessem estabelecido padrões mais altos para depois do Colúmbia. Em geral, estamos decepcionados", assinalou este grupo.
Griffin lembrou hoje que durante mais de dois anos a Nasa gastou aproximadamente US$ 1,4 bilhão e dedicou seus esforços a identificação e correção de defeitos, e que "a missão do Discovery foi bem-sucedida em quase todas as áreas".
Durante o lançamento do Discovery, as câmaras da Nasa tiveram o desprendimento de pedaços de espuma isolante do tanque externo de combustível, similar ao que causou os danos no Colúmbia que provocaram o acidente. A Nasa anunciou, após estudar essas imagens, a suspensão de todas as missões até solucionar o problema do isolante.
O Atlantis está pronto em Cabo Canaveral para seu lançamento, para uma missão que inicialmente estava prevista para setembro.
"Durante 113 missões de naves, nunca prestamos muita atenção ao desprendimento de espuma isolante. E pagamos o preço mais alto que qualquer agência pode pagar: perdemos sete astronautas, perdemos uma nave", lembrou Griffin.
Gerstenmaier disse que os técnicos analisam "a enorme quantidade de dados" recolhidos durante a missão do Discovery para determinar por que a espuma isolante que cobre o tanque, cuja parede de alumínio tem 25 milímetros de espessura e contém 1,8 milhões de litros de hidrogênio e oxigênio líquidos, se desprende.
O Atlantis já está encostado em um destes tanques, e o que a Nasa tentará é garantir que não haja desprendimentos ou que, se houver, ocorram quando já não sejam perigosos para a nave", explicou Gerstenmaier.
Os Estados Unidos estrearam sua primeira nave em 1981, e após os acidentes do Challenger em 1986 e do Colúmbia --cada um com a morte de sete astronautas-- ficam três em serviço: Atlantis, Discovery e Endeavor.
As naves desempenharam uma função crucial na construção da estação internacional Alfa, que orbita a 385 quilômetros da Terra, mas a Nasa já anunciou que as retirará de serviço por volta de 2010.
Espera-se que em outubro ou novembro a Nasa anuncie o design das naves que substituirão as antigas.