Dramas! Há pessoas que parecem viver em novelas mexicanas. Suas reações emocionais são frequentemente amplificadas, intensificadas e até distorcidas. Quanto mais o lado emocional está inflado, mais a clareza de pensamento está turvada.
Os dramas desgastam profundamente. Emocionalmente são exaustivos, drenam nossas energias e nos deixam um farrapo, atrasam nossa vida, tarefas, projetos e sonhos. Cognitivamente são absurdos, porque muitas vezes não se fala coisa com coisa. Falta lógica, falta sentido, falta argumento. É uma orgia do caos. Ficamos como barata tonta, atordoados, sem entender direito o que aconteceu e, sobretudo, por que aconteceu, pois o dramalhão muitas vezes serve para esconder outras verdades.
No drama descarregamos infelicidades e desconfortos que nem sempre tem a ver com a razão que desencadeou o drama. A intensidade do drama é sempre proporcional à quantidade de coisas que estão debaixo do tapete, intocadas e escondidas. É mais fácil, apesar de desgastante, viver o dramalhão do que se dar ao trabalho de levantar o tapete e ver o que tem lá, o que vamos fazer com aquilo e como lidar com aquilo. O drama evita mudanças, nos colocando no lugar de vítimas. O drama é malandro.
Um dos estimuladores mais eficientes para gerar um dramalhão é o álcool. Após a alegria pode aparecer o drama e, sobretudo, após muito álcool ingerido de forma continuada e por muito tempo, o drama é inevitável. Quanto mais drogas, lícitas e ilícitas (o álcool é uma droga como a heroína ou a maconha), mais os dramas se tornam intensos e sem lógica, de modo que não se consegue chegar a nenhuma solução, e por isso hão de se repetir exaustivamente sem fim.
Na crise dramática, o alvoroço é como um tsunami emocional. Mesmo que ilógico nos deixa no mínimo confusos, e muitas vezes feridos e ofendidos. A mágoa demora dias para ser diluída e superada e quando a experiência se repete continuadamente e por longo tempo, camadas de mágoas vão se sobrepondo a camadas de tristeza, decepção e vazio interior. Surge a dúvida sobre o que diabo fizemos de errado. Não sabemos. Tentamos dar sentido ao que aconteceu. Repercorremos a trajetória dos fatos e das palavras. Buscamos relembrar exatamente onde é que erramos, o que fizemos que produziu o drama.
A resposta é que quem gosta de um drama, ainda mais quando este é turbinado pelo álcool, não precisa de motivos, precisa só de oportunidade. Muita gente, cria dramas para desviar a própria atenção e a dos outros de si mesmos. Pessoas que recorrem a drogas para aliviar o peso da vida desenvolvem em paralelo uma sempre maior insatisfação consigo mesmas (porque não conseguem consertar ou melhorar sua vida) junto a um crescente sentimento de culpa (porque apesar de saber que estão fazendo errado, continuam fazendo). Como não se dão ao trabalho de arregaçar as mangas e enveredar pelo estreito e tortuoso caminho da melhora interior, da evolução de consciência, da humildade do aprender e crescer, elas repetem o mesmo erro buscando soluções imediatistas e ilusórias, e se afastam sempre mais da verdadeira saída de seus problemas.
Por isso, quando o drama começa é importante se ausentar, é importante não cair nessa que nada mais é que uma armadilha. Tape suas orelhas, se feche numa imaginária bolha de luz, reze, cante, se proteja. Dê uma volta, mude de quarto, ouça música. Proteja-se do tsunami. Não permita que a baixa autoestima do outro destrua a sua. Não permita que o sentimento de inferioridade do outro esmague sua autoconfiança.