Miami-Dade é o pior condado da Flórida para resolução de crimes, segundo dados do Departamento de Polícia do estado divulgados na semana passada.
Realmente, as estatísticas do ano civil de 2018 mostram que a polícia do condado de Miami-Dade resolveu a menor porcentagem de crimes registrados em qualquer condado do estado, tornando-se o pior lugar na Flórida para ser vítima de um crime.
Brasileiras relatam furtos sofridos recentemente na área de Miami-Dade e reclamam de pouco caso da polícia. Os fatos coincidem com os dados divulgados.
Em Miami-Dade, a porcentagem de crimes denunciados que levam a uma prisão é de apenas 15,4%, a mais baixa de todos os condados do estado. Isso significa que quase 85% de todos os crimes registrados em Miami-Dade não foram resolvidos. A taxa em todo o estado é de 20%, segundo dados do Florida Department of Law Enforcement (FDLE) divulgados pelo Miami New Times.
Adiciona a isso o fato de Miami ser apontada como uma das cidades menos seguras dos EUA. Num ranking de segurança, Miami aparece no 131º lugar de 182 cidades analisadas. Orlando foi classificada no 164º lugar e Fort Lauderdale, a maior cidade de Broward, ficou quase em último lugar, ou a número 181, segundo o relatório sobre segurança elaborado pelo WalletHub.
Em novembro, a brasileira Márcia Bittencourt foi vítima da falta de segurança nas ruas da Flórida. Com um carro alugado e fazendo compras a trabalho junto com um sócio, a empresária estacionou por alguns minutos apenas em Aventura para um lanche. Foi quando os ladrões aproveitaram para quebrar as janelas e furtar os objetos.
“Nós ficamos mais tranquilos porque estávamos vendo o carro lá fora. Mas assim que entramos estacionaram uma van preta ao lado, de forma que só víamos uma parte do carro. Foi muito rápido. Eles vieram seguindo a gente desde a loja da Apple, porque foi a última de onde saímos com várias sacolas”, conta. Foram mais de $4.500,00 dólares só de material da Apple, segundo a empresária, que fez a denúncia à polícia de Miami-Dade, mas sente que não há muito interesse em investigação a fundo deles.
Depois de verem o carro arrombado, a polícia foi acionada, mas segundo a empresária, eles não pareceram muito interessados em resolver o caso. “A polícia não quer saber. Se você foi roubado, eles vêm para fazer a ocorrência como um padrão só pra dizer que vieram, mas não vão te dar retorno, talvez pra dizer que não acharam o ladrão, mas não vão muito além disso, principalmente se for com turista. É como se não fosse nada, é rotina pra eles esses crimes”, diz.
Os objetos furtados foram perdidos porque, segundo explica Bittencourt, a polícia não vai rastreá-los para ver onde estão. Além disso, ela explica ainda que entrou em contato com a Apple também, mas como não tinham ativado os produtos ainda, não tem como a fabricante fazer nada.
“Eles somente devolvem o dinheiro do seguro se você tiver pago, mas não cobrem roubos e conseguir o aparelho de volta é quase impossível. Eles disseram que os bandidos ligaram os aparelhos no mesmo dia e registraram e mesmo assim a polícia não vai atrás. O meu alerta depois disso é que antes de sair da loja já ligue e registre o número e o aparelho, assim fica mais fácil ter alguma assistência da fabricante depois”, explica.
Gangues
Em Miami, há uma suposta gangue que também usa carros alugados para seguir turistas. “Eles vigiam para furtar objetos dos carros”, segundo foi informado à brasileira pela locadora de veículos em Miami. “Fomos trocar o carro e contamos o que aconteceu. A mulher disse então que existe uma gangue especializada nesse tipo de furto em Miami e em Orlando, e que a de Orlando é até pior”, alerta.
Furto de rodas
Em outro caso, por volta de 2 da manhã de 5 de dezembro, o veículo Kia Cadenza 2017 de Mirian Bragança teve suas rodas roubadas. Um tipo de crime que acontece com certa frequência, diz a polícia, tendo em vista a facilidade pelo costume de deixar os carros estacionados do lado de fora das casas. “Chamei a polícia para fazer denúncia, claro, mas a primeira palavra do policial foi que isso está acontecendo muito e em todos os lugares”, afirma Bragança, que mora em North Miami Beach. “Meu vizinho tem câmeras e pudemos ver as imagens, mas estão muito ruins e só se vê vultos dos caras. A polícia não disse se tem suspeitos e não quis ver as imagens”, relata. Os relatos acima reforçam a realidade da falta de segurança e de investigação a fundo desse tipo de crime. Em 2017 foram 75.242 furtos relatados; destes, 9.908 foram resolvidos – segundo dados do Departamento de Polícia da Flórida - o que significa que 87% dos furtos ficam sem solução. Por isso, como alerta Bittencourt, que mora há 18 anos ao lado do Aventura Mall e nunca tinha passado por essa realidade, enfatiza que “é uma grande ilusão achar que estamos muito seguros aqui. Realmente não se pode deixar nada dentro de carros, nem por um segundo. E também não dá pra contar muito com a polícia para resolver e ter seus objetos roubados de volta”, conclui.