Membros da Igreja Maranata na Flórida pedem explicações sobre investigações no Brasil

Por Marisa Arruda Barbosa

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SONY DSCHá pouco mais de um ano, o Ministério Público do Espírito Santo abriu um inquérito para investigar irregularidades na Igreja Cristã Maranata, com fiéis em todo o mundo, incluindo a Flórida.  Desde a divulgação do suposto escândalo, fiéis da igreja em Massachusetts e alguns da Flórida se desligaram, pedindo informações mais claras, que não obtiveram.  “Por serem ilegais, muitos membros não questionam os pastores, com medo de ameaças”, disse um ex-membro de Pompano Beach, que preferiu não se identificar. “Mas eles nem comentam sobre as investigações”.

Entre as irregularidades, segundo o jornal brasileiro “A Gazeta”, há a suspeita de desvio de dízimos dos fiéis, que podem ter chegado à quantia de R$ 21 milhões. Outra irregularidade da qual a igreja é acusada, que mais diz respeito à comunidade de brasileiros membros da ICM fora do Brasil, é a compra irregular de equipamentos eletrônicos, destinados à montagem de um sistema de videoconferência para interligar os templos no Brasil e no exterior. Boa parte do material teria sido levada de forma irregular para o Brasil.

Depois de 18 meses de tentativas de fazer com que a cúpula da ICM mudasse, o pastor Paulo Sousa, 56 anos, se desligou da igreja em Massachusetts. Ele foi membro por 44 anos e, hoje, se diz “aliviado do bullying eclesiástico”.

Paulo confessa que ele mesmo levou equipamentos para o Brasil. Ele diz ter alertado a cúpula quanto ao valor do equipamento que levava – de $14 mil dólares. “Mas eles estavam certos da impunidade”, relata. Quanto às outras irregularidades “eu não sei de nada, além de transporte de equipamentos de forma ilegal. Eles não me deixavam saber de mais nada”. Mas afirma ter documentos mostrando que a arrecadação entre junho de 2010 e junho de 2011 foi de mais de $1,5 milhão de dólares.

Perda de fiéis Segundo o jornal “A Gazeta”, existem aproximadamente cinco mil templos no Brasil que são administrados pelo presbitério da igreja em Vila Velha, de onde o dinheiro teria sido desviado. Nos Estados Unidos, segundo o pastor Paulo, existem várias igrejas diretamente ligadas ao Brasil, nas seguintes localidades: Sarasota, Pompano Beach, Fort Lauderdale, Orlando, Washington DC, Huston, Middletown (Ct), Newark (NJ), Califórnia e 16 igrejas em Massachusetts, incluindo Framingham e Everett, as duas maiores do estado. Ainda segundo Paulo, duas igrejas fecharam, uma em Connecticut e uma no estado de Nova York. Existem ainda igrejas espalhadas pelo mundo. Segundo Paulo, todas elas são diretamente ligadas ao Brasil e sem nenhuma autonomia.

Paulo conta que, quando se desligou da igreja, onde ele percebeu um “desvio do propósito original” da filosofia da instituição, foi buscar outras igrejas, mas não queria mais o ministério. No entanto, cerca de 80 pessoas o seguiram e ele continuou sendo pastor, só que agora da Igreja Evangélica Louvai. “A Igreja Louvai foi iniciada no Brasil, mas a diferença em relação à ICM é que ela é completamente independente, em todos os aspectos, ou seja, financeira e administrativamente”. De acordo com Paulo, a ICM nos EUA já contou com dois mil membros, mas agora esse número diminuiu em pelo menos 40%.

Pompano Beach Pelo menos dois ex-membros da ICM em Pompano Beach contam que saíram da igreja depois das denúncias, junto com outros que foram para igrejas espalhadas pela região. Um deles, que preferiu não ser identificado, contou ao GAZETA que saiu há seis meses, depois de 20 anos de ligação com a instituição. Segundo ele, a igreja em Pompano tinha cerca de 120 membros no momento de sua saída. “Mas, hoje, deve ter menos, pois sei de pessoas que estão saindo”, disse ele.

O GAZETA entrou em contato com o pastor da ICM em Pompano Beach, Ronildo Scher, que disse que a igreja perdeu, no máximo, duas famílias desde o início das investigações no Brasil. Ele disse, no entanto, que tem orientações a não responder à imprensa e que o advogado da instituição entraria em contato com o jornal antes do fechamento desta edição. Mas isso não aconteceu.

Resposta da ICM no Brasil Em seu site no Brasil, a ICM tem uma nota de esclarecimento datada do dia 19 de janeiro, na qual diz que não houve enriquecimento ilícito da direção em nenhum caso, explica de onde vem a movimentação de dinheiro do presidente, Gedelti Victalino Teixeira Gueiros, como venda de imóveis, “fruto do trabalho de toda uma vida, desde antes da própria fundação da igreja”. A Igreja afirma ainda que foi o “próprio presidente da instituição que pediu e propiciou as investigações que foram ofertadas ao Ministério Público, após rígido procedimento administrativo interno. Por fim, lamenta que tais leviandades construídas por uma dissidência da igreja atentem contra os pilares firmes, que há 45 anos sustentam a administração”.