Intolerância, falta de respeito e amor ao próximo: o racismo em pauta
Por Arlaine Castro
Em junho de 2016, Debora Figueiredo recebeu uma notificação da coordenadora pedagógica da escola para cortar os cabelos crespos dos dois filhos que ainda estão no jardim de infância. A escola do Rio de Janeiro não achou adequada a estética das crianças para frequentar as aulas e resolveu pedir à mãe que aparasse ou trançasse o cabelo dos meninos. Indignada com o preconceito que ela e os filhos sofreram, Débora decidiu tornar o recado público no Facebook. Logo, a postagem recebeu vários comentários de apoio à família, além dos 1,22 mil compartilhamentos em cinco dias. Esse foi só mais um caso dos inúmeros que acontecem todos os dias no mundo inteiro. Dos casos mais recentes, no último domingo, 26, uma brasileira que se autointitula socialite brasileira “Day Mcarthy” e vive no Canadá, usou suas redes sociais para chamar Titi, a filha adotiva de 4 anos do casal de atores, Bruno Gagliasso e Giovana Ewbank, de macaca. A criança, que é negra, contrasta com os pais adotivos pela cor da pele. Mas por que isso chama a “atenção” das pessoas e por que as pessoas se interferem no modo de vida e escolhas alheias¿ Outra recente repercussão veio à tona com a frase: “A cor do meu filho faz com que as pessoas mudem de calçada”, dita pela atriz Taís Araújo em uma palestra do evento TEDx São Paulo, realizado em agosto deste ano. Por sua fala, a atriz foi muito criticada e internautas disseram que ela exagerou ao se fazer de vítima. Estudando sobre as raízes do racismo, a formação do campo temático e a identidade racial do Brasil, a análise “Preconceito de cor e racismo no Brasil”, de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães - Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, cita o escritor Oracy Nogueira (1955) ao mencionar “Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico, para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem. (Nogueira, 1985, p. 78-9). Como define Guimarães, somos o resultado de processos de interação, acomodação, competição, conflito e luta ideológica por classificação e formação de grupos raciais, de classe e de cor? (...) as desigualdades raciais, além de constatadas, precisam também ser compreendidas, sob o risco de dar-se margem a uma excessiva politização do tema e a uma certa contaminação moral e ideológica, como se estes estudos pudessem ser reduzidos a dados estatísticos a munir o ativismo e as políticas sociais. O racismo e preconceito revelam uma aceitação do outro. Mas por que é tão difícil aceitar o outro? Vivemos em um mundo globalizado, multicultural, onde diversas nuances e visões de mundo interagem o tempo todo. A diferença do outro me mostra que o meu ponto de vista não é o único possível e talvez nem mesmo o mais correto ou melhor. Taí o que realmente incomoda. O outro causa repulsa a partir do momento em que tira as certezas que eu tenho sobre mim mesmo e sobre o meu mundo. Mas e o respeito e amor ao próximo, onde fica?