Uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 7, apresentou, pela primeira vez, dados das investigações sobre o caso dos brasileiros desaparecidos nas Bahamas desde novembro do ano passado.
Representantes do Itamaraty expuseram a cronologia das ações do governo desdea comunicação do desaparecimento aos órgãos competentes e cada contato feito pelos familiares, jornalistas e autoridades internacionais com o governo brasileiro por meio da Embaixada do Brasil em Nassau, nas Bahamas, e do Consulado Geral do Brasil em Miami.
O embaixador Henrique Sardinha Pinto, subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras e de Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, destacou os pontos relevantes, como os momentos em que autoridades policiais ou diplomáticas levantaram a possibilidade de naufrágio, dada as características geográficas da região, onde é alta a ocorrência de acidentes sem vestígios.
Esta foi a primeira audiência pública sobre o caso. A comissão fez a mesma solicitação à Polícia Federal, responsável pela investigação. Os parlamentares pretendem visitar ainda as embaixadas dos dois países envolvidos no caso. A comissão é composta pelos deputados Reginaldo Loes (PT-MG), Aluízio Azevedo (PTN-MA), Bacelar (PTN-BA), Bruna Furlan (PSDB-SP) e Zé Geraldo (PT-PA).
Após quatro meses do desaparecimento do grupo de dezenove brasileiros nas Bahamas, a hipótese de que estejam detidos em cárcere privado diminui e aumenta a crença de que possa ter havido mesmo um naufrágio.
A assessoria de comunicação do Itamaraty informou que o órgão continua participando da investigação do caso por meio da embaixada brasileira em Nassau (Bahamas) e do consulado-geral de Miami, nos Estados Unidos, além da Polícia Federal. A assessoria afirmou que há dificuldade nas investigações porque as ações dependem da colaboração das autoridades do outro país.
Até o momento, não há informação oficial de registro nas Bahamas ou nos Estados Unidos de detenção de nenhum dos integrantes do grupo. Em janeiro, a Polícia Federal fez uma operação em três estados onde residiam alguns dos brasileiros desaparecidos e realizou a detenção de pelo menos três suspeitos de integrar a quadrilha de traficantes de pessoas que intermediou a viagem. Os desdobramentos das ações não foram divulgados e a investigação corre sob sigilo.
Os representantes das vítimas disseram, no entanto, que seguem nas buscas sem descartar a possibilidade de que o grupo tenha sobrevivido. Em 15 de março, o delegado da Polícia Federal, Rafael Baggio de Luca, responsável pelas investigações no Brasil, participará de uma reunião nos Estados Unidos com representantes do serviço de inteligência norte-americano, a fim de traçar novas estratégias de busca do paradeiro do grupo.
O coordenador da Comissão, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), afirmou à Agência Brasil que vai disponibilizar as informações prestadas na audiência pública e pedir mais dados ao Itamaraty e à Polícia Federal sobre tráficos de pessoas e as rotas utilizadas pelos chamados “coiotes”, intermediários que lucram com as travessias ilegais. O deputado declarou que, caso as ações da comissão não sejam suficientes, o grupo pode criar uma CPI para investigar o caso.
Angústia e fé
As famílias dos brasileiros desaparecidos vivem a angústia, sem saberem se ainda estão vivos. O casal, Lucirlei Cárita e Regiane Viana, de Canaã dos Carajás (PA), está no grupo de desaparecidos. Lucirlei fez o último contato com a família no dia 5 de novembro e, desde então, o clima de tristeza e preocupação paira no ar para a família.
A mãe de Lucirlei, um dos desaparecidos, relatou ao GAZETA a angústia pelo tempo sem notícias e a fé em acreditar que não tenha acontecido o pior. “A gente tem que esperar pelo melhor, mas já passou tanto tempo que nem sei mais o que pensar”, disse Maria Vali.