A palavra inteligência vem do latim “intelligentia”, que, por sua vez, nasce do verbo “intelligere”, formado por “inter” = “tra” e “legere” = ler, captar, “sacar” e também “ligar”. Então, inteligência é a capacidade de ler por entre as linhas e de interligar ideias não explicitamente relacionadas. A pessoa inteligente colhe os pensamentos, é capaz de raciocínios abstratos, sabe planejar e criar estratégias.
É importante estabelecer uma diferença entre esperteza e inteligência. Usa-se muito o termo “esperto” para designar pessoas que encontram soluções e saídas de situações espinhosas, ou que sacam respostas com rapidez. Contudo, sem o mundo maior, sem o conhecimento e a visão das coisas, esse espírito vivo e curioso do esperto se resume à astúcia de “salvar a pele”. Podemos definir o esperto como aquela pessoa que tem inteligência prática e cuja referência é seu ego (ou seu umbigo?).
O esperto busca responder à pergunta: como superar o obstáculo me dando bem? Questões de ordem moral, ética, de civilidade e sociedade, evolução e educação são, por princípio, excluídas. Na esperteza, assim entendida, há espaço somente para o “meu interesse”, ou no máximo o “nosso”, da nossa tribo. Será essa a melhor postura, na hora de querer mais do que a mera sobrevivência, como quando se quer abrir um negócio, criar uma empresa e crescer profissionalmente? Se na vida diária a esperteza é parte do kit de sobrevivência, no mundo maior ela se transforma facilmente em “malandragem”, pequenez e miopia.
Inteligência também não é simples conhecimento. Pessoas cultas podem não ser inteligentes. Não basta ler livros ou formar-se numa universidade. Ter um diploma, hoje, mais do que nunca não garante qualidade e muito menos inteligência. Para isso, basta ter uma boa memória. Ingurgitar textos para fazer provas não necessita sequer de esperteza, mas da determinação para passar o teste. Livros são indispensávies, mas não suficientes.
A inteligência é um potencial de capacidade crítica e de raciocínio que, como a materialidade de nossos corpos, nos é dada de presente e que depende para seu desenvolvimento de: a) boa comida (para o corpo e para o espírito) e b) exercício (para o corpo e para o espírito).
Nascemos todos com um belo corpo, esbelto e saudável, pronto para o uso. Se, ao invés de exercitá-lo, o deixarmos mofando na frente de uma TV ou se arrastando pela vida afora, aquela agradável forma inicial vai simplesmente se deformando, e logo temos as crianças obesas e preguiçosas que se encontram por aí. Com a inteligência acontece o mesmo. A possibilidade está lá, bonita e lustra, só necessitando ser exercitada, treinada e aprimorada para que se obtenha aquela maravilhosa capacidade de elevar-se acima da gravidade do dia a dia e construir pensamentos que vão além do imediato presente. Quem quer realizar um projeto deve saber sonhar, no sentido de ter visão, enxergar além do horizonte estreito dos limites cotidianos.
Inteligência então é reconhecer quando se precisa de ajuda profissional para abrir as asas e lançar-se em vôo livre. Seja ele pessoal ou de negócios, o processo é o mesmo. De nada adianta trocar ideias com quem está no mesmo barco. O exercício para fortalecer a inteligência consiste em defrontar-se com quem é mais inteligente e sabe mais. Juntos, refletir, pensar e repensar até burilar o projeto de vida e tornar o sonho realidade.
Conforme as análises feitas por Jung em seu livro “Tipos Psicológicos”, a função Pensamento (da qual deriva a inteligência de que estamos falando) pode estar em sua forma desenvolvida ou primitiva, dependendo da personalidade da pessoa e do treino que ela tem. Para reconhecer em que estágio ela está, basta observar seus frutos. Se seus raciocínios terminam sempre no mesmo ponto, se vira e mexe o que ela lê ou supostamente aprende “confirma” o que ela já sabia, a convicção que ela já havia formulado, seu pensamento é subdesenvolvido – pelo menos no que diz respeito à determinada área. É como uma pessoa que em qualquer coisa que coma encontre sempre o antigo e familiar sabor do arroz com feijão.
Para sair do círculo vicioso é preciso, antes, reconhecer o limite e, sem melindres e perda de tempo, pegar o touro pelos chifres e enfrentar o que deve ser dobrado para dar o salto que se almeja. A esperteza não permite esse salto. Entre a inteligência e a esperteza tem a mesma distância que há entre a águia e a galinha. Se a última é rápida em bicar o grão de trigo no chão, a outra agarra uma lebre que ela avistou lá do alto do céu.
Coluna do BBG - Brazilian Businness Group
Adriana Tanese Nogueira - Psicoterapeuta (adrianatns@hotmail.com)