À medida que o dia 20 de janeiro se aproxima, o ritmo de transição de governo fica mais intenso, com o iminente retorno do ex-presidente, e agora presidente eleito, Donald Trump à Casa Branca, e a saída do governo democrata de Joe Biden. Alguns assistem ansiosamente à aproximação da data com muita esperança, outros, temerosos, mas todos com a certeza de que o país viverá grandes mudanças nos próximos quatro anos de partido republicano no poder.
Para muitos imigrantes, isso significará um aumento na pressão para regularizar sua situação ou enfrentar a ameaça constante de deportação, especialmente para aqueles sem documentos ou beneficiários de programas do governo. A imigração foi um dos focos de campanha de Trump de 2024, com promessas de restauração de políticas mais rigorosas para conter a imigração ilegal e proteger as fronteiras dos Estados Unidos. Ele propôs uma maior intensificação das deportações, incluindo a remoção em massa de imigrantes indocumentados. Em sua campanha, ele apelou aos eleitores conservadores e àqueles preocupados com o que considera ser uma imigração descontrolada, prometendo restaurar a "segurança" e "soberania" nacional, ao mesmo tempo em que busca posicionar-se como o líder que pode "salvar" o país da crise migratória. Para Trump, o controle da imigração ilegal é uma questão de segurança nacional e, por isso, continua a ser um tema dominante em sua retórica eleitoral.
No final do mês passado, o presidente eleito ameaçou taxar em 25% todos os produtos do México e do Canadá que entrarem no país, como uma de suas primeiras ações após a posse. Segundo ele, as tarifas permanecerão em vigor até que os dois países tomem medidas rigorosas contra o tráfico de drogas, principalmente de fentanil, e contra o fluxo de imigrantes ilegais. A afirmativa gerou respostas de ambos países fronteiriços, que advertiram que a ameaça de impor tarifas pesadas sobre produtos de dois grandes parceiros comerciais do país prejudicaria as economias de todos os envolvidos, podendo agravar a inflação e atingir os mercados de trabalho. Líderes e outras autoridades de alto escalão pediram diálogo e cooperação do presidente eleito americano.
Universidades americanas também já preparam seus estudantes estrangeiros em férias no exterior a voltarem aos EUA antes de Donald Trump tomar posse, e têm realizado uma série de eventos para esclarecer dúvidas dos alunos sobre o que pode mudar a partir do ano que vem. Em um fórum no dia 12 de novembro, professores da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York (NYU) afirmaram que há grande probabilidade de instituições com programas de diversidade e inclusão enfrentarem processos na Justiça
O clima geral se assemelha muito à antecipação pré-Trump em 2017. Mas o que realmente aconteceu no primeiro governo do ex-presidente e como isso pode nos preparar para o ano que vem?
Desde o início de seu governo, Donald Trump adotou uma postura agressiva em relação à imigração. Nos primeiros dias como presidente, ele assinou uma ordem executiva suspendendo a chegada de refugiados por 120 dias e proibindo a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana por 90 dias. Ele anunciou o fim do programa DACA, que protegia cerca de 800 mil imigrantes indocumentados que chegaram aos EUA ainda crianças. Trump também implementou a política de "tolerância zero", que resultou na separação de pais e filhos imigrantes ao cruzarem ilegalmente a fronteira, uma das imagens mais marcantes de seu governo. O projeto do muro na fronteira com o México, uma promessa central de sua administração, também gerou grande controvérsia e levou à maior paralisação parcial do governo dos EUA em dezembro de 2018, quando Trump exigiu 5,7 bilhões de dólares para sua construção.
Em sua última campanha, o republicano intensificou o seu discurso anti-imigrantes, afirmando que estes "envenenam o sangue do país" e responsabilizando-os tanto pelo aumento da criminalidade - sem fundamento - como pelo aumento nos preços de moradia. Além disso, afirmou sem provas que há países como a Venezuela que supostamente estão esvaziando suas prisões e instituições para doentes mentais enviando essas pessoas para os Estados Unidos.
Acontece que a comunidade imigrante tem do seu lado um poderoso aliado na economia. O Conselho Americano de Imigração estimou que poderia custar US$ 88 bilhões anualmente para deportar um milhão de pessoas por ano. A remoção de milhões de trabalhadores da construção, hospitalidade e agricultura poderia reduzir o produto interno bruto dos EUA em US$ 1,7 trilhão. Isso significaria que várias indústrias-chave, como agricultura e construção, enfrentariam sérios problemas com escassez de mão de obra e inflação crescente. O relatório também revelou que a Flórida perderia cerca de 5% de sua população, ou cerca de 1 milhão de residentes indocumentados.
Não é possível prever com certeza o rumo que as medidas presidenciais de Trump irão tomar, mas um bom remédio para a insegurança é se manter sempre informado de seus direitos e das possibilidades, a fim de se preparar para o que vem no futuro.