Brasileiros deportados relatam experiência de imigração ilegal para os EUA

Por Arlaine Castro

Foram deportados 142.580 imigrantes dos EUA para cerca de 180 países.

Em 2024, ano em que a imigração é um tema central na eleição presidencial dos Estados Unidos, 516 brasileiros já foram deportados do país, segundo a Polícia Federal, todos por Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte.

De acordo com a concessionária BH Airport, seis voos com deportados pousaram no aeroporto neste ano.
Três pessoas, deportadas por imigração ilegal, não quiseram se identificar, mas conversaram com o G1 sobre a experiência após o desembarque. Mais do que a frustração pela deportação, elas tinham em comum o sentimento de alívio por estar de volta ao Brasil após meses de detenção em território norte-americano.

Um homem de 34 anos, que nasceu em Umbaúba (SE), retornava ao Brasil depois de dez anos nos Estados Unidos. Ele entrou no país com visto de turista e permaneceu de forma ilegal após o documento perder a validade. Trabalhava com construção, ganhando de US$ 800 a US$ 900 por semana, até que, um dia, foi parado pela polícia quando estava dirigindo.

"Passei por um processo na Justiça, coloquei advogado, mas não consegui. Passei de prisão em prisão, fiquei quatro meses preso. Foi muito difícil. Eu nunca estive preso no meu país de origem para ficar preso em outro país", disse.

No período em que ficou nos Estados Unidos, o brasileiro se casou e teve um filho, que hoje tem 2 anos. Ele planejava voltar para Sergipe e trazer a família para o Brasil. Voltar aos Estados Unidos, só legalmente.

"Eu não aconselho ninguém a ir para lá ilegal. A vida de imigrante é muito difícil, porque você tem que ficar se escondendo. Tem trabalho, ganha bem, mas tem que estar se escondendo, não tem vida, a verdade é que você não tem vida, porque só trabalha. Para conseguir um dinheiro tem que trabalhar de domingo a domingo e, no restante do tempo, tem que ficar em casa, porque, se você sair, pode ser arriscado. Eu, graças a Deus, não quero voltar", afirmou.

Um mineiro de 24 anos, de Frei Lagonegro, no Vale do Rio Doce, foi deportado pela segunda vez. Na primeira tentativa, em abril de 2023, conseguiu entrar nos Estados Unidos, apresentou-se para a imigração e acabou sendo mandado de volta para o Brasil, dois meses depois.

Em dezembro, tentou novamente, em busca de uma "oportunidade de vida melhor". Ele fez a travessia de Juarez, no México, para El Paso, no Texas, dentro de um vagão de trem de carga, em um esquema organizado por coiotes.

"Passei muito sufoco no México. Tentaram me sequestrar, corrupção demais, tem que ficar pagando tudo, correndo risco de vida o tempo todo. Cada viagem é uma viagem, as minhas duas foram muito complicadas. Eu fiquei espremido no trem, em um espacinho que não dava 20 cm, durante oito horas. Estava entre a vida e a morte ali", contou.

Quando ainda estava no trem, na fronteira entre México e Estados Unidos, o jovem foi pego. Ele ficou dois dias algemado e, em seis meses, passou por seis centros de detenção.

"Dependendo da imigração, não deixam você dormir, te prendem, te soltam. Tem algumas que só pode sair no sol uma vez por semana. A comida é muito ruim, te alimentam na hora que querem. Eu saí daqui gordinho, estou voltando só o osso, perdi uns 10 kg. Alguns oficiais são tranquilos, têm coração, mas a maioria maltrata demais. Te tratam como se fosse um cachorro amarrado na corrente. Tem que pegar muito com Deus para vir embora rápido", relatou.

Uma das poucas mulheres entre o grupo de deportados queria tentar a vida nos Estados Unidos após ter sido vítima de violência doméstica em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce.

Ela entrou no país pelo mar da Califórnia, de jet ski, em março deste ano. Foram quatro dias de tentativas – nos três primeiros, agentes da imigração estavam na fronteira, e ela teve que retornar para o México. No quarto dia, ela, o coiote e outra imigrante que estavam na moto aquática conseguiram chegar a San Diego, na Califórnia. Eles se esconderam, entraram em um carro e, cinco minutos depois, foram capturados pela imigração. A mineira, de 26 anos, passou três meses detida.

"Era todo dia a mesma coisa: café da manhã, às 5h30, almoço, às 11h30, e jantar, às 17h30. Cada habitação tinha oito pessoas, tinha tablet, cobertor, água quente. Não tenho nada a reclamar em questão de médico, só que, em questão de tratamento, não era bom. Gritavam assim: 'Desse jeito vocês não vão entrar no meu país'", contou.
Fonte: G1.