Quedas relacionadas ao muro na fronteira EUA-México aumentam

Por Arlaine Castro

O UC San Diego Health registrou 23 mortes por quedas desse tipo desde 2019; não houve nenhum nos quatro anos anteriores.

Quedas de imigrantes do muro ao longo da fronteira sul estão aumentando na Califórnia e em outros estados. A gravidade dos ferimentos também aumentou, com lesões na coluna, traumatismo e paralisia, sobrecarregando os hospitais e o sistema de saúde.

Num esforço para dissuadir os imigrantes de cruzarem ilegalmente os Estados Unidos, o governo federal tem erguido nos últimos anos muros mais altos e mais difíceis de escalar ao longo da fronteira com o México.

Só na Califórnia, uma barreira de aço de 9 metros de altura substituiu mais de 640 quilômetros de cercas e muros mais baixos que variavam entre 2,5 e 5,7 metros de altura. O projeto foi concluído em 2019 e, desde então, o número de pacientes internados no centro de trauma da UC San Diego Health por causa de quedas relacionadas ao muro aumentou sete vezes. O hospital registrou 23 mortes por quedas desse tipo desde 2019; não houve nenhum nos quatro anos anteriores.

As lesões traumáticas tratadas nos hospitais da região aumentaram muito mais do que nos aumentos anteriores – quase 460% entre 2019 e 2021 em comparação com o período de três anos anterior.

Na região de El Paso, no Texas, assim que a construção do muro mais alto começou, o Centro Médico Universitário começou a observar um aumento nessas lesões. Desde 2019, o centro de trauma tratou cerca de 1.100 pacientes que caíram do topo, ou perto do topo, da barreira.

Os imigrantes que caem destas alturas significativamente maiores estão sofrendo ferimentos mais graves, entre eles traumatismos cerebrovasculares contundentes que podem levar a acidentes vasculares cerebrais graves, traumas pélvicos, paralisia permanente e até à morte.

No ano passado, a UC San Diego Health converteu uma unidade pós-parto numa enfermaria para vítimas do muro da fronteira. O grande número também afetou o cuidado da população local; o tempo de espera para procedimentos de coluna no hospital aumentou de três dias para quase duas semanas.

O gasto financeiro também tem sido um problema crescente. O Centro Médico Universitário acumulou US$ 20 milhões em honorários médicos de migrantes entre 2021 e 2022, gastando cerca de US$ 36 mil por paciente que caiu do muro. Para cobrir o que o governo não faz, o hospital de El Paso recorre ao seu orçamento de cuidados de caridade de 180 milhões de dólares, metade do qual é financiado pelos contribuintes do condado de El Paso.

Os problemas continuam mesmo depois de receberem tratamento. “Muitos imigrantes não recebem os cuidados de acompanhamento de que necessitam depois de terem alta do hospital e podem nunca recuperar a capacidade de trabalhar em empregos fisicamente árduos, para os quais vieram para a América, ou para ter uma vida normal", disse Miriam Jordan, repórter do The New York Times que foi à fronteira este ano e notou um número maior de imigrantes em cadeiras de rodas, com faixas e gessos em abrigos.

Fonte: The New York Times e Texas Montly.