"Tendas de estupro" - migrantes, incluindo crianças, sofrem abuso sexual em travessia ilegal para os EUA

Por Arlaine Castro

O trecho de 60 milhas de selva acidentada que liga a Colômbia à América Central geralmente leva cerca de seis dias para ser atravessado. Na imagem, uma equipe da CNN acompanha o grupo.

Centenas de migrantes, incluindo muitas crianças, foram vítimas de violência sexual durante a travessia pela selva de Darien Gap, no Panamá, a caminho da fronteira sul dos Estados Unidos. As vítimas falam em "tendas de estupro".

Um novo relatório da organização Médicos Sem Fronteiras revela que, somente em 2023, seus membros trataram quase 400 vítimas de agressão sexual nessa região, marcada pela presença de criminosos armados que, ao vagarem pelo deserto, sequestram, roubam e violentam aqueles que tentam atravessar.

Grande parte do perigo surge de grupos de bandidos armados que vagam pela natureza, sequestrando, roubando e estuprando aqueles que tentam passar. “Eles me bateram nas pernas com um taco, porque nós que não tínhamos dinheiro fomos espancados”, disse uma vítima venezuelana, segundo o grupo.

“Aqueles que disseram não ter dinheiro, mas quando foram revistados descobriram que tinham, ficaram ainda mais feridos”, continuou a vítima. “Eles disseram: ‘Ah, sim, ela tem algum dinheiro’ e os estupraram.

Vi muitas pessoas estupradas. Eu os vi deixados nus e espancados. Um, dois ou três deles te agarram e te estupram, e então o próximo vem e te estupra de novo, e se você gritar, eles te batem.”

Os homens que tentam ajudar as mulheres vítimas são frequentemente punidos, relatam as vítimas.

De acordo com informações do New York Post, somente em outubro, o Médicos Sem Fronteiras prestou auxílio a 107 vítimas de abuso sexual, incluindo 59 em uma única semana. A fonte menciona que as "tendas de estupro" são montadas com o propósito de facilitar tais abusos.

Algumas vítimas são crianças – a organização disse que recentemente ajudou três vítimas de estupro com apenas 11, 12 e 16 anos de idade. Muitas vezes, os crimes não são denunciados porque as vítimas não querem que nada atrase a sua viagem para norte e temem as autoridades dos países que atravessam.

A organização realizou 51.500 consultas médicas, 2.400 consultas de saúde mental, tratou 17.400 feridas e tratou de 397 casos de violência sexual até agora em 2023, segundo o relatório.

Darien Gap

O Darien Gap tem sido considerado a parte mais traiçoeira da viagem extremamente perigosa da América do Sul até à fronteira dos EUA.

O trecho de 60 milhas de selva acidentada que liga a Colômbia à América Central geralmente leva cerca de seis dias para ser atravessado – e sua densa folhagem encobre bandidos, animais selvagens e rios caudalosos que ameaçam matar migrantes muito antes de eles chegarem aos EUA para solicitar asilo.

Os traficantes de drogas usam as mesmas trilhas para traficar narcóticos, e os grupos armados patrulham os limites da selva sem lei.

Os Médicos Sem Fronteiras pediram aos governos regionais que aumentem a presença das forças policiais para dissuadir a violência sexual contra os migrantes.