Nossos gatinhos de estimação estão vivendo vidas mais longas, graças aos cuidados de seus atenciosos donos. Com o avanço da medicina veterinária, a disponibilidade de vacinas que protegem contra doenças fatais e o fato de que muitos gatos vivem exclusivamente dentro de casa, não é raro ver um bichano chegar aos dezoito, dezenove... vinte anos!
O sonho dos amantes dos felinos é dar a eles uma vida longa e de qualidade. Mas os gatos geriátricos exigem cuidados especiais, com alimentação, visitas frequentes ao veterinário, etc.
Com exames físicos e laboratoriais periódicos, o veterinário pode diagnosticar muitas doenças comuns em “senior citizens” felinos. Entre essas doenças, o hipertiroidismo.
O hipertiroidismo é a doença hormonal mais comum em gatos, onde a glândula tiroide produz quantidades excessivas de hormônio. Esse excesso ocorre mais comumente em gatos de mais de 13 anos de idade; somente 5% dos casos de hipertiroidismo ocorrem em gatos de menos de 10 anos de idade.
O que é a tiroide?
A tiroide é uma glândula, ou melhor, são duas glândulas localizadas na parte ventral (de baixo) do pescoço. Se uma ou as duas glândulas começarem a hipertrofiar (crescer), ela começa a produzir hormônio em excesso. Como o hormônio da tiroide está envolvido em várias funções de diferentes órgãos do corpo felino, os sintomas são também bastante variados. Cachorros também possuem essas glândulas, mas o hipertiroidismo é bastante raro em cães.Os sintomas de hipertiroidismo que mais chamam a atenção dos donos são o apetite voraz com perda de peso a olhos vistos. O dono vê o gatinho comendo mais que o normal, mas pouco a pouco o bichano vira pele e osso.
Outros possíveis sintomas da doença são: nível de atividade elevado, inquietação, agressividade ou, “mau-humor”, frequência cardíaca elevada, pressão alta, pelos arrepiados, aumento do consumo de água, aumento na produção de urina, vômitos, aumento na produção de fezes, diarreia, dificuldade de respirar, fraqueza, depressão.
O diagnóstico é feito por via de exame de sangue para medir o nível de hormônio. Muitos veterinários já incluem o exame da tiroide nos seus exames de sangue anuais de rotina para animais geriátricos. Outros só fazem o exame se o animal estiver apresentando sintomas ou se, durante o exame físico, ele perceber que o gato tem a glândula aumentada. A maioria dos gatos com hipertiroidismo tem o nível de hormônio altamente alterado (elevado), mas alguns gatos podem apresentar os sintomas com o nível de hormônio detectado no sangue apenas ligeiramente elevado ou, até mesmo, dentro da normalidade. Nesses casos, exames adicionais são necessários para confirmar a suspeita, e alguns desses exames são bastante sofisticados, como por exemplo no caso da medicina nuclear. Uma pequena dose de um composto radioativo é administrado ao paciente. Este composto viaja pelo sangue até a tiroide, onde se acumula se a glândula estiver hiperativa. O paciente é submetido a um scan nuclear que demonstra com clareza o tecido hiperativo. O equipamento necessário para esse tipo de scan é encontrado somente em centros de referência especializados ou em universidades. Depois de completado o exame, o gatinho deve ficar no hospital por alguns dias, até que se confirme que o composto radioativo foi completamente eliminado do seu corpo.
Após o diagnóstico, deve-se determinar o tipo de tratamento mais adequado para o gatinho. Existem várias modalidades de tratamento, e cada uma tem as suas vantagens e desvantagens.
O tipos de tratamento para hipertiroidismo felino mais comuns usados atualmente são:
Medicamentos orais
O medicamento oral mais usado é chamado metimazole, um remédio em forma de pílula. Esse medicamento bloqueia a produção de hormônio, mas os hormônios que já estão presentes na circulação do paciente continuam ativos por algumas semanas, portanto os benefícios do tratamento demoram de 2 a 4 semanas para aparecer. A glândula tiroide do paciente não diminui de tamanho com o tratamento (e às vezes até se torna maior). Como todo medicamento, o metimazole pode causar efeitos colaterais, portanto, é importantíssimo monitorar o tratamento. A grande vantagem desse tratamento é o baixo custo. A desvantagem é que é para o resto da vida, e os níveis de hormônio da tiroide devem ser medidos periodicamente por via de exame de sangue. Outra desvantagem é, claro, que alguns donos têm dificuldades de dar pílulas para gatos. Para esses casos, existem farmácias de manipulação que produzem o medicamento em forma transdermal, ou seja, o dono aplica na pele do gato (normalmente dentro da orelha, onde não há pelos), mas existem bastante discussões sobre a eficácia desse método. A pílula é, comprovadamente, eficaz.
Cirurgia da tiroide
O tratamento cirúrgico também é eficaz, mas obviamente, mais caro. Antes de se levar o paciente à cirurgia, é importante regular a glândula tiroide por meio das pílulas de metimazole, por algumas semanas ou meses. A grande vantagem da cirurgia é que o tratamento, se bem sucedido, dura a vida toda. Existem alguns casos em que o corpo tem tecido glandular da tiroide espalhados em lugares anormais (tiroide ectopica), e se torna impossível encontrar esses tecido produtor de hormônios sem o auxilio da medicina nuclear. Se algum tecido hipertiroide sobra depois da remoção cirúrgica das glândulas, o paciente continua sendo hipertiroide e precisará de terapia adicional.Existem outros riscos associados à remoção cirúrgica das glândulas tiroides. As glândulas paratiroides, responsável por regular o cálcio no organismo, podem ser acidentalmente removidas, causando deficiência de cálcio que pode pôr a vida do animal em risco. O cálcio terá que ser suplementado sob a supervisão e monitoramento veterinário. Outro risco da cirurgia é o de se fazer dano às cordas vocais ou a nervos que passam pela área a ser operada, mas estes não põe em risco a vida do gatinho. E, finalmente, em raros casos, a remoção cirúrgica das tiroides pode causar hipotiroidismo, e o dono termina se vendo obrigado a dar pílulas para suplementar a tiroide!
Após a cirurgia de remoção de tiróides, todos os gatos devem ser submetidos a exames periódicos (de 6 em 6 meses) para checar os níveis de hormônio da tiróide, pois o hipertiroidismo pode ocorrer novamente.
Radiação
O tratamento com radiação é considerado, hoje em dia, o método de tratamento de hipotiroidismo mais seguro e mais eficaz. Primeiramente, o bichano é submetido a um scan nuclear para localização do tecido glandular hiperativo. Uma dose terapêutica do iodo 131 é calculada de acordo com os resultados. O iodo 131 destrói somente o tecido glandular anormal, sem afetar células normais do resto do corpo. O tratamento raramente precisa ser repetido e nenhuma terapia adicional é necessária. O paciente permanece hospitalizado em média de 3 a 4 dias, até que os níveis de radiação sejam mínimos. Quando o bichinho chega em casa, algumas restrições por mais ou menos uma semana são necessárias: a areia da caixinha deve ser do tipo que se joga no vaso sanitário, onde deve ser descartada. O gato não pode sair de casa, o contato diário com os donos deve ser limitado, crianças e mulheres grávidas não devem ter nenhum contato com o gato neste período.Vantagens da radiação: Apenas 2 a 4% dos gatos tratados com radiação requerem um segundo tratamento. A doença é curada por este método e terapia adicional não é necessária. O tratamento não requer anestesia geral, pois consiste de uma injeção seguida de alguns dias de hospitalização e, portanto, o estresse e o risco são mínimos para o paciente.
As desvantagens da radiação incluem a separação entre o gato e o dono, as restrições após a alta do animal, o alto custo da terapia e a pouca disponibilidade de locais que oferecem este tipo de tratamento. Existem algumas contraindicações para a radiação, como por exemplo, pacientes que tem a função dos rins afetada. Nestes casos, a terapia indicada são as pílulas de metimazole.
Dieta
Uma recente inovação na terapia do hipertiroidismo felino foi a introdução de dietas de prescrição veterinária com baixo teor de iodo. Para animais que não toleram a pílula (ou são difíceis de medicar), donos que não podem arcar com as despesas de uma cirurgia ou da radiação, a dieta parece uma alternativa razoável. Como o hormônio da tiroide depende do iodo para ser produzido, uma dieta deficiente em iodo impede a produção de hormônio em excesso. É importante, porém, que o gatinho não receba nenhum outro tipo de alimento, somente a comida prescrita. E, por outro lado, se houverem outros gatos na mesma casa, estes gatos não deverão comer a comida restrita em iodo a não ser que eles também sofram de hipertiroidismo. O iodo é um componente importante na dieta dos gatos saudáveis. Esta dieta ainda é uma terapia relativamente nova e muitos estudos ainda se encontram em andamento, mas para muitos donos de felinos, é uma esperança de simplificar o tratamento.Felinos geriátricos são pacientes especiais. Certifique-se de que o seu gatinho senior seja examinado uma a duas vezes por ano pelo veterinário dele, e peça sempre exames laboratoriais completos, pois toda doença identificada em estágios iniciais são mais fáceis de tratar e controlar.
Dr. Paula Ferreira -
Ferreira Animal Hospital
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