Dor no estômago, queimação, saciação rápida da fome, náuseas ou vômitos e anemia. Sintomas desse tipo podem significar a existência da bactéria Helicobacter pylori, mais conhecida por H. pylori.
Estima-se que mais de 50% da população mundial, de todas as idades, possua esta bactéria colonizada no estômago.
A H.pylori possui a incrível capacidade de sobreviver em um dos ambientes mais inóspitos do organismo, o estômago, que apresenta um meio extremamente ácido, que serve de mecanismo de defesa contra as bactérias que são ingeridas junto aos alimentos. Poucos são os seres vivos que conseguem sobreviver em um ambiente tão ácido. Porém, a H.pylori apresenta alguns “truques” evolutivos que permitiram a ela se adaptar a um meio tão hostil.
Resistência
A H.pylori produz substâncias que neutralizam os ácidos, formando uma espécie de nuvem protetora ao seu redor, permitindo que a mesma se locomova dentro do estômago até encontrar um ponto para se fixar. Além desta proteção, essa bactéria consegue ultrapassar a barreira de muco que o estômago possui para se proteger da própria acidez, aderindo-se à mucosa, área abaixo do muco, onde a acidez é bem menos intensa. Portanto, além de produzir substâncias contra a acidez, a H.pylori consegue penetrar no estômago até locais onde o ambiente é menos agressivo.Contágio
O modo de contágio da H.pylori ainda não é plenamente conhecido. Sabe-se que a transmissão pode ocorrer de uma pessoa contaminada para uma pessoa sadia através do contato com vômitos ou fezes, este último geralmente sob a forma de água ou alimentos contaminados.A água contaminada, principalmente nos países em desenvolvimento, costuma servir como uma fonte de bactérias. A H.pylori consegue permanecer viável na água por vários dias. Nos países ainda sem saneamento básico universal, a maioria das crianças é infectada antes dos 10 anos e a prevalência na população adulta chega a ser maior que 80%. Nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e na Europa, a contaminação em crianças é incomum, porém a transmissão na vida adulta é frequente, onde mais de 50% da população acima de idade 60 anos encontra-se infectada.
Quando um membro da família se infecta com a Helicobacter pylori, o risco de transmissão para os filhos e cônjunge é altíssimo. Esta transmissão é comum mesmo em casas com boas condições de higiene, o que coloca em dúvida se a transmissão ocorre sempre pela via fecal/oral. A transmissão através da saliva ainda não está comprovada.
Consequências
Como já citado, a H.pylori costuma se alojar na parede do estômago, logo abaixo da camada protetora de muco. Essa camada é essencial para proteção do estômago, impedindo que o ácido clorídrico agrida a mucosa. O problema é que a bactéria H.pylori produz uma série de enzimas, algumas delas diretamente irritantes para as células do estômago, outras ativas contra a camada de muco, tornando-a mais fraca, deixando a parede do estômago desprotegida contra o conteúdo ácido. Estas ações provocam inflamação da mucosa estomacal, levando à gastrite e, alguns casos, à formação de úlcera péptica e até de tumores.Sintomas e diagnóstico
A grande maioria dos pacientes contaminados pela H.pylori não apresenta nenhum tipo de sintoma ou complicação. Há ocorrência de sintomas apenas em poucas pessoas contaminadas. Os pacientes contaminados que apresentam queixas o fazem, muitas vezes, pela presença de gastrite ou úlceras pépticas provocadas pela bactéria. Nestes casos, os sintomas mais comuns são: dor ou desconforto, geralmente tipo queimação e na parte superior do abdômen; sensação de inchaço na barriga; saciação rápida da fome, geralmente depois de comer apenas uma pequena quantidade de alimento. No caso de úlceras, os seguintes sinais e sintomas também são comuns: náuseas ou vômitos; fezes escuras; anemia.Se o paciente não apresenta gastrite nem úlceras, a simples presença da H.pylori não pode ser responsabilizada por sintomas como dores estomacais. Apenas como exemplo, estudos mostram que somente um em cada 14 pacientes com queixas de queimação estomacal, sem gastrite ou úlcera documentadas na endoscopia, apresentam melhora com o tratamento para a H.pylori.
Atualmente, existem vários métodos para se diagnosticar a presença dessa bactéria. Existem testes não invasivos, que são feitos através das fezes, sangue ou da respiração. Porém, nos pacientes que se queixam de dores estomacais, a endoscopia é importante para avaliar o estado do estômago, servindo também para o diagnóstico de gastrites, úlceras ou tumores.
Pacientes com menos de 55 anos, que apresentam queixas de queimação estomacal, sem sinais que possam indicar um tumor ou úlceras ativos, podem ser submetidos a um teste não invasivo, visando tratamento caso sejam positivos para H.pylori. A endoscopia fica indicada apenas se não houver melhora dos sintomas com o tratamento.
Tratamento
O tratamento para a H.pylori é habitualmente feito com três drogas, por 7 a 14 dias. Recentemente, as indicações para tratamento foram expandidas a quem possui gastrite, úlcera gástrica e/ou duodenal, linfoma MALT gástrico, parentes de primeiro grau de pacientes com câncer gástrico, anemia por carência de ferro sem causa aparente, púrpura trombocitopênica idiopática, pacientes em terapia de longo prazo com anti-inflamatórios, que têm sangramento gastrointestinal e / ou úlcera péptica.Após quatro semanas do fim do tratamento, o paciente pode realizar os testes não invasivos para confirmar a eliminação da bactéria.
Fonte: MD Saúde
(www.mdsaude.com)