Pessoalmente não acredito que fofoca ou ficar malhando essa ou aquela atitude de brasileiros dentro da nossa comunidade tenha nenhum efeito positivo. Certamente que todos temos que trocar informações e tentar, na medida do possível, evitar as armadilhas naturais que constantemente nos levam a sofrer golpes dentro da própria comunidade.
Mas tudo, creio, tem limite.
De quando em quando a comunidade brasileira é palco de golpes ou arena de jogadores inescrupulosos que, à moda dos bandidos à deriva, tentam de todas as formas obter vantagens ou lucros das formas mais espúrias e canalhas.
É bem verdade que a comunidade tem amadurecido bastante. Houve um tempo em que o índice de picaretagem era altíssimo. O imigrante de uma maneira geral “reinventa” sua biografia quando chega aos Estados Unidos. E como “currículo” cada um escreve no papel o que bem entender, até por acreditar que ninguém vai “checar” as “informações” alí prestadas, a trajetória desses picaretas e sanguessugas que saem do Brasil para aplicar golpes no exterior, muitas vezes é tremendamente facilitada.
“171” é o número de artigo do Código Penal Brasileiro que define o estelionato em todas as suas formas. Da falsidade ideológica à falsificação de documentos, da apropriação indébita à propaganda falsa.
Por conseguinte, é natural que “171” tenha virado uma piada nacional, um termo consagrado pelo povo brasileiro para definir o cascateiro de plantão, o “armador” profissional ou amador, que vive de arquitetar, desde os golpes mais elaborados, que lesam pessoas em dezenas ou até centenas de milhares de dólares, ao “picareta pobre” que vive de pedir 10, 20 dólares emprestados e nunca paga a ninguém. Some, reaparece, inventa um sofrimento de ocasião, mata a mãe 10 vezes por ano ou anuncia o lançamento de um novo “jornal” que vai “arrebentar”.
Mas não vou gastar muito papel e tinta com esses perdedores. Eles sempre existirão, fazem parte, como diz meu amigo Luiz Claudio, da “condição humana”.
Quero dedicar esse editorial a alguns empresários da nossa comunidade, pequenos, médios e grandes, que por razões as mais diversas, “alimentam” a rotina doentia dos golpes, muitas vezes eles mesmos atraídos pela ilusão de ganhos exorbitantes e ultra-rápidos, bem ao gosto da ideologia do Brasil inflacionário, onde a idéia de trabalhar duro para conseguir algo é uma piada de salão.
Pois bem, na semana passada durante um jantar num conceituado restaurante brasileiro, ouvi o “choro” de um desses empresários que se dizia lesado por um recente episódio na área de comunicação em nossa comunidade. Prá bom entendedor, meia palavra basta e os que ficarem sem saber, vão me perdoar porque não vou dar espaço para quem não merece sequer ser mencionado, até porque nem conheço.
O fato é que esse pequeno empresário estava desolado por ter “apostado” numa dessa picaretagens de ocasião. “Como é que eu ia adivinhar, Carlos Borges? Tudo parecia tão direito...”
No mundo em que vivemos não há mais espaço para ingenuidades. Paga-se um preço alto por achar que oportunidades “de ouro” caem do céu. Muita gente se ilude quando vê alguém fazer sucesso numa área qualquer da comunidade. Não tem a menor idéia do quanto aquela pessoa suou, sofreu e “ralou” para alcançar aquela pequena posição de destaque financeiro ou social. São os que querem “cortar caminho” e “aproveitar as oportunidades a qualquer preço” que se tornam aliados cobiçados pela “Galera 171”.
Apesar de me sentir ligeiramente penalizado pelas perdas do empresário, que diga-se de passagem é uma pessoa íntegra e de bom nome na nossa sociedade, não perdí a oportunidade de lembrar a ele que quem ajuda ladrão é cúmplice, e ponto final.
Seria muito proveitoso para cada empresário, individualmente, e para a comunidade brasileira como um todo, se cada “projeto arrojado” ou “idéia sensacional” que aparecesse na praça, fosse acompanhada de um mínimo de checagem. Quem é o autor do “projeto”? Que história tem, de fato, para contar e comprovar? Quais os seus antecedentes na própria comunidade? Quem o está apoiando? Qual a base real de suas idéias e propostas?
Como a pressa, a despreocupação e a ignorância se impõe em muitos desses casos, a “Galera 171” segue fazendo das suas e deixando empresários, como esse meu amigo “chorão” da semana passada, em maus lençóis. Perdeu ele e perdemos todos nós, os que lutamos por mais seriedade e credibilidade na comunidade brasileira.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, diz o sábio ditado. Serve pelo menos de consolo.
Mas para quem encara o dia a dia de construção da imagem brasileira nos Estados Unidos, essas “pedras no caminho” às vezes causam muitos aborrecimentos. Quem sabe de tanto levar topada, esses empresários-cúmplices da picaretagem organizada pensem duas vezes quando o próximo zé-mané bater na sua porta pedindo 300 dólares para aquele “grande projeto que vai revolucionar, abalar Bangú, arrebentar a boca do balão”.
O que arrebenta, de verdade, é o bolso do incauto empresário da nossa comunidade.